Do fazer ao servir

É importante para uma Diocese ter um plano de ação pastoral porque aí se pode organizar e articular as forças vivas que existem. Se cada um trabalha de acordo com a sua cabeça, ou de acordo com aquilo que entende que é uma prioridade, certamente, os frutos colhidos são muito menores do que aqueles que surgem quando todos trabalham juntos, dentro de objetivoscomuns.

É impressionante como nos nossos encontros, seja nas Paróquias ou nos Decanatos, se sobressai a nossa preocupação com o fazer. O fato é que fazemos muitas coisas. Umas, gostamos mais, outras, menos; umas são escolhidas, outras não; umas as elegemos, outras não temos outro remédio a não ser fazê-las. Com isso, nossa missão se transforma em puro ativismo, ou seja, fazer por fazer, fazer para afirmar-se, fazer para brilhar, fazer para produzir. Ainda por cima podemos viver o drama da desintegração: atividades soltas, desprovidas de inspiração, de criatividade e num ritmo burocrático. Corremos o risco de colocarmos, entre Deus e nós, um monte de papéis e documentos. Parece-me que falta uma referência que unifique tudo, que possibilite reorientar e canalizar nossas potencialidades, impulsos, inspirações, que desperte nossa paixão e dê novo sentido à nossa missão.

É aqui que se situa a simples e genial intuição de Cristo: passar do puro fazer ao servir com alegria. Servir é o oposto do ativismo, que é um fazer insensato, sem sentido e sem direção. Servir é fazer com inspiração, é perguntar-se continuamente: por que faço isso? Para quem faço? Por quefaço dessa maneira? Servir não é substituir os outros naquilo que eles podem e tem de fazer. Como passar, pois, do mero fazer ao servir? Para servir de verdade, é necessário, em primeiro lugar, que nosso fazer esteja atravessado de visão, de escuta, de atenção, de compaixão e contemplação à pessoa do outro e às suas necessidades. Essa atitude interna e permanente de cuidado, de escuta, olhar o outro e suas circunstâncias, fará que nos perguntemos: o que é o melhor para o outro? O que lhe ajuda mais?

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Pelo Paraná 21/05/25

No fazer perguntamos pela quantidade; no servir perguntamos pelo melhor; no fazer repetimos, no servir criamos; no fazer o centro sou eu, no servir o centro está no outro. Se vamos ao outro com um plano ou programa pré-estabelecido, uma vez aplicado, fecha-se o processo; fazemos o de sempre, cumprimos nosso horário e nossa obrigação, e pronto. A prioridade da atenção aos outros nos obriga a pensar, a inovar, a propor de uma outra forma, a mudar porque na vida nada permanece quieto. O carinho e a sensibilidade para com os outros, o desejo profundo e sincero de servir é o que vai nos mobilizar. A questão não é o que fazemos, mas o que comunicamos com o nosso fazer.

Além disso, servir tem maior visibilidade quando a missão é vivida em grupo, quando a colaboração com outros e a partilha em comum tornam-se um modo de proceder, esvaziando-nos de toda pretensão de sermos individualistas para sermos simples servidores. Servir não vai na linha do impor, senão do propor. Trata-se, isso sim, de propor com qualidade, com firmeza, com proximidade, com compromisso pessoal, tendo cuidado especial na arte do acompanhamento. Isso requer presença gratuita, desinteressada, centrada no bem da outra pessoa, sem criar dependências, mas fazendo o outro crescer em liberdade.

Servir pede um coração magnânimo, ou seja, grandeza de horizontes, de desejo e de sonhos; mas, ao mesmo tempo, servir é uma expressão que convida à humildade: porque servir é descer ao nível do outro. Para isso,somos convidados à renúncia dos nossos próprios critérios, pontos de vista, modos fechados de viver. Não esqueçamos o que nos diz o Senhor: “Maior é aquele que serve”.

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