Quando olhamos para nós mesmos, nossos filhos e demais pessoas que gostamos e temos grande apreço, é muito comum fazermos festa, ficarmos alegres e radiantes, melhor exemplo dessas realidades são as festas de aniversário, nesse tipo de evento faz-se todo tipo de discurso, elogio, canta-se o parabéns pra você a plenos pulmões, para esse tipo de festas não medimos esforços e nem mesmo o custo financeiro, haja vista ser um momento passageiro, quantas festas recheadas de luxo, sem vida, sem vibração, sempre uma tagarelice sobre assuntos triviais, que na maioria das vezes não nos levam a lugar algum, nosso mundo empobreceu muito em termos de datas comemorativas, se puxarmos pela memória, em nosso tempo de criança havia inúmeras datas que não deixávamos passar em branco, hoje ao contrário, lembrar do passado é algo chato e que não gera lucro.
Foi criado em 22 de abril de 1970, o Dia da Terra, não que ela tenha que ter um dia especial, pois todos os dias vividos são especiais nesse lindo planeta, mas para advertir a população dos enormes perigos e riscos que lhe estamos infligindo ao planeta, não é novidade que a estamos sufocando com nossa voracidade, nossa cobiça e gula; mas quem de nós no último dia 22 de abril prestou homenagem à terra? Quem de nós se lembrou de cantar parabéns a ela?
Ou ainda: quem de nós ousou elevar uma prece de agradecimento por tantos presentes que ela nos brinda todos os dias? Esses somos nós, seres de tão “civilizados” que somos, temos horror a esses tipos de homenagens, ainda mais se tratando de um ente que julgamos estar a nosso serviço 24 horas por dia; nossa humanidade nunca passa do portão de nossas moradias e quando passa é então para irmos a desforra total.
Quem de nós em sã consciência não fica assim estarrecido ao saber que o país mais poluidor do planeta aprovou no último dia 23 de abril um pacote de ajuda econômica de quase 500 bilhões de reais para três países, dois deles que estão em guerra e um deles em vias entrar numa, todos sabemos que esse dinheiro não tem nenhum outro escopo, que o de alimentar ainda mais a violência, contaminar ainda mais as pessoas e o meio ambiente.
E quando se trata de salvar o planeta, não é nenhuma surpresa que quantias ínfimas são destinadas a esse propósito; nosso mundo está enlouquecido praticamente em todas as áreas, quase que totalmente dominado pela fúria cega, pelo desejo macabro de matar quem quer que seja, num mundo de aparentes e fugazes sucessos, melhor prestarmos atenção, de que o que pode nos destruir é justamente todo esse “sucesso” e não nossos fracassos.
Um dos grandes expoentes que mais se debruçou sobre o tema terra, foi Bruno Latour (1947-2022), em seus últimos anos de vida se debruçou de modo admirável a estudar com rara profundidade o tema terra, ele de modo lúcido anteviu as nossas inúmeras perdas nas últimas décadas e isso mais ainda se faz presente na nossa perda de interesse, de pertencimento e salvaguarda do único lar conhecido até agora para todos os seres humanos e extra-humanos, deixamos de prestar atenção nela, uma absurda negligência se faz ver e ouvir todos os dias, muitos ainda acreditam nas falácias iluministas, especialmente a de que a superioridade da razão tornaria o ser humano melhor, assim como o mundo por ela moldado seria o melhor dos mundos. Latour e mais outros, souberam com antecedência que o antropocentrismo precisa e deve ser freado, caso contrário vamos todos naufragar.
Bioeticamente, o dia da terra é algo marcante em nossas vidas, pelo menos deveria ser uma ocasião de profunda reverência e questionamentos sobre o que está acontecendo em sua superfície, o caminho que estamos trilhando se ele nos levará à salvação ou a perdição, não ter vergonha de tocar nesse tema em família, no trabalho ou mesmo numa roda de amigos, ensinar nossos filhos e netos a respeitarem esse planeta incrível, que a voracidade e a dilapidação de seus recursos naturais não e nunca foi saudável para ninguém.
Avançamos em muitas áreas, adquirimos muitos direitos como seres humanos, mas por outro lado, nossos deveres parecem que a cada dia que passa, diminuem ou são esquecidos de modo deliberado, gostamos muito de ver atendidas as nossas necessidades, algumas dela por sinal banais, pensemos mais em nossa sobrevivência, não custa nada.
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