Dirceu Antonio Ruaro
Amigos leitores, tenho ouvido muito essa frase, especialmente quando mães/pais se encontram e discutem a educação de seus filhos.
Concordo, inicialmente, com a ideia. Porém, minha mente cerca-se de inúmeras perguntas, dúvidas, incertezas.
Educar para a vida sob que ótica? A serviço de quem ou de quê? Na visão de uma ideologia, de uma religião, da psicologia?
Ainda: o que é preciso levar em conta para educar nossos filhos para a vida no mundo atual?
Como nossos filhos aprendem, de fato? Não estou falando da aprendizagem escolar nesse momento, é claro. Mas sabemos como nossos filhos aprendem para a vida?
Como disse, é uma imensidão de perguntas, muitas sem nenhuma perspectiva de resposta ou com respostas absolutamente duvidosas e incertas.
Quando falamos com os pais, grande parte deles dizem que querem educar seus filhos para a vida de forma que não passem por aquilo que eles (pais) passaram.
Isso pode nos remeter a uma série de hipóteses: desde a de que os pais deles foram muito severos (levaram surras, castigos físicos, humilhações) até a questão econômico financeira da família.
Sabemos que até os anos 1980 (e temos muitos pais desse tempo), a grande maioria dos pais dessa geração ainda não adotava a “convivência fraterna e a divisão de responsabilidades pela educação dos filhos”, pois a grande maioria ainda vivida os reflexos da educação patriarcal a que foram submetidos. E, como sabemos, a educação patriarcal tinha como centro da família o pai, que era quem dava ordens e comandava a família.
Antes que pensem que sou contra que haja comando na família, preciso dizer que os pais (mãe e pai) precisam, mais do que nunca como na nossa atualidade compreender o papel deles e, especialmente, o papel de comandar a família.
Deixo claro, então, que a família precisa ter uma organização e, de certa forma, sim, uma hierarquia. Existem decisões que não podem ser tomadas aleatoriamente por qualquer membro da família. Temos de deixar claro e exercer os papeis de acordo com os componentes das famílias. É claro que não estou dizendo que a mãe tem o papel de ser a serviçal da casa e o pai o de “provedor” das finanças. Isso ficou lá, no século XX (se bem que ainda vigora em muitos lugares desse país afora).
Penso que a partir do momento que se decidiu por compor uma família (seja o tipo de família que for), é preciso saber que existem papeis definidos pela sociedade para os componentes familiares.
Imagino que o papel principal seja dos pais no sentido de entender a importância que é a educação dos filhos para a própria família e para a sociedade da qual fazemos parte.
Penso que é essa preocupação e de fato essa “atividade” dos pais que pode tornar os filhos pessoas melhores, para um mundo melhor. Mas a preocupação só não é suficiente.
Os meninos ainda, na atualidade, vêm seus pais como super-heróis e se perguntarmos o que eles querem ser quando crescerem, inevitavelmente a referência é o pai, assim como com as meninas, a referência é a mãe (claro, isso numa família tradicional, mas na mesma medida ocorre com outros tipos de família), sempre haverá uma referência paterna ou materna em quem as crianças se espelham.
Imagino que, na atualidade, tenho de pensar em duas questões muito sérias na educação das crianças. A primeira é ensinar pelo exemplo e a segunda preparar para os relacionamentos interpessoais.
Digo isso porque, pela experiencia como educador, tenho ouvido muito dos pais que quando pensam na educação dos filhos dizem: “projeto em minha mente como eles serão daqui a alguns anos. Homens/mulheres/pessoas de bem, felizes, capazes de reconhecer suas próprias virtudes e defeitos, capazes de amar e de fazer o bem àqueles com os quais convivam”.
Perfeito, aí está presente as duas questões a que me referi. Para que as crianças aprendam a ser esse tipo de pessoa precisam ter vivências, exemplos que transmitam valores e conceitos fundamentais para a formação da base moral, mental e sensível dos filhos.
Mas a vivência, especialmente para crianças e adolescentes, precisa vir acompanhada de explicações (não sermões). Explicações que criam um elo de confiança recíproca.
Quem experimentou uma educação centrada em valores e nos relacionamentos interpessoais, diante de um desafio da educação de seu filho, pode para e pensar: o que meu pai/mãe faria numa situação dessas? A vivência do exemplo trará a melhor resposta e a melhor saída para a dificuldade.
Sei, como educador que educar para a vida não é tarefa fácil nem simples. A educação exige paciência, serenidade, constância e exemplos e isso tudo é construção diária, ao longo do tempo, pois só saberemos se educamos para a vida, quando nossos filhos, terão eles mesmos que educar seus filhos e souberem usar as vivências que tiveram em suas famílias de origem, ou seja, na educação de filhos os resultados não são imediatos, pense nisso enquanto lhe desejo boa semana.
Doutor em Educação pela UNICAMP, Psicopedagogo Clínico-Institucional e Pró-Reitor Acadêmico UNIMATER