É preciso insistir na construção de valores

Dirceu Antonio Ruaro

Prezados leitores, tenho falado, nos últimos textos, sobre pilares da educação. Em um deles me referi à questão da educação integral. Não da educação integral dos políticos, não mesmo.  Nem das propostas de educação “em tempo integral”. Não, mesmo.

Isso não significa que eu seja contra, muito pelo contrário, penso mesmo que lugar de criança é na escola com todo o tempo possível para melhorar a sua formação acadêmica, humana, cultural, esportiva e artística.

Mas, estou me referindo àquela educação integral que cuida do “ser humano na sua totalidade”, ou seja, na formação de valores, que pode ser em tempo parcial ou em tempo estendido.

Por isso tenho dito e trazido à reflexão recomendações da ONU sobre a educação, quando diz que a “educação do século XXI, precisa ter pilares fundados no ser, no conviver, no aprender e no saber fazer”.

Reforcei, na semana passada a questão da convivência e, prezados amigos, tenho muito medo das competições que a sociedade vem impondo às nossas crianças e adolescentes, fazendo-os pensar que precisam ser melhores que os outros.

A questão é muito séria, porque o que se tem percebido é o deslocamento de foco: precisa ser bom e melhor em tudo, mas em relação a si mesmo, não em concorrência com os outros. Não se trata de ser bom ou melhor numa competição. A vida não é uma competição como querem fazer crer.  Não se trata de “alcançar o primeiro lugar”.

A convivência que a educação (famílias e escola) precisam ensinar é a ideia de que entre os seres humanos existe o pensar e o ser diferente um do outro e merecer o respeito humano pelo que se é. Essa percepção é muito complexa, eu sei. Entender que o outro que pensa diferente de mim tem o mesmo valor que eu, não é fácil.

A convivência com o outro ser humano apresenta-nos cotidianamente desafios, conflitos que precisam ser administrados pessoalmente por meio de muito entendimento, por meio do respeito mútuo, do diálogo, da escuta paciente e compreensiva, pelos valores humanos e muito, muito mesmo pela cultura da paz.

Confesso a vocês que vejo os atuais acontecimentos mundiais, especialmente do conflito Rússia/Ucrânia com grande apreensão e encontro-me em estado de alma estarrecida, quando ouço que um dos pilares da vida humana, que é o pilar espiritual, representado pelos “líderes” religiosos, no caso da Igreja Ortodoxa Russa e da Igreja Católica Apostólica Romana, não encontrarem uma forma de convergência para tentar superar a “matança” de seres humanos na Ucrânia.

Em alto e bom tom, o chefe da Igreja Ortodoxa Russa, o Patriarca Cirilo I, em resposta ao apelo de Francisco, o Papa da Igreja Católica, disse que “a operação especial” na Ucrânia é justa. Em outras palavras, aprova a invasão, a guerra, o genocídio e todas as consequências de uma guerra como essa.

Ora, como se pode esperar que um líder religioso de um povo não busque o entendimento, a paz, a preservação da vida humana, o respeito à vida”?

Por mais que eu tente entender, é difícil aceitar a declaração de Cirilo I, manifestado em suas declarações, tendo o ocidente como alvo de suspeitas e preconceitos.

Penso que as escolas devem, nesse momento, histórico, analisar os comportamentos humanos e discutir, no nível da compreensão de cada capacidade etária e de desenvolvimento, quais são os componentes de um conflito humano, para muito além da questão econômica e política.

Discutir e entender que os seres humanos, individualmente e coletivamente têm o direito de conquistar a interdependência, o bem-estar, o desenvolvimento, o crescimento e o respeito humano.

Que não é possível entender o cenário atual de representações da violência, da desigualdade social, econômica, religiosa e política, especialmente nos conflitos que enfrentamos diariamente, especialmente nas comunidades mais pobres brasileiras. 

Trabalhar o conceito de “aprender a conviver” para muito além das possibilidades econômicas, politicas e religiosas é sim, um dos maiores desafios da formação humana e da formação e construção de valores humanos.

Entender que uma sociedade justa, fraterna, colaborativa passa, necessariamente pelo trabalho da tolerância, da compreensão, da convivência desde cedo com diferentes pensamentos e grupos humanos, com os olhos postados na esperança, na fé e na espiritualidade, não de cenários e atos litúrgicos, com brilho de luzes e cores de roupagens, mas com os valores cristãos verdadeiros pois, em última análise, não existiu outro profeta, Deus ou como queiram tratar, que pregasse o amor e o respeito ao próximo como Jesus Cristo

o fez.

Entendo, que a missão da família e da escola seja de proporcionar uma interação construtiva, uma promoção da paz, uma vivência pacificadora que vá muito além, que marque para sempre a vida e as atitudes de nossas crianças e jovens, pense nisso, enquanto lhe desejo boa semana.

Doutor em Educação pela UNICAMP, Psicopedagogo Clínico-Institucional e Pró-Reitor Acadêmico UNIMATER

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