Dirceu Antonio Ruaro
Amigos, no texto da última quinta-feira, abordando o tema família e escola, afirmei que ambas “não são terra de ninguém”. Disse isso porque, na prática, sabemos que tanto uma instituição quanto a outra tem sim, seus fundamentos, suas maneiras de ser e sua organização. E, como em qualquer organização, existe uma forma de hierarquia. Por isso, hoje, dedico minha reflexão ao líder da sala de aula e sua formação.
Na escola a hierarquia se dá pela organização da direção, dos setores e, especialmente da sala de aula. Logicamente que sei que, na sala de aula, há muito que se fazer para se reconquistar o papel do professor como líder de um espaço absolutamente complexo e tremendamente humano.
A sala de aula precisa de profissionais capacitados, competentes e habilidosos, desarmados (em todos os sentidos) comprometidos com a humanização das relações interpessoais para ajudar seus alunos se formarem como seres humanos que veem o outro ser humano como alguém que é tão importante quanto a si mesmo e que tem os mesmos direitos e deveres.
A sala de aula de hoje necessita de profissionais que saibam entender o “mundo virtual” de nossas crianças e adolescentes e ajudando-os a interagir com uns com os outros, pois mesmo na Era Robótica o ser humano precisa estar cada vez mais humanizado.
A sala de aula precisa de professores com competências e habilidades para ajudar nossas crianças e adolescentes a entender que existe o concreto e o abstrato, o real e o virtual e que a vida, a vida mesmo se dá no plano real.
Essas questões são de absoluta complexidade. Se tempos atrás a preocupação era basicamente com a aprendizagem dos conteúdos acadêmicos, especialmente para “passar no vestibular”, hoje a preocupação do professor com a sala de aula ganha uma dimensão extremamente grande.
A sala de aula é, de fato, a grande complexidade da sociedade em miniatura, pois ainda não está madura o suficiente para entender relações que exigem firmeza para não cair na tentação do “mundo fácil”, da droga, da inconsequência.
Se a sala de aula já foi considerada como um local seguro, neste maravilhoso “mundo novo” do século XXI, já não é mais. Hoje é fácil “aliciar” adolescentes e jovens para o consumo, comércio e distribuição de drogas e álcool.
Essa realidade social faz com que a formação de professores seja muito especial para poder enfrentar “poderes” e “organizações” que mostram aos nossos adolescentes e jovens, um fácil de entrar, mas que quase nunca tem saída.
Há que se pensar numa formação de professores e gestores escolares com capacidades, competências e habilidades para a formação de adolescentes e jovens que entendam que é preciso se responsabilizar pela sua saúde física e emocional, cuidar de sua identidade, ter boas condutas, evitar o vício e as seduções do mundo por meio do “ganho fácil”.
Há que se pensar que os professores precisam “agir com urgência” para que possam auxiliar crianças, adolescentes e jovens a não entrarem num mundo de inconsequências, vendendo sua liberdade ao crime e ao consumo de álcool e outras drogas.
Há que se pensar em formar professores para agir na urgência da formação de crianças, adolescentes e jovens que precisam aprender a respeitar sua própria identidade e alicerçar-se em bases sólidas para que possam ter, de fato, um futuro promissor.
Há que se pensar numa formação de professores que saibam ensinar as crianças, adolescentes e jovens, sem medo de errar, sobre o efeito devastador das contravenções, que têm encurralado e destruído tantos e tantos filhos e famílias.
Penso na formação de professores não apenas para que saibam utilizar “metodologias atrativas” de ensino e aprendizagem. Mas que saibam também, ensinar que a manipulação da própria mídia, dos amigos, e dos traficantes gera um mundo sem volta.
Penso, também, que, de alguma forma, autoridades educacionais, gestores, professores e pais, deveriam traçar planos de prevenção, de ação e de contenção do consumo de bebidas, cigarros e outras drogas, ditas “inocentes”, mas que assombram as famílias.
Interessante entender que, na criancice, o medo do bicho-papão que assustava nossas crianças, que era uma fantasia usada pelos pais para “conter seus filhos”, aproxima-se agora de uma terrível realidade. Hoje, quem tem medo do bicho-papão são os pais, os educadores, as famílias quando percebem que seus filhos estão “ladeira a baixo” na direção de um mundo muito real, provocado pelo desejo imenso de sucesso de um mundo irreal, pense nisso, enquanto lhe desejo boa semana.
Doutor em Educação pela UNICAMP, Psicopedagogo Clínico-Institucional e Pró-Reitor Acadêmico UNIMATER