Dirceu Antonio Ruaro
Amigos leitores, na semana passada, abordei a questão do diálogo como “escuta” na relação pais/filho/educadores. Salientei a necessidade de saber dialogar e mais do que isso, de saber escutar.
A questão da escuta é uma das grandes queixas dos filhos em relação aos pais e vice-versa. Por isso, penso que na interação familiar, é necessário desde cedo a prática da conversa, da escuta, da paciência, da intervenção, da amorosidade.
Quando falo dessas coisas lembro-me sempre da máxima de João Batista de La Salle: “é preciso educar com firmeza de pai e ternura de mãe”. Ou seja, é preciso ser firme quando necessário, mas ao mesmo tempo agir com ternura, sem afastar o filho.
Quando falei da questão do diálogo, da escuta na relação parental, considerei isso como um dos princípios da educação de filhos e, por conta disso, uma leitora enviou-me a questão que dá título ao texto de hoje: o que é a chamada “educação positiva”?
Antes de responder à questão, quero lembrar que a educação dos filhos, a educação de berço (que não pode ser comprada e/ou paga), é a tarefa mais importante e especial que um casal (seja do formato que for) recebe da sociedade e do (a) próprio (a) filho (a).
A relação parental educativa é, quem sabe, um dos pilares da educação que a sociedade sabe muito bem cobrar dos pais, mas que, infelizmente, está longe de contribuir para que se possa educar os filhos com a mesma medida que ela (sociedade) cobra dos pais.
A educação de berço é um processo, cujos resultados só colheremos muito para frente. Não tem como exigir da criança/adolescente, respostas imediatas sobre comportamentos porque é necessário dar o tempo que cada pessoa precisa para internalizar e apreender o que estão querendo ensinar com algum tipo de conceito ou conselho que é dado.
Como não há receitas para a educação de filhos, ou se quiserem, de pessoas, de tempos em tempos surgem correntes que tentam de alguma forma auxiliar os pais/educadores.
É lógico que essas correntes sofrem influências filosóficas, sociológicas, políticas, econômicas e religiosas entre tantas outras.
Na atualidade, ao lado de outras, existe a corrente chamada de “educação positiva” também chamada de “parentalidade positiva”, que nada mais é do que uma abordagem diferente das questões educativas. Uma abordagem mais “sutil”, baseada na “gentileza” nos relacionamentos e comportamentos interativos familiares.
Nessa abordagem, é central entender que é por meio do amor e do carinho, da afetividade, que se constrói o vínculo afetivo (ou vínculos afetivos).
Assim, nessa concepção, palavras rudes, brigas, discussões, gritos, castigos e agressões (sejam verbais ou físicas) entre outros comportamentos, são banidos e não servem, de forma alguma, para educar as crianças.
Como outras relações, as relações entre pais e filhos é, muitas vezes, complicada, (é preciso entender que os pais também vêm de relações parentais, nem sempre harmoniosas), o que pode causar traumas e/ou dificuldades emocionais. Por isso, é importante que pais e filhos construam desde cedo uma relação de confiança e acolhimento.
Sabe quando seu filho/filha rala o joelho numa brincadeira, e vem choramingar pra você? Pois é, é muito mais fácil dizer “não é nada, quando casar, sara”.
É nesse momento que construo uma relação de acolhimento ou de afastamento. Não preciso maximizar a “ralada de joelho”, mas posso agachar, olhar, assoprar, e dizer deixa eu ver…. Estão entendendo? Não é fazer uma tragédia da “ralação do joelho”, mas demonstrar que seja por um “joelho ralado” ou qualquer outra situação, “eu, seu pai/mãe, estarei com você”, entenderam?
Esse é apenas um pequeno exemplo. Temos outros somados a outros serão a causa dos “afastamentos” ou da falta de confiança entre pais e filhos.
A afetividade, a ternura não impede a firmeza, a construção de limites. Não é necessário confundir as coisas. Pensar que se agir com gentileza, se ensinar aos filhos gentileza, estarão “mimando” ou criando crianças dependentes.
Sabemos como pais e educadores, que a infância é o período mais adequado ao desenvolvimento da afetividade, da cordialidade, da construção de comportamentos mais humanos. Por isso, essa época da vida é considerada como a mais importante no desenvolvimento da criança. Criar conexões de simpatia, empatia, gentileza, humanidade, sinceridade e confiança é fundamental na primeira infância.
Sei que muitos pais perderam a oportunidade e hoje precisam dobrar os esforços porque suas crianças/adolescentes ainda não conseguiram construir a empatia necessária para que possam ser mais bondosas, compreensivas, respeitosas, responsáveis e resilientes. Mas, ainda há tempo, dê uma “espiada” nas conexões que você construiu com seu (sua) filho (a) e veja o quanto de “educação positiva”, mesmo sem saber, você proporcionou a ele (a), pense nisso, enquanto lhe desejo boa semana.
Doutor em Educação pela UNICAMP, Psicopedagogo Clínico-Institucional e Pró-Reitor Acadêmico UNIMATER