Nosso amado Brasil vive longe das guerras que varrem muitos países, que destroem o meio ambiente, que ceifam vidas inocentes todos os dias, sim muitos simploriamente se gabam de o Brasil ser uma nação livre de tantos males que afligem a contemporaneidade, de que aqui temos o famoso, mas não menos famigerado “jeitinho brasileiro”, de que aqui há saída para o que der e vier. Ingenuamente acredita-se que o Brasil é um país modelo para qualquer outro, mas deliberadamente esquecemos as sombras que por aqui pairam de modo constante, notamos um Brasil muito mal resolvido com o seu passado e pior ainda com o seu presente, não vamos nem entrar em detalhes quanto ao seu futuro. Nosso portentoso país, deveria antes, ser mais humilde, mais sincero consigo mesmo, mais pé no chão; suas mensagens abarrotadas de um ufanismo irreal não condizem com a realidade.
Uma dessas enormes sombras que ultimamente tem tomado conta de norte a sul, de leste a oeste chama-se dengue, que por sua vez é transmitida pelo famoso mosquito Aedes Aegypti, ao que tudo indica, de procedência africana e hoje bem adaptado em quase todos os países, em especial aqueles que tem em sua base o clima tropical e subtropical. No Brasil, onde há enormes conglomerados urbanos, o mosquito transmissor vem vivendo e convivendo de modo satisfatório já há várias décadas. No mundo, a atuação do mosquito, perde-se nas brumas da história humana, mas é somente após o fim da Segunda Guerra Mundial que tudo muda e a proliferação se alastra; ali começou um novo capítulo da vida humana, um novo tipo de relação entre humanos e o meio ambiente começou; sabemos bem que essa relação nunca foi pacífica, culminando com muitas mazelas nos dias atuais.
Não muito tempo atrás, um relatório da ONU, advertiu que tudo está ligado a tudo e que com as doenças e pandemias acontece o mesmo, no epicentro de tal constatação, está a gravíssima crise climática, o uso indiscriminado dos recursos naturais, a expansão sem cautela para muitas fronteiras desconhecidas, hoje é sabido comprovadamente que a maioria das doenças virais vieram de certos animais e encontraram nos humanos seu habitat perfeito, com a dengue não foi absolutamente nada diferente. A relação do Brasil com o meio ambiente também nunca foi das melhores, portanto a crise que enfrentamos hoje em relação à dengue é antes de tudo um péssimo convívio entre as pessoas e o seu entorno, por aqui sempre imperou a vontade humana em expandir, ir em frente, pois a natureza deveria ser domada a qualquer custo, que no final seríamos sim os vencedores.
Dengue: uma vergonha monumental, dengue: um país em polvorosa por causa de um mosquito, dengue: doença aparentemente banal e corriqueira, vem espalhando medo, incerteza e muita dor ao povo brasileiro, ela tem a triste capacidade de pôr um país de joelhos. Ainda estamos abordando um tema altamente complexo, de modo simplório demais, por outras palavras, como se o problema fosse com o outro e não comigo, quando na verdade é um tema que diz respeito a todos nós. A dengue fez sua morada no Brasil por perceber que por aqui amamos muito pouco a nossa terra, que aqui somos acostumados a emporcalhar o meio ambiente com o lixo de produtos que nos empanturramos dia e noite; temos tido medo em ir até a raiz desse problema, porque se isso um dia acontecer, então o nosso estilo de vida será alterado drasticamente e para isso ninguém está preparado.
Bioeticamente, a dengue é um tema muito sério para ser tratado com leviandade por muitas pessoas, a esses negacionistas é bom que fique claro, ou seja, que a dengue mata, ela não escolhe cor, raça, posição social ou religião, ela é mais um dos inúmeros flagelos que precisamos enfrentar, precisamos também nos conscientizar que sem nos darmos as mãos, essa e tantas outras pragas, nunca nos deixarão em paz. Exercícios simples como reavaliar a relação entre nós humanos e a natureza é fundamental, que o clima, a biodiversidade e as inúmeras patologias se interconectam, queiramos ou não. Precisamos ter em mente que precisamos de modo constante nos prevenir, ou seja, em nossos lares está a salvação e a perdição, no sentido de que se mantivermos uma educação constante conosco mesmos e com os demais, esse flagelo terá cada vez menos chance de vencer.
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