Marcilei Rossi com assessoria
A praça Presidente Vargas estava em um clima diferente no sábado (6). Tudo começou com uma mateada, algumas trovas e conversas. A movimentação foi crescendo e, no fim da tarde, muita gente se reuniu para ver a apresentação da Orquestra Sanfônica e de Renato Borghetti e alguns convidados.
Foi em meio a esse cenário que aordeons ou gaitas (como queiram) ponto e piano desfilaram e pelo centro de Pato Branco, mostrando a força do instrumento na cultura local. Da mesma forma, mais de 30 municípios brasileiros e um argentino, que aderiram ao Dia Mundial do Acordeon, participaram da festa idealizada pelo acordeonista Diego Guerro para celebrar a data em que o instrumento foi patenteado.
Durante mais de três meses, ele, junto de alguns voluntários, organizaram o evento, que ocorreu de forma simultânea em todas essas localidades, cada um com uma programação diferente. Apoiado pela Orquestra Sanfônica de Pato Branco, pelo Projeto Fábrica de Gaiteiros e, nas últimas duas semanas que antecederam o evento, pelo Departamento de Cultura de Pato Branco, Guerro administrou toda a organização com quase nenhum patrocínio, mas muita vontade que desse certo.
“Foi um sucesso, tanto em Pato Branco quanto nas demais localidades. Só tive devolutivas positivas, o que nos anima a já começarmos a pensar na próxima edição que, com mais tempo, deve ser melhor e maior ainda”, afirma o idealizar, ao lembrar que o evento reuniu diferentes gerações de apreciadores do instrumento.
Mais de mil instrumentistas, profissionais e amadores participaram da iniciativa, contando todos os municípios envolvidos na celebração. “Ficamos felizes em ver toda essa energia canalizada através do instrumento”, comentou Guerro ao destacar que durante as interações realizadas com os outros municípios participantes o que se viu foi “povos com culturas diferentes, mas emanados pelo mesmo objetivo, que é difundir o acordeon e apresentar esse instrumento para a sociedade.”
Renato Borghetti
Regressando a Pato Branco após sua apresentação no Teatro Naura Rigon em 2015, o acordeonista Renato Borghetti enalteceu a iniciativa de “fazer música instrumental em praça pública.”
O músico lembrou que o instrumento tem um “apelido” em cada lugar, bem como é dinâmico. “Na Argentina o que eu toco é La Verdulera; nos chamamos de gaita ponto; no Nordeste é pé de bode; então eu defino como um instrumento versátil, podendo ser tocado em praça pública, acompanhado de uma orquestra sinfônica ou tocando solo”. Borghetti definiu que para ele o instrumento “é muito alegre” e define que o instrumento que chegou no Brasil com a imigração “se aclimatou muito bem”, fazendo assim uma referência a sua presença em todas as regiões, com estilos variados de música e sonoridade.
O acordeonista também falou da sua crença na continuidade da música através do instrumento. Ele lembrou de seu projeto social, criado há cerca de 13 anos, no Rio Grande do Sul e que está presente nos municípios de Guaíba, Barra do Ribeira, Porto Alegre, Butiá, Dom Pedrito, Tapes, São Gabriel, Dom Feliciano, Lagoa Vermelha, Piratini, Santo Antônio da Patrulha, Morrinhos do Sul e Encruzilhada e já tem ramificação em Lages e Blumemau (SC) e no Uruguai, a Fábrica de Gaiteiros, direcionado a crianças e jovens de 7 a 15 anos.
“Claro, eu tinha a dúvida, se eles [jovens] se interessariam pelo acordeon como eu me interessei e não tenho mais essa dúvida. A gurizada gosta, tocam bem, aprendem rápido e isso é muito legal”, afirmou o acordeonista que em 2018, em entrevista ao jornal Zero Hora revelou que no início do projeto o questionamento era com relação a presença de gaiteiros no Sul do Brasil em 50 anos. “Percebi que não precisa de 50 anos”, disse o músico na oportunidade.
Prestes a completar 40 anos da gravação do seu primeiro álbum, com o qual ganhou o primeiro disco de ouro da música instrumental brasileira, Borghetti é reconhecido internacionalmente, além de seguir com o legado de difundir a cultura do acordeon brasileiro como fizeram Dominguinhos e Sivuca, por exemplo. “Tive a sorte de conhecer figuras maravilhosas do instrumento. Gravei com Luiz Gonzaga [Gonzagão], com Sivuca, Dominguinhos, Chiquinho do Acordeon, Os Bertussi, Tio Bilia [conhecido como Rei da Oito Baixos], tenho a sorte de além de admirar eles, conviver com eles, para beber da fonte e isso interferiu muito no meu trabalho e vou sempre procurar transmitir isso tudo, que esses mestres me proporcionaram.”
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