Dormir bem pode reduzir risco de doenças cardíacas e metabólicas, aponta estudo

Dormir bem pode proteger contra doenças que afetam o coração, os rins e o metabolismo. Uma análise populacional realizada nos Estados Unidos e publicada no Journal of the American Heart Association revelou que pessoas com melhor qualidade de sono têm até 45% menos risco de desenvolver estágios avançados da Síndrome Cardiovascular-Renal-Metabólica (SCRM) — condição associada à obesidade, diabetes, doenças renais e cardiovasculares.

O estudo analisou mais de 10 mil adultos americanos, com idade média de 49 anos, e observou uma relação direta entre qualidade do sono e gravidade da SCRM. Embora não estabeleça uma relação causal, a pesquisa indica um alerta preocupante: cerca de 90% dos adultos nos EUA estão em algum estágio da síndrome, e 15% já apresentam quadros graves.

Sono ruim e doenças crônicas

A neurologista Letícia Azevedo Soster, especialista em Medicina do Sono do Hospital Israelita Albert Einstein, explica que a privação de sono é um importante fator de risco para doenças crônicas.

“Uma noite maldormida não é só reflexo de má saúde, mas também um fator de risco independente para hipertensão, diabetes, doenças renais e cardiovasculares. Isso inclui até desfechos graves, como infarto e óbito”, afirma.

Dormir mal pode ainda agravar o controle da pressão arterial e reduzir a eficácia de tratamentos. “O sono ruim não causa diretamente a hipertensão, mas dificulta o controle clínico da doença”, complementa Soster.

Índice de sono saudável e resultados

Os pesquisadores criaram um índice de sono saudável, com base em cinco parâmetros:

  • Duração do sono
  • Dificuldade para dormir
  • Sonolência diurna excessiva
  • Ronco frequente
  • Noctúria (necessidade de urinar várias vezes à noite)

Com essas informações, os participantes foram classificados em três grupos: alta, moderada ou baixa qualidade de sono.
Os resultados mostraram que:

  • Quem tinha sono de alta qualidade apresentou 45% menos risco de estágios avançados da SCRM;
  • O grupo moderado teve 32% menor risco;
  • Já os participantes com sono ruim concentraram a maior incidência dos casos graves.

Segundo Soster, o tempo total de sono curto (menos de seis horas) e a apneia obstrutiva do sono são os fatores que mais impactam os riscos. “A apneia está fortemente associada à pressão alta, arritmia e infarto, enquanto o sono curto aumenta o risco de diabetes tipo 2, obesidade e problemas cognitivos”, detalha.

Impacto social e diferenças populacionais

O estudo também revelou diferenças sociais e étnicas importantes. Entre negros e asiáticos não hispânicos, a associação entre boa qualidade do sono e menor risco foi mais forte, sugerindo que vulnerabilidades sociais e genéticas podem intensificar o impacto das doenças cardiovasculares e metabólicas.

Para os autores, os achados indicam que políticas públicas de saúde voltadas ao sono podem ajudar a reduzir o avanço da SCRM nessas populações.

Brasileiros dormem mal

No Brasil, o problema também é grave. Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde de 2019, do IBGE, 18,6% dos adultos brasileiros relatam ter dificuldade frequente para dormir. Esse cenário tem efeitos diretos na produtividade, no humor e na saúde cardiovascular e metabólica.

A especialista ressalta que as causas vão além da disciplina individual, envolvendo fatores sociais e estruturais. Longos deslocamentos, jornadas extensas de trabalho, violência urbana e falta de segurança prejudicam a prática de atividade física regular, essencial para um sono reparador.

“As pessoas estão dormindo menos por causa das condições sociais. Quem precisa sair de casa muito cedo não tem como compensar o sono perdido. Com isso, aumenta o risco de doenças crônicas”, explica Soster.

Além dessas barreiras, há ainda a falta de acesso a serviços especializados em medicina do sono, o que dificulta diagnósticos e tratamentos adequados.

A especialista conclui que melhorar o sono também é uma questão de saúde pública. “Sem mudanças estruturais, milhões de brasileiros continuarão vivendo sem o benefício protetor que o sono concede”, afirma.

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