A candidata que lidera uma aliança que uniu a centro direita e a extrema direta – formada pelo Irmãos da Itália, pela Liga, partido do populista Matteo Salvini, e pelo conservador Forza Italia, de Silvio Berlusconi – deve conseguir 47% dos votos. Segundo pesquisas de boca de urna, o partido de Meloni terá entre 22% e 26% dos votos, o Liga deve levar entre 8,5% e 12,5%, e o Forza entre 6% e 8%.
Segundo a sondagem, a coalizão pode somar até 257 cadeiras na Câmara, 56 a mais do que o necessário para ter maioria, e 131 no Senado, 30 a mais. Com isso, não precisará negociar com outros partidos para aprovar pautas e confirmar Meloni no cargo. Neste domingo, o Partido Democrata, de centro-esquerda, reconheceu a derrota.
Abstenção
O ceticismo em relação à política na Itália é profundo, após 11 governos em 20 anos – primeiros-ministros têm ficado menos de 400 dias no cargo em média. Quase 51 milhões de italianos estavam aptos a votar, mas a abstenção de 36% foi recorde.
O desalento com os políticos, disseram analistas, desestimula o voto. “Espero que vejamos pessoas honestas, e isso é muito difícil hoje”, disse Adriana Gherdo, em uma seção de votação em Roma. “A política italiana precisa mudar, e Meloni vai ser uma grande mudança”, disse Paola Puglisi, de 65 anos.
Federica Lombardi, 25, e sua irmã Emanuela Lombardi, 23, disseram ao The New York Times que cansaram das “bolhas liberais” e das promessas não cumpridas pelo Partido Democrata, em quem votavam. “Ela é verdadeira, ao contrário dos outros políticos, que seguem sempre o mesmo roteiro”, disse Federica.
Para Roberto D’Alimonte, cientista político da Universidade Luiss Guido Carli, em Roma, e escolha de Meloni não significa que a Itália “se move para a direita”. Segundo ele, os eleitores têm pouco interesse na história de Meloni e simplesmente a enxergam como a nova cara da centro-direita. “Os eleitores não a veem como uma ameaça.”
Para Gianluca Passarelli, professor de ciência política da Universidade Sapienza de Roma, Meloni pode ser considerada uma conservadora radical, mas não fascista. “Giorgia Meloni e seu partido não são fascistas. Fascismo significa tomar o poder e destruir o sistema. Ela não vai fazer isso e não poderia”, diz ele. “Mas há alas no partido ligadas ao movimento neofascista.”
Desafios
Meloni vai ter enfrentar testes imediatos internos e na Europa, como os preços da energia e dos alimentos em alta e as divisões dentro de sua própria coalizão sobre a Rússia e a invasão da Ucrânia.
Um ponto crucial do novo Gabinete será a execução do plano elaborado em parceria com a UE, no valor de 200 bilhões de euros (R$ 1,02 trilhão), e que exige a adoção de reformas no Estado. Meloni sugeriu rever o acordo, mas o Forza Italia quer manter os compromissos.
Meloni é contra a adoção de um programa de 30 bilhões de euros (R$ 152 bilhões) para que o Estado assuma dívidas e ajude famílias e empresas a pagarem suas contas de gás, proposta defendida por Salvini (e que levou a uma ríspida discussão entre os dois).
A provável premiê recusa-se a elevar o débito do país. Ainda sobre as relações com a UE, Meloni vem sinalizando que não tentará criar ou acirrar tensões com Bruxelas.
Em uma década como líder do Fratelli d’Italia, Meloni adotou posições extremas. Ela já defendeu a dissolução da zona do Euro e difundiu uma teoria conspiratória de que “forças anônimas” direcionam imigrantes em massa para a Itália para “substituição étnica”. Durante a campanha, porém, ela tentou se colocar como opção de centro e ganhou apoio para seu partido. Em várias ocasiões, reiterou que a Itália “pertence à Europa”, mas “lutará por seus interesses”. (Com agências internacionais).
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