Dirceu Antonio Ruaro
Amigos leitores, no texto da semana passada abordei questões relacionadas à pesquisa divulgada pela Fundação Lemann no dia 30 de julho e, uma das que chamaram muito a atenção de educadores, de modo geral, é a situação de que “60% sentem falta do convívio social e dos amigos”.
Isso pode demonstrar o quanto o relacionamento interpessoal e a afetividade são importantes para crianças e adolescentes. Melhor dizendo, isso pode reforçar a importância de se ter amigos e, com eles manter relacionamentos e afetividade saudáveis.
Certamente que nós, educadores e pais, sabemos da importância da afetividade tanto nos relacionamentos familiares quanto escolares e, compreendemos o quanto nossos filhos e alunos, estão, nesse momento “carentes” desses afetos tão caros a eles e a nós todo.
Ao vislumbrar uma pequena luz no final do túnel, pois a pandemia não acabou ainda e, precisamos manter todos os cuidados possíveis pois novas “cepas” se anunciam, as famílias recomeçam os encontros com um pouco mais de familiares. O núcleo familiar se expande e é natural que a afetividade aflore por meio de abraços e beijos.
Os especialistas recomendam que, ainda, se deve manter um afastamento ou distanciamento social e, mesmo entre familiares, tomar os cuidados recomendados pelas autoridades sanitárias.
Enquanto já se pode “expandir um pouco” os relacionamentos familiares e escolares, é bom que todos tenhamos em conta que, ainda não estamos “liberados” dos cuidados e temos, sim, de manter os devidos distanciamentos e cuidar dos gestos afetivos para que não venhamos a ter dissabores futuros por causa de “um pouco mais de bom senso e cuidado”.
Sabemos que na família e, na escola, não é tão fácil “conter a afetividade”. A vontade de beijar, abraçar com força, sentir os familiares e amigos bem próximo do peito é um desejo quase incontrolável e beira a um grande desafio.
Sabemos, como educadores, que as relações interpessoais na sala de aulas são irrigadas pelo afeto ou melhor, são exercidas com afeto, pois esse é o elemento fundamental das relações humanas. E, na aprendizagem, essa relação afetiva dá sentido à interação entre professor e alunos, como também, entre alunos.
É de extrema dificuldade controlar afetos num retorno à “quase normalidade” nos encontros familiares, assim como, na sala de aula. Quando a gente percebe, já abraçou. Por isso, o uso contínuo de máscaras, de higiene das mãos e dos objetos deve ser muito incentivada, tanto em casa, quanto na escola.
Muitos consideram que as relações afetivas puderam ser mantidas pelas redes sociais no período mais devastador da pandemia. Na realidade, não é bem assim. Por melhores que tenham sido os “encontros virtuais”, na verdade, não conseguiram substituir a presencialidade, o calor humano, o olho no olho, o abraço apertado.
Isso deixa comprovado que, como ferramenta de comunicação, a rede social, a internet em si é uma ferramenta fantástica, é uma nova forma de interação entre professor e alunos e entre os alunos também, mas não conseguiu substituir o que temos demais profundo: o encontro das pessoas (encontro de almas, se quiserem).
Como ferramenta, a internet proporciona a quebra de barreiras, de fronteiras e remove a mesmice e o isolamento da sala de aula, acelerando a autonomia da aprendizagem dos alunos em seus próprios ritmos. Porém, não pode ser considerada educadora e, nem substituta da afetividade humana pois é apenas um instrumento nas mãos de quem a utiliza.
Os dados da pesquisa da Fundação Lemann, dizendo que 60% das crianças e adolescentes sentiram falta do convívio social e dos amigos, nos leva a considerar como fundamental, no processo de humanização das pessoas, as relações interpessoais da sala de aula, sejam com professores ou com os colegas e, entender que elas contribuem não apenas para o crescimento intelectual, como de maneira muito expressiva, para questões pessoais pois, os relacionamentos afetivos interpessoais levam à possibilidade de vivência singulares e diversas, com pessoas singulares e diferentes construindo-se um clima favorável para a aprendizagem e o ensino.
Essa atmosfera da sala de aula, do encontro, da aceitação, da confiança, é extremamente favorável e, necessária, à aprendizagem. É reveladora a situação humana do afastamento, a falta dos amigos, do convívio social que, não foi substituído pelas redes sociais.
Pais e educadores devem tomar partido disso, educando para a solidariedade, para a harmonização de ideias, aceitação de diferenças, criando uma atmosfera mais favorável à humanização das crianças e adolescentes, nesse momento em que sentem “prazer por estar de volta” nos encontros familiares e nas escolas, pense nisso, enquanto lhe desejo boa semana.
Doutor em Educação pela UNICAMP, psicopedagogo clínico-institucional e assessor pedagógico da Faculdade Mater Dei
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