O tratamento para pessoas com diagnóstico de autismo é realizado em sua grande maioria e, sempre que possível, por uma equipe multidisciplinar composta por profissionais de diversas áreas da saúde e da educação, mas a terapia ocupacional tem uma função essencial, sendo ela responsável por ajudar as pessoas com o diagnóstico do transtorno espectro autista (TEA) a ter um desenvolvimento maior, melhorando a percepção do mundo e de si mesmo, além de auxiliar na presença e convívio social, fatores estes que refletem diretamente em qualidade de vida e bem-estar.
A terapeuta ocupacional, especialista em neuropediatria, Norma Dall Igna, explica que a terapia ocupacional é um campo de atuação que conta com profissionais voltados às intervenções para saúde, vida social do indivíduo e para a educação. “Considerando que o processo de aprendizagem escolar está diretamente ligado às habilidades cognitivas, a presença de profissionais da área é imprescindível nesse cenário, porque eles trabalham a inclusão do aluno a partir de alguma necessidade observada em aspectos pontuais ou associadas, tais como: transtornos em coordenação motora, múltipla deficiência, processamento sensorial, disfunção neuromotora, entre outros”, disse.
Norma conta ainda que no caso das pessoas que convivem com o Trabstorno do Espectro Autista (TEA), a terapia ocupacional se torna essencial, considerando que eles precisam de acompanhamento de especialistas para que seu desenvolvimento seja alcançado. “O trabalho que os terapeutas ocupacionais realizam é voltado para a autonomia da criança não só na vida em família, mas inclusive na escola – possibilitando a interação social, ajudando a estimular, manter e melhorar as habilidades para que as pessoas com autismo possam chegar à independência”.
Segundo o CREFITO-9, órgão regulamentador da profissão, o T.O. é responsável por promover habilidades que trarão a possibilidade de independência ao pequeno, são elas:
– Habilidades da vida diária, tais como o treinamento do toalete, vestir-se, escovar os dentes, pentear cabelos, calçar sapatos, e outras habilidades de preparação;
– Habilidades motoras finas necessárias para a realização de caligrafia ou cortar com uma tesoura;
– Habilidades motoras utilizadas para andar de bicicleta;
– O sentar adequado, percepção de competências, tais como dizer as diferenças entre cores, formas e tamanhos;
– Consciência corporal e sua relação com os outros;
– Habilidades visuais para leitura e escrita;
– Brincar funcional, resolução de problemas e habilidades sociais;
– Integração dos sentidos, realizado através da abordagem de integração sensorial com objetivo de diminuição de estereotipias.
Intengração sensorial e autismo
Segundo a terapeuta, a integração sensorial no autismo é uma das práticas mais conhecidas da terapia ocupacional. “Seu principal objetivo é ajudar pessoas com dificuldades sensoriais e, vale reforçar que esse tipo de intervenção é considerada prática baseada em evidênicas científicas que funcionam para pacientes com esse diagnóstico”, destacou.
Sobre a prática, a mesma relembra que “a definição de integração sensorial, por Ayres (1972), é: o processo neurológico que organiza as sensações do próprio corpo e do ambiente de forma a ser possível o uso eficiente do corpo no ambiente”.
“Nesta teoria é enfatizado que os déficits motores vistos na criança com distúrbio de aprendizagem e disfunções de integração sensorial são resultados de problemas no processamento de impulsos sensoriais. Disfunções nos mecanismos de IS podem estar fortemente relacionadas com as dificuldades de aprendizado, relacionando componentes da modulação sensorial (hipersensibilidade, hipossensilidade e procura sensorial) e do desenvolvimento motor de base sensorial (controle motor, mecanismos de integração bilateral e sequenciação e praxis), com o desenvolvimento cognitivo e com as dificuldades de aprendizado”, consta.
No autismo, a disfunção do processamento sensorial consta em manuais diagnósticos como um dos sintomas de autismo. “Assim podemos dizer que a Hipersensibilidade apresentada ocorre quando a pessoa sente demais os estímulos. Por isso, os sons podem ser, por exemplo, mais altos e estímulos visuais muito fortes, ou ainda, é possível identificar características de Hipossensibilidade, que neste caso, o indivíduo precisa de muito esforço para sentir qualquer tipo de estimulação. Por isso, é comum, que pessoas com essa característica estejam sempre agitadas e em movimento”, explicou.
Transtornos sensoriais
Ainda com relação à disfunção do processamento sensorial, Norma explica que essa condição pode apresentar diferentes diagnósticos dentro e fora do TEA. “Essas diferenças ajudam profissionais de terapia ocupacional e a própria família a entenderem qual tipo de intervenção sensorial vai ajudar aquele indivíduo”, disse.
Entre as classificações diagnósticas do Transtorno do Processamento Sensorial é possível mencionar:
– Transtorno de modulação sensorial: dificuldade para regular grau, intensidade e natureza das respostas dos estímulos sofridos;
– Transtorno de discriminação sensorial: gasta mais energia para identificar diferenças e semelhanças dos estímulos;
– Transtornos motores com base sensorial: dificuldade para absorver informações do próprio corpo e reagir de forma coerente com o ambiente.
“É preciso conhecer esta condição para entender as terapias de integração sensorial”, destacou a T.O.
Norma explica que para as pessoas neurotípicas, aprender a lidar com o processamento de informações sensoriais é algo automático, ou seja, ninguém precisa ensinar, pois, aprendemos sozinhos a interpretar e reagir a estímulos sonoros, visuais e de toque, por exemplo. “No caso de pessoas com autismo, esse aprendizado muitas vezes precisa ser ensinado, é aí que surge a Terapia de Integração Sensorial que só pode ser realizada por Terapeuta Ocupacional Certificado”.
Terapia na prática
Sobre o ambiente desenvolvido para a terapia de integração sensorial com o autista, a terapeuta pontua detalhes importantes que devem ser considerados. “É preciso uma sala onde a criança possa ser exposta a diferentes estímulos (visual, tátil, auditivo, vestibular/equilíbrio, proprioceptivo/consciência corporal, olfato e paladar) para trabalhar sua percepção, regulação e modulação sensorial. Assim, o local será um espaço com objetos como redes, piscinas de bolinhas, balanços, paredes de escalada e outros”, destacou.
A terapeuta ressalta também que o objetivo da terapia sensorial é trabalhar a maneira como as sensações são processadas pelo cérebro do indivíduo. “Desta maneira, é possível ajudar pessoas com autismo a entender melhor as informações que recebem e a usá-las para facilitar seu dia a dia”, disse.
Aaboradagem para TDAH
Nas crianças com transtorno do déficit de atenção com hiperatividade – TDAH o tratamento envolve abordagens individualizadas e os terapeutas ocupacionais fazem parte da equipe. “A terapia ocupacional pode tratar de déficits físicos, sociais, educacionais e organizacionais com um plano focado nas habilidades, necessidades e atividades do indivíduo. Ela foca nas habilidades que cada pessoa necessita para funcionar independentemente na vida diária. A primeira tarefa de um terapeuta ocupacional será descobrir como o TDAH impacta em casa, na escola, nas relações com outras crianças, na comunidade, e em outras áreas”, explicou a T.O.
Sobre as principais áreas em que o terapeuta ocupacional pode ser útil no tratamento do TDAH Norma destaca:
Gerenciamento de tempo: O tdah pode dificultar na habilidade de criar e executar o planejamento de uma atividade, terminar tarefas em ordem, completar tarefas dentro do prazo ou saber calcular o tempo certo a ser dedicado a uma atividade. “A terapia ocupacional pode melhorar o processamento de tempo e as habilidades de gerenciamento de tempo na vida diária”.
Habilidades de Organização: Outra área em que o TDAH pode impactar negativamente é na habilidade de organização. Terapeutas ocupacionais são especialistas na análise de atividades, isso significa observar cada atividade e quebra-la em pequenos passos e fatores de performance ou habilidades que a criança precisa para ter sucesso.
Trabalho em equipe
Para finalizar, a terapeuta ocupacional lembra que em ambos os casos, autismo e TDAH, para resultados ainda melhores, existe a indicação de que alguns tratamentos sejam realizados com profissionais de outras áreas.
“Além do papel do terapeuta ocupacional em fazer valer sua participação na vida da criança, é propor uma ação conjunta com outros profissionais, no qual ocorre um processo interativo e com bastante dinamismo a fim de identificar as necessidades manifestadas pela criança. O desenvolvimento de atividades associadas a outras habilidades é fundamental para melhorar os resultados. Os trabalhos feitos pela terapia ocupacional juntamente com as intenvenções psicopedagógicas, por exemplo, tendem a atingir respostas muito importantes no que diz respeito ao processo de aprendizagem da criança”, concluiu.
Carta aberta aos pais
Infelizmente, quando se recebe o diagnóstico, a família vive um luto profundo, um buraco negro se abre, e se vive a perda do filho idealizado. Os olhos das famílias vêem as piores coisas, todas as comorbidades possíveis são observadas, como se recebessem uma sentença de morte.
Nós profissionais, temos consciência do impacto familiar ao receber o diagnóstico de um filho, e entendemos a importância de oferecer uma ajuda rápida a vocês pais. Só o conhecimento sobre a condição pode evitar que as famílias sofram tanto pós-diagnóstico e nós estamos aqui para ajudar.
Estamos aqui também para mostrar a luz, proferir palavras de boas perspectivas, e apesar de contarmos com sinceridade a realidade que, a partir daquele momento, será vivenciada pela família, é importante deixar claro que “diagnóstico não é destino”.
Busque ajuda e orientação! Um apoio imediato de nós profissionais, poderá te orientar melhor e, em muitos casos, vai acalmar você e a sua família, mas é importante que você saiba que existe tratamento comprovado para melhorar, estimular o desenvolvimento das crianças. Nós somos especialistas, dominamos os tratamentos que propomos e acima de tudo enfatizamos que “o amor cura, não a condição do seu filho, mas a sua ferida” e, sim, existe vida depois do diagnóstico. Há esperança, em um tempo diferente que o nosso, onde todos se desenvolvem.
Esta é uma frase dita por uma mãe, que hoje quero compartilhar com vocês, ela pulsa em meu coração sempre que a dor aperta:
“ele é o seu filho, ele não é uma condição, ele continua sendo o seu filho”.
Portanto, abracem seu filho, da forma dele, não se importem com os outros, vejam os resultados e sejam felizes.
Norma Dall Igna – Terapeuta Ocupacional e Analista do Comportamento Aplicado ao Autismo
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