Por Amanda Pupo, Felipe Frazão, Marcelo de Moares, Marlla Sabino e Julia Affonso
O governador de São Paulo, João Doria, obteve 53,99% dos votos nas prévias presidenciais do PSDB, cujo resultado foi divulgado neste sábado, 27. Em segundo lugar, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, ficou com 44,66%. Já o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio obteve 1,35% dos votos. As informações foram divulgadas pelo PSDB. De acordo com o partido, cerca de 30 mil filiados participaram do processo.
“O PSDB sai desse processo muito maior do que entrou no mês de abril”, afirmou o presidente da sigla, Bruno Araújo, após anunciar Doria como vencedor das prévias. A decisão coloca fim à disputa interna e afunila ainda mais a busca entre os partidos do centro por uma terceira via.
O resultado oficial mostra que Doria só não foi escolhido pelos vereadores, que deram preferência a Leite. Os demais filiados, com cargo ou sem, deram a vitória ao governador de São Paulo em votações apertadas. Entre prefeitos e vice-prefeitos, por exemplo, o placar foi de 393 a 363. Nas bancadas federal e estaduais, a diferença foi de sete votos para Doria, que somou 37, e na chamada “elite tucana” – que reuniu senadores, governadores e vice e ex-presidentes do partido -, o paulista obteve 27 votos, contra 24 dados a Leite. A maior diferença foi marcada mesmo entre tucanos sem mandato: 15.646 votaram em Doria e 9.387 optaram pelo gaúcho.
Em seu discurso, Doria ressaltou que não há derrotados no processo interno do PSDB e afirmou que o partido é que foi vitorioso e que estará unido na “construção de um melhor projeto para o País”. Na sequência, já apontou o rumo que sua eventual campanha deve tomar, o de ataque conjunto ao atual presidente, Jair Bolsonaro, e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ambos líderes das pesquisas de intenção de voto.
“Lula, você não terá em mim alguém complacente no debate. Fazer política pública aos mais pobres não dá a ninguém o direito de roubar”, afirmou. Sobre Bolsonaro, o então candidato que apoiou em 2018, Doria foi igualmente crítico. Disse que o presidente “vendeu um sonho e entregou um pesadelo” e que seu projeto irá vencer tanto a corrupção quanto a incompetência e o negacionismo.
Desafios
Com o fim das prévias, a partir de agora, são dois os principais desafios do candidato tucano. O primeiro – e mais imediato – é conseguir pacificar internamente o PSDB. Desde o início da disputa, os grupos apoiadores de Doria e Leite se enfrentaram fortemente, expondo a divisão que o partido vêm enfrentando nos últimos anos, desde a derrota de Geraldo Alckmin em 2018. O ex-governador paulista obteve apenas 5% dos votos na primeira vez em que um candidato tucano não venceu uma eleição presidencial ou não chegou ao segundo turno desde 1989.
Bruno Araújo deve ajudar no trabalho de costura política para evitar que o resultado das prévias gere uma espécie de debandada dentro do partido. Para ele, era esperado que as prévias acirrassem os ânimos. Assim como boa parte dos tucanos, Araújo gosta de ressaltar a falta de hábito entre os partidos brasileiros em relação a competições internas para definição de candidatos.
Antes do anúncio do resultado, Doria e Leite já buscaram passar uma imagem de união do partido, afirmando à imprensa que ambos estarão no “mesmo barco”, independentemente do vencedor. “Nós legitimamos o PSDB, as prévias, o respeito pelos filiados, fizemos debates intensos, percorremos o País. Estamos no mesmo barco, e esse barco é o barco da democracia, da liberdade e do respeito pelos 33 anos do PSDB. Todos nós estaremos juntos a partir do momento do resultado, vencendo ou não vencendo, estaremos juntos”, afirmou Doria. Leite seguiu na mesma linha e destacou que agora é hora de pensar nos reais problemas do País
Também candidato no processo, o ex-senador Arthur Virgílio citou a presença de bolsonaristas no PSDB como uma das dificuldades para essa união interna. “Ela (a bancada bolsonarista) faz dobradinha com Bolsonaro, vai lá e vota contra decisões da própria diretiva. O tempo inteiro (das prévias) disse que era preciso ‘desbolsonarizar’ o PSDB”, afirmou. “Nós não vamos poder continuar com essa dicotomia de bolsonaristas e não-bolsonaristas. Nós temos que chamar essas pessoas para o nosso redil e as que não forem do nosso redil, por favor procurem outro (partido).
Alianças
O segundo desafio projetado agora é fazer a candidatura ganhar tração no cenário nacional. Com a demora na definição, o PSDB acabou vendo a pré-candidatura do ex-ministro da Justiça Sérgio Moro ganhar espaço e adesões. Como corre no mesmo campo da chamada terceira via e mira também no eleitorado de centro, centro-direita e direita (especialmente nos desapontados com o governo Bolsonaro), o PSDB ganhou um concorrente forte na briga por esse voto.