“Aos que executaram esse ataque, não perdoaremos nem esqueceremos. Caçaremos vocês e faremos vocês pagarem”, disse o presidente americano durante um pronunciamento na Casa Branca, no qual chamou os americanos mortos de “heróis”.
Biden disse ainda que pediu ao alto comando “planos” para atacar a facção do EI responsável pela ação – o Estado Islâmico Khorasan (Isis-K). “Responderemos com poder de precisão no momento que quisermos e no lugar que escolhermos.”
Biden, que foi eleito com a promessa de restaurar o respeito internacional aos EUA, cancelou sua agenda – incluindo um encontro com o premiê de Israel, Naftali Bennett – e passou o dia trancado com assessores na sala de crise da Casa Branca. O presidente, cuja imagem havia sido arranhada pela vitória do Taleban e pela retirada caótica de americanos do Afeganistão, passou a governar em modo de emergência.
No início da semana, pela primeira vez desde que assumiu, em janeiro, o número de americanos que aprovam seu governo (46,9%) passou a ser menor que os que rejeitam (49,1%), de acordo com a média de pesquisas compilada pelo site Real Clear Politics.
O ex-presidente Donald Trump, vendo o adversário nas cordas, aproveitou para marcar pontos e pediu mais uma vez a renúncia de Biden. “Ele deveria renunciar, o que não deveria ser um grande problema, já que ele não foi eleito legitimamente desde o início”, escreveu Trump, em mensagem aos eleitores.
Muitos senadores e deputados republicanos pediram o impeachment do presidente. “Este é o resultado da catastrófica de liderança de Biden”, disse o senador Josh Hawley. “Biden deveria sofrer um impeachment”, afirmou a deputada Diana Harshbarger. Para Ian Bremmer, fundador da consultoria de risco Eurasia, Biden precisa prestar contas ao país. “Ele não está sendo visto como um líder em tempos de crise”, disse.
“Não sei se Biden sofrerá danos permanentes”, disse Mark Rom, professor da Universidade de Georgetown. “Mas os republicanos farão de tudo para garantir que isso ocorra.”
O que ainda pode salvar a reputação do presidente, segundo Charles Franklin, diretor da Escola de Direito da Universidade Marquette, é a impopularidade da Guerra do Afeganistão. “Depois que os EUA retirarem as tropas, a questão é se a maioria ficará satisfeita. Nesse caso, o problema desaparecerá sozinho”, disse.
Ao Estadão, Fausto Godoy, coordenador do Centro de Estudos das Civilizações da Ásia da ESPM-SP e ex-embaixador do Brasil no Afeganistão, disse que o governo americano está perdido. “Os americanos não fazem a menor ideia de onde se meteram em 2001 e não têm ideia do que será esse período a partir de agora.”
As duas explosões foram no Portão Abbey, uma das principais entradas do aeroporto de Cabul, e no Hotel Baron, a poucas quadras de distância. Elas dizimaram famílias que esperavam desesperadamente pegar um dos últimos voos para fugir do país, que passou a ser controlado pelo Taleban desde a semana passada.
O número de americanos mortos foi confirmado pelo general Kenneth McKenzie, chefe do Comando Central dos EUA. Ele disse que mais 14 soldados ficaram feridos e alertou que o ataque pode não ser o último. “Temos outras ameaças ativas contra o aeroporto”, disse.
As tropas americanas, na maioria fuzileiros navais, eram parte do destacamento de 5,8 mil homens enviados por Biden para ajudar a retirar americanos e colaboradores afegãos do país. Segundo uma autoridade médica afegã, além dos militares, pelo menos outras 60 pessoas morreram e 140 ficaram feridas.
O duplo atentado significou a maior quantidade de baixas dos EUA no Afeganistão desde a queda de um helicóptero na Província de Wardak, em 2011, quando as 38 pessoas morreram, incluindo 31 militares americanos, sete integrantes das forças de segurança afegãs e um intérprete.
Horas depois das explosões em Cabul, o Estado Islâmico usou uma conta no Telegram para assumir a autoria dos atentados. Um funcionário do governo americano, na noite anterior, já havia alertado a respeito de uma ameaça “específica” e “real” ao aeroporto por parte do Isis-K, tanto que muitos governos ocidentais começaram a pedir que as pessoas a deixassem a área.
O novo regime afegão condenou o ataque e autoridades americanas disseram que não acreditam que o grupo esteja por trás das explosões – o que coloca os EUA e o Taleban diante de um inimigo em comum pela primeira vez desde que lutaram juntos contra os soviéticos, nos anos 80. Mesmo com um aviso específico, de acordo com oficiais militares dos EUA, seria muito difícil identificar um homem-bomba com um colete explosivo escondido em uma multidão tão grande de pessoas, como a do aeroporto. (Com agências internacionais). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Comentários estão fechados.