Pe. Lino Baggio, SAC
A fé cristã não é um lançar-se no escuro, numa aventura ilusória e infantil. Faz-se necessário trilharmos um itinerário de amadurecimento, a fim de que possamos integrar todo o nosso ser na experiência de Deus. Tal progresso na fé não se resume apenas por uma formação doutrinal, não é uma questão somente de conhecimento dos conteúdos da fé, mas de integração da espiritualidade em todas as dimensões da vida, porque o crescimento na fé se dá através dos encontros com o Senhor no curso da vida.
A cada momento da história somos desafiados a “dar razões da nossa esperança” (1Pd 3,15), a encontrar respostas para as novas perguntas que nos interpelam. Muitas vezes temos a tentação de querer colocar “remendo novo em roupa velha” ou de guardar “vinho novo em odres velhos”, porém, “roupa nova exige remendo novo e vinho novo, odres novos” (Mt 9,16-17). É preciso coragem e ousadia para trilhar caminhos não pisados, pensar pensamentos não pensados, abandonar as seguranças das margens e “avançar para águas profundas” (Lc 5, 4). Pois o ser humano, chamado desde o início da criação à salvação, à comunhão com Deus é, simultaneamente, interpelado para se comprometer com as consequências que a aceitação desse amor e dessa salvação leva consigo, a saber, a responsabilidade pela própria existência, pela história humana e pela ecologia.
Dentre os vários caminhos de amadurecimento da fé podemos destacar a necessidade de superar a realidade de sombra que existe em nós, ou seja, somos todos pecadores e necessitados da graça redentora de Cristo. Reconhecer-se pecador é o primeiro passo para a conversão, para superar o fanatismo religioso. Como nos alerta o Evangelho: “Por que reparas o cisco no olho do teu irmão, e a trave no teu próprio olho não percebes?” (Mt 7,3). Somente quem se reconhece pecador e necessitado do perdão, pode agir com misericórdia para com os outros.
A maturidade da fé requer também comunidades minimamente saudáveis. Uma vez que a experiência cristã de Deus se concretiza em comunidade, precisamos cuidar para que esta seja também antropologicamente sadia. A comunidade como “lugar do perdão e da festa” precisa ser espaço de acolhida, fraternidade e partilha. Como nos exorta São Paulo: “como eleitos de Deus, santos e amados, vesti-vos com sentimentos de compaixão, bondade, humildade, mansidão, paciência; suportai-vos uns aos outros e, se um tiver motivo de queixa contra o outro, perdoai-vos mutuamente. Como o Senhor vos perdoou, fazei assim também vós” (Cl 3,12). A existência, portanto, de comunidades eclesiais sadias, onde as diferenças são respeitadas e o amor é a lei maior, constitui o espaço vital indispensável para o processo de amadurecimento da fé.
Há que se recordar que é o amor incondicional de Deus que constitui o centro da experiência cristã de Deus, não é o pecado e a culpa, porque “onde aumentou o pecado, superabundou a graça” (Rm 5,20). A consciência da nossa condição humana frágil e sujeita ao pecado não deve nos levar a mergulhar num “vale de lágrimas”, pois já fomos amados e perdoados por primeiro. Desta forma, podemos afirmar que a maturidade da fé passa necessariamente pela superação da culpabilização exacerbada e a abertura confiante à graça redentora de Cristo que primeiro nos amou e Se entregou por nós. Noutras palavras, é à luz e ao calor do amor de Deus que se faz o caminho do amadurecimento da fé.
Pe. Lino Baggio, SAC
Paróquia São Roque – Coronel Vivida
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