Diplomata detalha sofrimento de ucranianos durante audiência pública em Pato Branco

O sábado (11) foi marcado por uma audiência pública na Câmara Municipal de Pato Branco com a presença do diplomata ucraniano e ex-embaixador da Ucrânia Rostyslav Tronenko e sua esposa, Fabiana Tronenko, relatando sua vivência da guerra entre a Rússia e a Ucrânia.

O evento ocorreu com o intuito de expor os relatos sobre a realidade vivida pelo país europeu ao longo desses quase quatro meses de conflito entre os países e as consequências geradas para o povo ucraniano que vem fugindo da guerra desde o dia 24 de fevereiro de 2022, abandonando suas vidas para sobreviver.

Tronenko, que também esteve em uma palestra realizada pela Universidade Mater Dei na sexta-feira (10), agradeceu a hospitalidade do povo brasileiro que está acolhendo os refugiados com empatia, respeito e carinho.

“Estamos muito agradecidos ao povo brasileiro, a sociedade civil brasileira, por mostrar aquilo que o Brasil tem: a hospitalidade, acolhimento, apesar de todos os desafios que os brasileiros enfrentam, estão de mãos abertas assim como o Cristo Redentor para os refugiados ucranianos”, afirma.

Outro evento realizado no sábado foi a inauguração de um monumento em homenagem a comunidade ucraniana, tanto para os já residentes em Pato Branco e também para quem está em busca de abrigo no país. O monumento foi uma iniciativa da administração municipal e está localizado no Largo da Liberdade.

O diplomata destaca que o objetivo da visita é levar o ponto de vista ucraniano e “a verdade que é única”, pois, desde 2014, estão sendo atacados pelo “país agressor, nosso vizinho, o poder nuclear, que aproveita o seu potencial militar contra nós”. Tronenko ainda complementa com uma citação, “além dos sábios falou que em véspera de guerra ou durante a guerra, a primeira coisa que morre é a verdade. Tem muita propaganda, muitos clichês, estigmas que precedem e depois continuam durante a guerra”.

Tronenko cita também a dor e o sofrimento causado pelo massacre mais uma vez, depois de mais de 70 anos da Segunda Guerra Mundial, “quando as nossas cidades foram bombardeadas pelos alemães nazifascistas e, de novo, temos territórios ocupados, bombardeios diários e praticamente o massacre da população civil”.

A população civil, de acordo com o diplomata, é a mais frágil e a que mais está sofrendo as dificuldades da guerra, já que os militares são preparados para enfrentar a situação, enquanto mulheres, crianças, pessoas deficientes e idosos se tornam refém do agressor. “Tem pessoas que sobreviveram ao holocausto e morreram nos territórios ocupados pelos russos”, lamenta, ao apontar que “essas verdades talvez, para alguém, podem ser inconvenientes. Não temos medo de ser politicamente incorretos, mas, ao mesmo tempo, é fácil para nós dizer a verdade, sempre essa agressão foi injusta e injustificada”.

Busca pela paz

De acordo com o ex-embaixador, os ucranianos estão em busca da paz e afirma que a guerra não é deles, já que não foram os ucranianos a começar ou provocar a situação, porém, a luta vem de anos, desde o século 18, quando o império russo já agredia o país. “Queremos a paz, mas não nas condições de Moscou, de fazer um breve cessar fogo e disfarçar que cumprirão os acordos, como foi no tratado de Minsk, quando eles apenas aproveitam esse intervalo para se preparar para uma nova agressão”.

A preocupação do ucraniano é que, “se a Ucrânia cair, todos sabem que não vão parar no nosso território. Eles falam abertamente na televisão russa que os países vizinhos da Ucrânia são as próximas metas. É mais que liberdade, soberania e integridade territorial da Ucrânia, a gente não quer voltar para um regime opressor colonial soviético e não queremos voltar ao passado”.

Tronenko destaca também que a Ucrânia é um país europeu com população profissionalizada e que quer seguir a vida em paz e segurança. “A gente quer terminar essa guerra, claro que qualquer guerra termina na mesa das negociações, a paz vai prevalecer mas também as condições de vencer um compromisso e não impor esse imperialismo, revanchismo histórico e colonialismo de novo em pleno século 21, no Centro da Europa”.

A motivação da guerra, segundo o ucraniano, pode ser vista como vontade da Rússia em tomar territórios perdidos com a dissolução do poder soviético e que segundo o diplomata, “não é deles segundo o direito internacional”.

“As lideranças russas podem querer e declarar na sua propaganda, mas não podem violar o sistema de segurança que foi aceito após a Segunda Guerra Mundial. Tem direito internacional, tem direito humanitário, tem a carta das Nações Unidas de que a Rússia faz parte e como membro permanente da segurança da ONU, tem obrigações especiais para implementar o esforço para a preservação da paz, para a solução pacifica dos conflitos e dos desentendimentos, mas eles não fazem isso, eles usam a força, como em regimes totalitários/autoritários usavam durante o século 19 e 20”.

O diplomata fala que a vitória da Ucrânia nessa guerra significa a vitória do mundo civilizado, da democracia contra o totalitarismo e o autoritarismo.

Desespero

A esposa do ucraniano e ex-embaixatriz, Fabiana Tronenko, destaca o momento de dor e desespero vivenciado pelas vítimas da guerra na Ucrânia e a importância do apoio de outras comunidades para que essas pessoas possam passar pelo período com mais dignidade.

“É importante ter acesso as pessoas para que possamos levar a verdade como realmente é, de forma transparente e correta, porque essa guerra da Rússia contra a ucrânia está trazendo muitas vítimas, muita dor, muito desespero para o nosso povo, e a comunidade nossa ucrânia fora da ucrânia tem nos apoiado muito, tem levado suas mensagens e falo também as pessoas que não são descendentes, mas são amigos da ucrânia, essas pessoas estão sendo fundamentais para levar uma mensagem de paz, de amor, de solidariedade para o povo ucraniano”.

Embaixadas

De acordo com Fabiana, que esteve ao lado de Rostyslav em Portugal antes de se tornar embaixador ucraniano no Brasil, onde permaneceram até 2021, o trabalho da embaixada consiste atualmente em levar a verdade do que acontece no território para as pessoas do mundo, além de auxiliar e dar apoio aos refugiados que chegam ao país.

A ex-embaixatriz afirma que esse “é um momento triste, pois trata-se entre 5 e 6 milhões de pessoas que foram obrigadas a sair de suas casas, abandonar suas vidas da noite para o dia, abandonar marido, filhos e saírem de lá com crianças, somente com a roupa do corpo, tudo o que construíram ao longo da vida, nos deixa de coração partido”.

Fabiana também agradeceu a todos que estão de portas abertas para receber os refugiados. “O sentimento é de gratidão para as pessoas que oferecem apoio e carinho, com demonstração de afeto, respeito e indignação por tudo aquilo que estão fazendo para o povo ucraniano. Os brasileiros têm feito isso, aberto suas casas para receber essas pessoas e fazendo com que se sintam acolhidas e protegidas, que é o que não conseguiram na Ucrânia diante de tanto medo e terror”, finaliza.

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