Por Fernando Ringel*
Para qualquer um que entenda um pouquinho de economia, a pandemia teve como agravante o medo da volta da inflação descontrolada, um trauma histórico para o Brasil. O cenário era o que muitos chamam de “tempestade perfeita”: produção prejudicada pelas restrições sanitárias em todo o mundo, enquanto todo mundo estava em casa e consumindo como nos tempos normais. Com a baixa nos estoques, a tendência era que o os preços aumentassem porque os itens eram cada vez mais raros. Para piorar, o mundo ainda ganhou de “presente” a guerra na Europa, envolvendo simplesmente um dos maiores produtores de petróleo, a Rússia, e um dos maiores de grãos, a Ucrânia. Enfim, tudo dando errado, e ao mesmo tempo.
Pois bem, as coisas realmente encareceram: arroz, banana, ovo e, obviamente, combustíveis. Além de tudo isso, existia a tensão sobre eleição, que veio e também passou. Subimos a montanha na saúde pública, na política e na economia e agora, finalmente, parece ter chegado o momento da descida. O principal indicador disso foi a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, em reduzir a taxa Selic de 13,75% para 13,25% ao ano.
Na votação, tanto o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, desafeto de Lula, quanto o diretor de Política Fiscal, Gabriel Galípolo, indicado pelo petista, concordaram em cortar a taxa em 0,5 ponto percentual.
Gato escaldado
Esse foi a primeira redução da taxa básica de juros em três anos, que apesar de tímida, tende a se tornar uma tendência. Tudo se deve à melhoria na economia, em meio aos avanços no Congresso Nacional de pautas importantes para as contas públicas, como a Reforma Tributária e o Arcabouço Fiscal.
Isso tudo é importante porque a economia é como um bicho assustado, que corre ou ataca ao menor sinal de perigo, e a inflação geralmente é apenas um sintoma de que algo está errado, uma defesa natural. Nesse caso, o aumento nos juros pelo Banco Central serviu como uma aspirina em meio a uma gripe para segurar a alta dos preços, mas como é um remédio, não pode ser tomado para sempre.
No mundo real, a queda na taxa Selic, ainda que pequena, vai começar a puxar para baixo os juros pagos, por exemplo, quando se faz um financiamento ou empréstimo. Os efeitos também serão sentidos no rendimento de quem tem dinheiro investido, na poupança, títulos públicos ou em outras aplicações.
Esse é um dos raros casos em que PT e o mercado financeiro comemoram ao mesmo tempo, mais uma etapa no longo e tortuoso caminho de Lula em seu terceiro mandato. Boa notícia para todo mundo porque, assim como na bandeira nacional, para funcionar bem, a economia também precisa de “ordem e progresso”.
*Fernando Ringel
Jornalista
Mestre em Educação
Professor universitário
@FernandoRingel
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