Educação financeira pode auxiliar a diminuir números de inadimplência

Ter um bom relacionamento com o dinheiro é essencial para evitar a inadimplência e tornar possível a realização de objetivos financeiros, além de permitir uma vida com mais conforto. Atualmente, ficou mais difícil para manter um bom padrão de vida, com o encarecimento de produtos básicos, está cada vez mais fácil ‘sujar o nome’ ao usar desenfreadamente o cartão de crédito, não ter uma reserva para emergências e precisar deixar de pagar a parcela do financiamento de um veículo ou de um imóvel e tornar as contas do mês uma bola de neve infindável.

De acordo com a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), através da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), houve queda no número de famílias que relataram ter dívidas a vencer entre maio e junho de 2022, com recuo de 0,1%, atingindo 77,3% de famílias. No entanto, se comparar o mesmo mês com junho do ano passado, houve uma alta de 7,6% de endividados. Confira a tabela abaixo:

O cartão de crédito se mantém como o item mais usado na hora de adquirir produtos, se conservando em primeiro lugar do ranking de endividamentos das famílias entrevistadas para a pesquisa. De todos os endividados, 86,6% possuíam dívidas ativas no cartão de crédito em junho de 2022, seguido de 18,3% com dívidas em carnês e 10,8% com financiamento de carros.

A inadimplência das famílias brasileiras registrou a primeira queda desde setembro de 2021, aponta a PEIC. Com 28,5% do total das famílias entrevistadas com dívidas em atraso no mês de junho. De todos os consumidores inadimplentes nesse mês, o percentual que não possui o segundo grau completo é de 33,4%.

Segundo a pesquisa, o fator principal para esse número é que “o mercado de trabalho está absorvendo trabalhadores com menor nível de escolaridade, mas o rendimento médio achatado pela inflação elevada dificulta a organização do orçamento familiar”. Do total de entrevistados para a realização da PEIC, 10,6% das famílias apontam não ter condições de pagar as contas em atrasos nesse mês.

Com o alto endividamento registrado no país, algumas famílias em situações mais vulneráveis se viram obrigadas a abrir mão de parte do seu consumo para pagar suas dívidas, principalmente após o cenário causado pela pandemia de covid-19, com manchetes estampadas em meios de comunicação mostrando a miséria de famílias que aguardavam horas na fila para adquirir ossos de carne, além do aumento da população de rua nas grandes cidades e a necessidade de trocar o fogão a gás pela, devido ao encarecimento do gás.

Educação financeira

A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) cita a educação financeira como um processo onde o indivíduo e até mesmo a sociedade melhoram sua compreensão sobre produtos e serviços financeiros. Através das informações e orientações recebidas sobre o assunto, esse mesmo indivíduo consegue desenvolver valores e competências para tomar decisões conscientes sobre oportunidades e riscos sobre o uso do próprio dinheiro, podendo contribuir conscientemente para a formação de uma sociedade mais responsável e comprometida.

Dessa forma, entendemos o assunto como algo além da teoria, envolvendo a realidade de cada um, o cotidiano e as despesas mensais, entendendo como funciona o dinheiro e quais são as melhores formas de lidar com ele sem ter consequências ao se envolver nas inúmeras operações financeiras disponíveis para a população.

De acordo com o economista e especialista em investimentos, Roger Alexandre Rossoni, a educação financeira é de extrema importância para todos, pois permite que a pessoa tenha uma relação saudável com o dinheiro, tomando decisões mais assertivas e de acordo com os próprios objetivos. Além disso, Rossoni cita o stress financeiro como fator de grande impacto no bem-estar. “O stress gerado pelo endividamento, impacta a saúde, bem-estar e produtividade das pessoas. Inclusive, muitas empresas tratam de educação financeira como um benefício para os colaboradores”, pontua.

Impactos na infância

Como grande parte da população não tem total conhecimento sobre as operações financeiras com as quais têm contato, é necessário usar da educação financeira para que os indivíduos tenham consciência sobre seus recursos e decisões sobre os gastos. Para isso, o economista cita a necessidade de abordar sempre que possível o tema na infância.

“Mesmo se tratando de uma criança, você consegue trabalhar alguns princípios: como a importância de poupar, de que o dinheiro é escasso, de que você precisa fazer escolhas e envolvê-los nesse processo”, destaca o profissional, complementando que o assunto é um ainda é um tabu na maioria das famílias.

Entre os benefícios de abordar o tema com crianças e adolescentes e o impacto em suas vidas a longo prazo, o economista cita o desenvolvimento de uma relação saudável com o dinheiro; o entendimento de que é necessário fazer escolhas e que elas impactam em suas vidas; e o tratamento do assunto com mais naturalidade.

“No longo prazo se tornam adultos mais seguros e mais racionais em suas escolhas financeiras. Conseguem viver o agora sem comprometer o amanhã”, complementa.

Benefícios

Falando sobre a população adulta, Rossoni cita a quantidade de material disponível sobre o tema, porém, destaca que o acompanhamento de um profissional pode auxiliar na economia de tempo, dinheiro e energia, “visto que ele tem uma metodologia de trabalho, uma curadoria de conteúdo e é uma pessoa capacitada”.

O acesso a educação financeira pode ser responsável pela mudança a longo prazo em vários setores, com os impactos extrapolando o campo da vida financeira. “A população passa a ter a visão do dinheiro como meio e não como fim. Suas escolhas passam a ser pautadas em seus objetivos e metas”, afirma o economista.

A realização de cursos voltados para que comunidades estrangeiras aprendam sobre educação financeira, como é o caso da comunidade haitiana que procurou a agência do Sicredi de Pato Branco para receber aulas sobre o tema, é de grande valia para integrá-los na sociedade. “Além dos benefícios da educação financeira por si só, é uma forma de integrá-los e dar maior autonomia. Essas pessoas passam a conhecer os produtos e serviços financeiros do Brasil, ferramentas de planejamento, fontes de crédito. Evitam de depender da boa fé de outras pessoas”.

Com impactos positivos na vida de cada um, saber como investir, proteger os próprios recursos, usar o crédito com sabedoria e ter o consumo planejado também impacta o futuro econômico do país. Aprender sobre educação financeira proporciona a compreensão sobre essas escolhas e o desenvolvimento de um bom relacionamento com o dinheiro e as possibilidades que os produtos financeiros propõem.

“Educação financeira não se trata de gastar menos, mas gastar melhor e de forma sustentável. Guardar dinheiro por guardar dinheiro, ser o tio patinhas, não faz muito sentido. O dinheiro é o meio e não o fim”, conclui.

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