Por Roberta Jansen
Uma nova espécie de dinossauro brasileiro, chamada de Berthasaura leopoldinae, foi apresentada na manhã desta quinta-feira, 18, por pesquisadores do Museu Nacional e da Coppe, ambos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e do Centro Paleontológico da Universidade do Contestado, em Santa Catarina (Cenpaleo). É a primeira espécie desdentada já achada na América Latina. A descoberta pode ser crucial na compreensão da evolução desses répteis.
Uma tomografia computadorizada revelou que, apesar de pertencer ao grupo dos terópodes – em que predominam animais carnívoros como o Thyranossaurus rex -, a Berthasaura não tinha dentes. Era dotada de uma espécie de bico, com uma lâmina óssea bem desenvolvida na arcada superior. É muito diferente de todas as espécies encontradas no País até hoje. Para os pesquisadores, a descoberta pode ajudar a entender como se deu a transição dos dinossauros do passado para as aves atuais.
“De todas as descobertas de que participei em minha carreira, eu diria que essa está entre as cinco maiores”, afirmou o paleontólogo Alexander Kellner, diretor do Museu Nacional. Ele é um dos autores do trabalho, publicado na “Scientific Reports”, a plataforma de acesso aberto da “Nature”.
‘Bertha’ tem bico semelhante ao das aves atuais
O fóssil é um dos mais completos desses répteis já achados no Brasil. Foi encontrado no município de Cruzeiro do Oeste, no Paraná. Trata-se de um animal de porte pequeno, com cerca de um metro de comprimento. Viveu entre 70 e 80 milhões de anos atrás, no período Cretáceo.
“Temos restos do crânio e mandíbula, coluna vertebral, cinturas peitoral e pélvica e membros anteriores e posteriores, o que torna “Bertha” um dos dinos mais completos já encontrados no período Cretáceo brasileiro”, contou Kellner.
Mas, segundo o paleontólogo, o que torna esse dinossauro genuinamente raro, é o fato de ser um terópode desprovido de dentes. Foi o primeiro com essa característica encontrado no País, “uma verdadeira surpresa”, o que foi confirmado por meio de uma microtomografia computadorizada.
O doutorando do Programa de Pós-Graduação em Zoologia do Museu Nacional da UFRJ Geovane Alves Souza desenvolveu uma pesquisa sobre o novo dino como parte de sua tese de doutorado. Segundo ele, “além da Berthasaura não possuir dentes, a espécie também não apresentava qualquer sinal da existência de cavidades portadoras de dentes (alvéolos) na mandíbula e no maxilar”. Foram identificadas, afirmou, marcas e sulcos que sugerem a presença de um bico de queratina. É semelhante ao das aves atuais.
“É difícil confirmar se a Berthasaura poderia ter usado seu bico para rasgar nacos de carne, assim como os gaviões e urubus fazem hoje em dia, ou se o bico seria utilizado para cortar material vegetal”, afirmou Souza. “Vivendo em uma área restrita como o deserto, esse dinossauro deveria se alimentar do que estivesse disponível, tendo provavelmente desenvolvido uma dieta onívora (que incluía vegetais e animais).”
Réptil estava em ‘cemitério de pterossauros’
O fóssil foi encontrado em escavações conduzidas entre 2011 e 2014, por equipes do Cenpaleo e do Museu Nacional. O trabalho foi em uma região conhecida como “cemitério de pterossauros”. É rica em fósseis de répteis voadores.
“Na última década, dezenas de fósseis foram coletados nessa região, o que levou a descrição de novas espécies, particularmente de pterossauros”, contou o geólogo Luiz Weinschutz, do Cenpaleo, que coordenou as escavações. “Essa nova descoberta de um dinossauro, o segundo achado na região, mostra a importância desse sítio fossilífero.”
Os cientistas não conseguem saber se, de fato, o animal era do sexo feminino. Mas o nome escolhido foi uma tripla homenagem, explicou a pesquisadora Marina Bento Soares.
“Bertha se refere à professora/pesquisadora Bertha Maria Júlia Lutz (1894 – 1976), bióloga do Museu Nacional/UFRJ e uma das principais líderes na luta pelos direitos políticos das mulheres brasileiras”, contou. “Já leopoldinae homenageia tanto a Imperatriz brasileira Maria Leopoldina (1797 – 1826), que foi uma grande entusiasta das ciências naturais e uma das principais responsáveis pela Independência no Brasil, como também a escola de Samba Imperatriz Leopoldinense que honrou o Museu Nacional/UFRJ com o tema do seu desfile na Marquês de Sapucaí em 2018.”
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