Dom Edgar Xavier Ertl
Jesus dá de comer a cinco mil pessoas. Esse é o contexto do Evangelho de onde a Igreja inspira-se para o tema da Campanha da Fraternidade de 2023, cuja temática principal é o flagelo da fome. Jesus está num lugar despovoado, todavia, a multidão busca-o. Jesus sentiu compaixão da multidão e curou os enfermos. O texto-base descreve que Jesus “se enche de compaixão. Quer dizer que a compaixão ocupa todo o ser de Jesus, faz parte de sua essência. Compaixão significa um comover-se no mais profundo do ser – as vísceras ou entranhas. Não se trata de um mero sentimento, mas de ação libertadora” (nn. 20-21). Ter compaixão das pessoas, segundo o texto, então, é sofrer juntos, pensar o que podia ser feito por elas, naquele exato momento. A fome não espera. Ela é do momento presente. Estou com fome. Não tenho o que comer.
Ao final da jornada, na hora do jantar, os discípulos foram dizer-lhe: “O lugar é despovoado e a hora é avançada; despede as pessoas para que vão às aldeias comprar alimentos” (v. 15). Responde o Mestre: “Não precisam ir; dai-lhes vós de comer”. Ele não quer que a multidão vá embora com fome. O que tinham os discípulos? Cinco pães e dois peixes. Ou seja, quase nada. O número baixo de mantimentos não preocupa o Mestre. Diz-lhes: “Trazei-os aqui”. A partilha do alimento maravilhoso, comumente chamada multiplicação dos pães, é narrada nos 4 evangelhos, e duas vezes em Mateus e Marcos. Jesus age como o novo Moisés e como profeta. Antecipa, outrossim, o alimento eucarístico. Assim interpretou a tradição bíblica católica.
Partilha e solidariedade
A multiplicação dos pães e peixes é um gesto profético de Jesus. Deve ser um gesto profético da Igreja do Brasil e da Diocese de Palmas-Francisco Beltrão. Jesus põe em prática o que já os profetas falaram, sobretudo, Isaías, quando da saída do povo do Egito, do grande exílio, com fome e sede. A multiplicação do pão material mostra que Jesus nos alimenta com o pão que vem de Deus, sua palavra, a mensagem do Reino. É um gesto que inaugura o reino. O pão material é o primeiro fruto do pão da Palavra. A Palavra gera reflexão, oração, mobilização e atitudes concretas: a partilha solidária, fruto da fé e do amor oblativo.
Objetivo Geral da Campanha da Fraternidade de 2023
Sensibilizar a sociedade e a Igreja para enfrentarem o flagelo da fome, sofrido por uma multidão de irmãos e irmãs, por meio de compromissos que transformem esta realidade a partir do Evangelho de Jesus Cristo.
Objetivos específicos e permanentes
Compreender a realidade da fome à luz da fé em Jesus Cristo; 2. Desvelar as causas estruturais da fome no Brasil; 3. Indicar as contradições de uma economia que mata pela fome; 4. Aprofundar o conhecimento e a compreensão das exigências evangélicas e éticas de superação da miséria e da fome; 5. Acolher o imperativo da Palavra de Deus, que nos conduz ao compromisso e à corresponsabilidade fraterna; 6. Investir esforços concretos em iniciativas individuais, comunitárias e sociais que levem à superação da miséria e da fome no Brasil; 7. Estimular iniciativas de agricultura familiar agroecológica e a produção de alimentos saudáveis; 8. Reconhecer e fomentar iniciativas conjuntas entre comunidade de fé e outras instituições da sociedade civil organizada; 9. Mobilizar a sociedade para que haja uma sólida política de alimentação no Brasil, garantindo que todos tenham vida. E os objetivos permanentes são: 1. Despertar o espírito comunitário e cristão na busca do bem comum; 2. Educar para a vida em fraternidade; 3. Renovar a consciência da responsabilidade de todos pela ação evangelizadora, em vista de uma sociedade justa e fraterna.
Bispo da Diocese de Palmas-Francisco Beltrão
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