Dirceu Antonio Ruaro
Prezados leitores, na semana passada, falei de alguns desafios da sala de aula contemporânea. Disse da importância da formação de professores para compreender às manifestações comportamentais de nossas crianças especialmente, no ambiente da sala de aula.
Pois bem, quero no texto de hoje, dirigir-me mais especificamente aos pais, não que os professores não devam estar atentos à situações que desejo refletir nesse dia.
Lembro que, na educação familiar, até os anos 70 do século XX, pelo menos, aprendíamos que “toda vez que causássemos algum ‘prejuízo’ ou mal-estar nas relações interpessoais, deveríamos, o mais breve possível reparar o ‘engano’”.
Era muito comum os pais enfatizarem que o comportamento pessoal não poderia, jamais, prejudicar o comportamento da família e dos amigos da escola.
Por isso, era muito importante que cientes de alguma coisa inadequada, fosse no sentido afetivo, social ou profissional, deveríamos nos preocupar em encontrar medidas para solucionar o mal-estar ocasionado.
Nossos comportamentos sociais eram muito bem regrados e sem desmerecer as iniciativas atuais de consideração dos “diferentes”, naquela época, o sentido da educação era de considerar “todos com os mesmos direitos e deveres”. Aliás, os deveres eram muito bem sublinhados.
Hoje, ao contrário do que vivemos nas décadas de 60-70 e 80 do século passado, parece que a ideia dos “direitos” é muito superior à ideia dos deveres. Ou seja, a sociedade parece que enveredou para a ideia de direitos em detrimento aos deveres.
Isso, na educação familiar e escolar, bem como, na sociedade em geral, é pernicioso à formação e desenvolvimento das crianças e adolescentes, pois apresenta-se a ideia de uma sociedade de direitos sem os deveres correspondentes.
Por isso, ações impensadas, agressivas e/ou inconsequentes, deveriam de pronto ser reparadas por quem as cometesse, de forma que a harmonia voltasse a ser o ponto central das relações quer familiares, escolares ou sociais.
Contextualizei tudo isso porque observamos hoje, nas famílias e nas escolas, uma escalada de comportamentos agressivos que vem se multiplicando diariamente tornando o convívio familiar/escolar/social muito complexo.
Observa-se que, diariamente, os noticiários trazem situações de reações descontroladas que desorganizam os ambientes familiares e escolares. Agressões verbais e/ou físicas, parecem ser rotina nas relações interpessoais das famílias e das escolas.
Diante disso é importante que, tanto os pais quanto os educadores estejam atentos aos comportamentos das crianças e adolescentes, especialmente quanto a um conjunto de normas e regras familiares e sociais.
Temos, em excesso, crianças que desobedecem aos pais e aos educadores pelo simples fato de alegarem que têm “direito” de fazer o que quiserem.
Observamos que, há sérios problemas de reação excessiva aos processos rotineiros de educação familiar e escolar.
São crianças e adolescentes que não apresentam nenhum receio de discutir com os pais e/ou educadores num nível de igualdade jamais visto, desrespeitando de modo sistemático “qualquer autoridade” que tente lhes impor um sistema regrado de convivência.
Pais e educadores precisam estar atentos ao modo como as crianças e adolescentes reagem às situações do cotidiano. Se respondem rispidamente ao serem contrariados, além de não “dar sossego” às pessoas com quem convivem na família e/ou na escola.
É preciso, tanto na família quanto na escola, observar se a criança apresenta comportamento muito irritado, reativo e/ou impaciente nas situações cotidianas de convivência pois poderão desenvolver sérias dificuldades de inserção social, convivência familiar e escolar.
Os pais, primeiros educadores, devem estar atentos para observar, compreender, interpretar e agir nos casos de comportamentos inadequados para que, no futuro, a criança não seja preterida (deixado de lado) nas relações familiares e/ou escolares.
Penso que é preciso observar muito profundamente os comportamentos de nossos filhos e educandos, especialmente os que apresentam algum tipo de reação explosiva diante de qualquer contrariedade e/ou diante de qualquer “não” que os pais/ educadores digam.
Muitas crianças/adolescentes agem como se fossem o “centro do universo” e é importante que diante dessa constatação, os pais/educadores tomem providências urgentes mostrando aos filhos/educandos que são “sujeitos de direitos” quanto são “sujeitos de deveres”. Mostrando que ninguém é obrigado a suportar uma “pessoa mal comportada”, mal-educada, mal-humorada. Que é preciso ter comportamento interior adequado para poder ter comportamento exterior adequado.
De nada adianta considera-los “ovelha negra”, “filho ou aluno que dá mais trabalho” ou ainda “fontes das maiores dores de cabeça”. É preciso agir enquanto é tempo e ajudar essas crianças a “superarem” suas dificuldades de comportamento para que possam ser parte de uma família/escola/sociedade que sabe viver e conviver em harmonia, pense nisso, enquanto lhe desejo boa semana.
Doutor em Educação pela UNICAMP, Psicopedagogo Clínico-Institucional e Pró-Reitor Acadêmico UNIMATER