Dirceu Antonio Ruaro
Prezados leitores, inicio meu texto de hoje fazendo uma explicação. Como estamos de volta ao “aconchego da escola” e, na presencialidade, além de nossa preocupação com o ensino acadêmico, com os conhecimentos que nossos alunos, em qualquer nível de ensino devem construir, tem também, a questão humana da formação.
No século passado, havia, pedagogicamente falando, duas vertentes muito fortes no processo educacional: saber e saber fazer. Importantes pois, o conhecimento teórico dá sustentação ao conhecimento prático (às vezes vice-versa).
No entanto, apenas ensinar e ensinar a fazer não conseguem, sozinhos, dar conta da formação integral do ser humano.
Por isso, especialistas do mundo inteiro e em especial a UNESCO, por meio de estudos e pesquisas, apresentaram na última década do século XX, a proposta de uma educação baseada em 4 Pilares da Educação para o Século XXI, chamados de: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser.
Pois bem, gostaria de hoje, falar, especificamente do Pilar “aprender a viver juntos”. Sei, como seres humanos, que todos somos iguais, ainda que alguns valores se diferenciem, dependendo da família que fazemos parte e da sociedade em que vivemos.
Por essa razão, antes mesmo de a escola se preocupar com a conivência entre as pessoas, com o respeito às diferenças, ao diverso, às distintas culturas e raças, a família deve ensinar a convivência aos filhos desde cedo.
Assim, me atrevo a discordar da passagem bíblica que diz que é “preciso pôr a mão no arado e não olhar para trás”. E justifico. A expressão utilizada pela Escritura, aplicada à formação humana, ou melhor à formação social da humanidade, precisa “Pôr a mão no arado e olhar para trás” para analisar, refletir e compreender os fenômenos sociais pelos quais passamos e historicamente poder, de alguma forma, encontrar alguma razão que nos levou ao estado atual das interações sociais entre a família, a escola, a organização social, enfim, os seres humanos e, numa tentativa muito profunda entender o que aconteceu que nos levou a tanto preconceito, a tantas diferenças sociais e humanas.
Em todos os países, ou quase todos, a pessoa é considerada como um ser único, diferente um do outro, porém com direitos e deveres iguais.
No Brasil, está muito claro na Carta Magna, no seu art.5º reza: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade…”, e, no inciso – 41: “a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais”.
É interessante observar que, em algum lugar, em algum ponto, em alguma questão estamos falhando. E quem sabe, seja mesmo na educação familiar, na educação humana familiar e na educação humana escolar.
Por isso, é que a criança, deve ter uma educação familiar e escolar que, além de favorecer sua cultura geral, lhe permita, em condições de igualdade, a oportunidade de desenvolver suas atitudes, seu juízo individual, seu sentido de responsabilidade moral e social, e chegar a ser um membro útil e participativo da sociedade.
E, é dever da família e da escola proteger a criança contra todas as práticas que possam incentivar a discriminação.
A criança deve ser educada num espírito de compreensão, solidariedade, tolerância, amizade, paz e fraternidade. São direitos fundamentais para a vida de todas as crianças, e da sociedade humana, se quisermos ter humanos que respeitam humanos.
Por isso, a educação para a humanização dos humanos é extremamente importante para que as crianças aprendam a não discriminar nem ver o racismo, por exemplo, com algo normal.
A criança precisa ser ensinada, desde pequena, a compreender que a diversidade existe e como tal deve ser respeitada. As crianças devem fazer amigos e respeitar aos demais, independentemente de sua cor de pele, traços, cabelo, cultura e hábitos.
É lógico que o processo histórico da humanidade produziu as desigualdades sociais. Desigualdades econômicas, regionais, raciais, de gênero, entre outras.
Entendemos que a desigualdade social é um processo existente dentro das relações da sociedade, presente em todos os países do mundo e que faz parte das relações sociais, pois determina um lugar aos desiguais, seja por questões econômicas, de gênero, de cor, de crença, de círculo ou grupo social.
Sim, entendemos isso. Mas não entendemos como é que um ser humano não consegue ver o seu semelhante como outro ser humano que necessita de respeito e aceitação no meio familiar, escolar, social.
Quem sabe, em algum ponto da educação estejamos falhando. O discurso da igualdade social e humana é maravilhoso, mas enquanto discurso, é vazio, é oco, é sem ressonância social. Por ora, pense nisso, enquanto lhe desejo boa semana e, na próxima semana falaremos sobre o direito ao respeito, e a naturalização das diferenças, que é um dos componentes do pilar “aprender a conviver” ou, se quiserem: aprender a viver juntos.
Doutor em Educação pela UNICAMP, Psicopedagogo Clínico-Institucional e Pró-Reitor Acadêmico UNIMATER