Dirceu Antonio Ruaro
Como disse no final do texto da semana passada, desculpo-me por esta homenagem ser tardia, porém, o alerta que fizemos aos pais e educadores era urgente e necessário.
Muitos de nós, temos histórias que se entrelaçam com a história da educação brasileira.
Assistimos, desde os anos 1930, avanços e retrocessos enormes na profissão de professor. O Manifesto dos Pioneiros da Educação, de 1932, pedia “… a incorporação dos estudos do magistério à universidade, a equiparação dos mestres e professores em remuneração e trabalho…” lá se vão 89 (oitenta e nove anos) e pouquíssima coisa mudou na profissão.
Em 1964 tem início a Escola Tecnicista, e o modelo americano é instituído em nosso país. O profissional da educação não podia ensinar a pensar, a criar e a grande tônica era a individualização da pessoa.
Em 1983 surge a “Escola Crítica” com os ideais de o profissional professor ser o educador que deveria orientar o contorno da aprendizagem com participação real do aluno. Na Escola Crítica deveria haver articulação e interação entre o educador e o educando, sendo empregados todos os contornos que possibilitavam a apreensão crítica e reflexiva dos conhecimentos com enfoque na construção e reconstrução do saber.
Nos anos 1990, as alterações legais na profissionalização dos professores, foram permeadas pelas exigências dos organismos multilaterais, efetivando-se, ainda que com resistências, as indicações deles emanadas. A conceituação no campo da formação tem sido articulada com medidas do Banco Mundial, da Unesco e da Cepal que veem no professor, protagonista da modernização, um sujeito a ser profissionalizado, exigindo-se lhe um “saber fazer” que supere o descompasso entre sua prática de ensino e a vida.
Os anos 1990, trouxeram avanços que foram se consolidando tornando possível uma referência mais adequada à profissão – exigindo um tratamento de professor-profissional – que, na verdade ainda se estabelece em algumas regiões do país.
Certamente está na lembrança de todos nós, profissionais-professores, o tratamento de excelência recebido por “certas” autoridades nacionais e, de modo particular, por autoridades estaduais, especialmente nas greves dos anos 90, com cavalaria e tudo mais. São águas passadas, sim, mas marcas indeléveis na memória de quem sustentou a educação pública, aqui no Estado do Paraná.
Evidentemente que somos a favor da profissionalização, da formação universitária, de re-profissionalização em muitos casos, mas que seja de uma forma conectada com a vida e o trabalho do profissional-professor.
Com solavancos, muitos doloridos, chegamos ao “maravilhoso mundo novo” do século XXI.
A tecnologia desponta como “aliada” do profissional da educação, mas não se enganem, a tecnologia pela tecnologia não permite a construção de um saber dialógico, a interação e a transmissão de emoções.
Observo, com apreensão, que espaços e tempos antes preenchidos pela “presencialidade” são agora movidos pela tecnologia.
Não é a tecnologia em si que o profissional-professor precisa temer.
Mas, deve temer o uso inadequado da tecnologia. Uso que pode provocar a individualização do ser humano, tornando-o espectador e talvez um indivíduo sem estímulo para superar barreiras, com raríssimas oportunidades de “troca” como ocorre na presencialidade.
É preciso ter em mente que o profissional-professor exerce um papel insubstituível na formação humana dos alunos, pois a profissão exige muito mais do profissional do que “dar aulas”.
O “profissional-professor” do século XXI precisa dominar as técnicas e as tecnologias, sem sombra de dúvidas, até para que a profissão sobreviva e se transforme, transformando por via de consequência a formação da nossa sociedade.
Por isso, o profissional-professor nesse maravilhoso mundo novo do século XXI deve agir nos pilares da educação ensinando a ser, ensinar a conhecer, ensinando fazer e ensinando conviver.
Ora, se a própria UNESCO reconhece o “saber conviver” como um dos pilares da educação do século XXI, então é de se esperar que a educação alie e entrelace tecnologia com presencialidade, tornando, de fato, o profissional professor, um agente de transformação social, afinal de contas esse profissional não é considerado pelas mídias, inclusive por autoridades federais, estaduais e municipais como o “profissional que forma todas as profissões”?
Se, de fato, os profissionais da educação forem assim considerados e tratados, é possível desejar, a qualquer época Feliz dia do Professor, pense nisso, enquanto lhe desejo boa semana.
Doutor em Educação pela UNICAMP, psicopedagogo clínico-institucional e assessor pedagógico da UNIMATER
Os comentários estão fechados, mas trackbacks E pingbacks estão abertos.