A maior parte das locações é feita por startups, de forma online, por prazos de dias, meses e até anos. Elas também são responsáveis pela manutenção e assistência aos produtos. Algumas têm estoque próprio, outras têm a plataforma e os itens são oferecidos por terceiros.
Para especialistas, a “revolução do aluguel”, ou economia compartilhada, tem potencial para contribuir com 30% do PIB de serviços brasileiro a longo prazo. Na avaliação de Marcos Gomes Rabelo, analista de Negócios do Sebrae/SP, o compartilhamento é uma maneira de economizar. “Se não preciso ter algo todos os dias à disposição, por que investir uma grande quantia na compra e manutenção desse bem, se posso alugá-lo só quando precisar?”
Rabelo ressalta ainda que as pessoas estão cada vez mais preocupadas com fatores ambientais e engajadas com um consumo consciente, que economiza recursos naturais e preserva o meio ambiente. Para ele, “a locação democratiza o acesso a produtos e serviços, ao mesmo tempo que possibilita ganho extra de renda para quem compartilha”.
Após 147 anos no ramo de produção e venda de móveis, a Riccó entrou, há quatro ano, na área de locação corporativa para ambientes de trabalho. O negócio estava a todo vapor quando veio a pandemia. Com o home office, empresas devolveram quase 6 mil conjuntos alugados de mesas e cadeiras.
Paralelamente, a Riccó passou a receber demandas de móveis para o home office do consumidor comum e de empresas alugando para os funcionários. Também chegaram pedidos de sofás, poltronas, mesas, berços e cômodas. O novo nicho levou o grupo a criar, em fevereiro, a Spaceflix, empresa focada na locação ao consumidor final.
Na opinião de Fábio Riccó, diretor geral da empresa, há uma mudança na forma de consumir, principalmente entre os jovens. “O intuito é pagar pelo uso do móvel em vez da posse, pois querem ter liberdade para, quando precisarem mudar, não ter de trocar os móveis ou adaptá-los ao tamanho da nova casa.”
Neste ano, já foram alugados 2,7 mil itens para home office e foram feitos 110 contratos para outros itens como mesas, sofás, quadros de parede e berços. A maior parte dos móveis é produzida na própria fábrica da Riccó.
A Aluga.com atua com equipamentos para informática e dobrou seu faturamento nos últimos 12 meses. Há seis meses, o fundador Ricardo Marcelino precisou adquirir 600 notebooks, ampliando a oferta para 5 mil aparelhos, de um total de 15 mil itens para locação. Antes voltada à locação empresarial, a startup começou a atender também pessoas físicas, grupo hoje responsável por 5% dos aluguéis.
EM CASA, CRIANÇAS EXIGEM BRINQUEDO NOVO
Há sete anos no mercado de locação de brinquedos para bebês de até quatro anos, a Okipoki passou a receber consultas para a faixa de cinco a seis anos de pais de crianças que estão na pré-escola e tiveram de ficar em casa.
A proprietária Denise Della Nina Andrade correu para adquirir outros itens e atender à nova demanda. “Tínhamos três escorregadores e agora temos 15”. Ela teve também de aumentar a equipe nas áreas de entrega e de limpeza dos brinquedos.
A higienização que faz nos seus produtos virou um serviço para terceiros. Em um ano, o faturamento do negócio cresceu 30% e os gastos extras na compra dos novos itens foram recuperados. Só para bebês a Okipoki tem 300 brinquedos que podem ser locados por 14 dias a oito semanas.
COM PANDEMIA, É PRECISO SOFÁ MAIS CONFORTÁVEL
Primeira empresa de móveis por assinatura no Brasil, a Tuim tem quase tudo o que as pessoas precisam em móveis e eletrodomésticos. Entre os 150 produtos disponíveis, estão sofás, tapetes, geladeira, camas, mesas e cadeira ergonômica. Pamela Paz, criadora da startup, diz ter hoje cerca de 500 assinaturas ativas, algumas com locação de um produto e outras de apartamentos completos. A assinatura varia de 2 a 36 meses.
Segundo ela, não é possível avaliar o reflexo da crise no negócio, que iniciou operação no fim de 2019. Mas diz que a pandemia trouxe visibilidade para a Tuim. “Muitos precisaram de móveis para home office e houve movimento grande de pessoas que nunca ficaram em casa tanto tempo e começaram a perceber, por exemplo, que o sofá não era tão confortável ou que precisavam de uma lavadora.”
SE GOSTAR DA ROUPA, PODE ATÉ FAZER UMA OFERTA
Isabel Braga Teixeira passou dois anos no Vale do Silício e voltou ao Brasil em 2015 com o propósito de criar uma startup de compartilhamento de itens de luxo. Começou alugando seu acervo próprio, depois ampliou para outros itens como bolsas, acessórios, óculos e roupas para esqui disponibilizados por terceiros.
A Closet BoBags se transformou em um marketplace, com 2,5 mil itens disponíveis e 40 mil clientes cadastrados. Tem escritórios no Rio e em São Paulo. “Nossa oferta de produtos aumentou cinco vezes em relação ao ano passado”, diz Isabel.
Na pandemia ela decidiu combinar a locação com a venda. A pessoa aluga o produto e, se gostar, pode fazer um oferta de compra. Hoje, 80% da receita da empresa vêm do aluguel e 20% das vendas.
TUDO PARA EVITAR APERTO NA HORA DAS VIAGENS
Luciano Bello sentiu na pele o que é programar uma viagem de fim de semana e não poder levar tudo o que precisa, pois metade do porta-malas do carro foi ocupado pelas coisas do bebê. Pensando na situação, criou a Volume4Trip para locação de bagageiros, suporte de bicicletas, rack para tetos e cadeirinha infantil.
A startup entrou no mercado em dezembro, após ser escolhida para um programa de aceleração do Sebrae. O modelo é o de compartilhamento: o proprietário coloca itens para locação quando não está usando. A plataforma fica com 30% do valor do aluguel. Um bagageiro de teto custa de R$ 5 mil a R$ 7 mil. A locação diária custa de R$ 40 a R$ 50. Por sugestão dos clientes, Bello estuda ampliar a oferta de produtos e oferecer, por exemplo, motorhomes – “mercado que tem crescido muito na pandemia”.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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