Nunca gostei de ir a um posto de combustível para calibrar os pneus do carro. Sempre foi assim: deixava para a próxima abastecida. Dessa forma, os dias iam passando e a lembrança cada vez mais insistente. Num determinado momento, impossibilitado de adiar novamente, eu acabava cumprindo a referida tarefa. Com os pneus ‘oxigenados’, o carro torna-se, então, mais leve, o volante mais adequado. Um dia, talvez, vou descobrir os motivos dessa resistência em calibrar os pneus. Uma hipótese pode estar relacionada com o desapego: sempre entendi que carro é um meio apenas. Necessita de cuidados, mas não convém exagerado apego. Tenho consciência de que devo calibrar os pneus, mesmo não dando muito valor a essa ação. Convém esclarecer que não sou relapso, apenas… um pouco resistente. Tudo indica que, se der tempo, irei superar essa limitação.
Certa vez, enquanto o frentista calibrava os pneus, meu pensamento alcançou outras realidades. Fiquei pensando: quantas pessoas passam a vida toda sem nenhuma ‘calibragem’. A saúde precisa ser calibrada através da prevenção, o humor deve ser revisado continuamente, o amor à família deve ter a quantidade exata de “pressão”. O conhecimento aguarda sempre novas calibragens. Enfim, todos estão convocados a revisar continuamente outros ‘pneus’, além daqueles que permitem que o carro rode. Como tudo seria diferente se o respeito, a fidelidade e a paz recebessem o adequado e diário calibre! É comum ir adiando, deixando para depois ou, até, esquecendo definitivamente determinados valores que favorecem a edificação e a plenitude da felicidade. Um pneu não calibrado roda, porém com enormes desvantagens. Os valores humanos, quando não renovados e reavivados, deixam de deslizar espontaneamente no cotidiano da existência.
Muitas pessoas são atentas, cuidadosas e até detalhistas: nada passa despercebido. Cada gesto ou atitude acontecem no tempo certo. Com um pouco de organização e boa vontade, todos poderiam viver com mais serenidade, sem atropelos e com uma quantidade maior de satisfação. Acontece que é muito mais cômodo ir adiando, agendando para o dia seguinte, que nunca chega. As constantes perdas, referentes à qualidade de vida, estão atreladas aos adiamentos que vamos sustentando. Quanta gente deixando, inclusive, para ser feliz depois disso ou daquilo. Algumas ‘calibragens’ só produzem efeito em um tempo específico: hoje. Amanhã já será tarde demais. Adiar não é, em si, um problema. O complicado é não saber o limite e, posteriormente, amargar perdas irrecuperáveis. Estou consciente que não devo descuidar da calibragem dos pneus do carro que estou usando. Aos poucos vou melhorar nesse quesito. Tomara que todos consigam, no tempo certo, calibrar a esperança e a alegria de viver.
Pe. Lino Baggio, SAC
Paróquia São Roque – Coronel Vivida
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