
Dólar acumula desvalorização de 4,13% em março, com mercado otimista por ausência de ruídos fiscais e fluxo estrangeiro na bolsa
O dólar comercial encerrou esta terça-feira, 18 de março de 2025, em baixa de 0,25%, cotado a R$ 5,6721, o menor valor de fechamento desde 24 de outubro de 2024 (R$ 5,6629). Após oscilações pela manhã, a moeda firmou-se em queda no início da tarde, refletindo o alívio do mercado com a ausência de surpresas negativas no projeto de isenção de Imposto de Renda (IR) apresentado pelo governo e o recuo do dólar no exterior, especialmente frente a divisas fortes. Este foi o sexto pregão consecutivo de desvalorização, acumulando uma queda de 4,13% no mês.
Projeto de Isenção de IR e Estabilidade Fiscal
Durante a cerimônia de apresentação da reforma do IR em Brasília, o dólar atingiu a mínima de R$ 5,6565. O projeto, que prevê isenção de IR para quem ganha até R$ 5 mil por mês, foi bem recebido pelo mercado por não trazer ruídos fiscais ou políticos inesperados. Para compensar a perda de receita estimada em R$ 27 bilhões, o governo propõe ajustes na tributação de quem recebe acima de R$ 50 mil mensais, incluindo a taxação de dividendos que excedam esse valor.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reforçaram que a proposta é fiscalmente neutra. “Este projeto não vai aumentar um centavo na carga tributária da União”, afirmou Lula. O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), elogiou a medida como “justa”, mas alertou que o texto deve sofrer alterações no Congresso.
Marcos Weigt, head da Tesouraria do Travelex Bank, destacou que o projeto já estava precificado pelos ativos domésticos. “Sem surpresas negativas, o real se beneficiou do ambiente externo favorável e da taxa de juros elevada no Brasil. O país sofre menos com as tarifas americanas, e a China está injetando estímulos na economia. Há um forte fluxo estrangeiro para a bolsa, o que sugere que o dólar pode cair ainda mais”, analisou.
Riscos e Percepção do Mercado
Apesar do otimismo, o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, apontou riscos. Ele teme que o Congresso aprove a isenção de IR sem as contrapartidas de aumento de impostos para a alta renda, o que poderia deteriorar a percepção de risco fiscal. “Por ora, o mercado opera com a ideia de que não há novidades negativas no fiscal e busca ativos baratos, acompanhando o movimento de entrada de capital estrangeiro”, disse Borsoi.
Cenário Externo e Expectativas para o Fed
No exterior, o índice DXY, que mede o dólar contra uma cesta de seis moedas fortes, operava em leve queda no fim da tarde, próximo dos 103,200 pontos, após avançar pela manhã. As taxas dos Treasuries e as bolsas americanas recuaram, com investidores cautelosos antes da decisão do Federal Reserve (Fed) na quarta-feira, 19. A expectativa é que o Fed mantenha os juros entre 4,25% e 4,50%, com foco nas projeções do “gráfico de pontos” e no comunicado sobre os próximos passos.
Copom e Valorização do Real
No Brasil, o Comitê de Política Monetária (Copom) deve elevar a Selic em 1 ponto porcentual na quarta-feira, alcançando 14,25% ao ano. O mercado estará atento a sinais sobre o impacto da desaceleração econômica e da valorização do real na inflação, que podem indicar um ciclo de aperto monetário mais curto.
Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master, atribuiu a força do real e da bolsa à valorização das commodities, como o minério de ferro, impulsionada por estímulos econômicos na China e na Europa. “O Brasil é visto como um mercado subvalorizado, com ativos baratos. O câmbio deveria estar abaixo de R$ 5,00, e essa correção pode aliviar a pressão sobre o Banco Central”, avaliou.
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