“A chamada eleição presidencial do regime de Assad não é livre nem justa”, disse o secretário de Estado norte-americano, Anthony Blinken, em um post no Twitter na quarta-feira. “Os EUA juntam-se à França, Alemanha, Itália e o Reino Unido no apelo à rejeição das tentativas do regime de recuperar a legitimidade sem respeitar os direitos humanos e as liberdades do povo sírio.”
Dois outros candidatos concorrem ao cargo mais alto do país, embora a competição com Assad seja amplamente vista como simbólica. Eles são figuras pouco conhecidas: Abdullah Salloum Abdullah e Mahmoud Ahmad Marie.
A partir das 7h (1h em Brasília), milhares de pessoas começaram a chegar às seções eleitorais em Damasco, lotando as ruas enfeitadas com pôsteres gigantes do presidente e faixas elogiando seu governo. A maioria não usava máscara. “Nós escolhemos o futuro. Escolhemos Bashar Assad”, dizia uma das bandeiras hasteadas na capital.
“Estou aqui para votar porque é um dever nacional escolher o presidente que vai nos liderar no próximo período”, disse o funcionário público Muhannad Helou, 38, que disse ter votado em Assad.
O presidente compareceu a um local de votação no subúrbio de Douma, em Damasco. A área era um dos principais redutos rebeldes do país até ser retomada pelas forças do governo em 2018, após ser palco, em abril daquele ano, de um suposto ataque químico que desencadeou reação militar dos EUA, Reino Unido e França.
“Não se espera que a eleição presidencial da Síria seja livre, justa ou legítima”, disse Edward Denhert, analista sobre o Oriente Médio da “The Economist Intelligence Unit”. Em nota, ele disse que a eleição simulada gerará nova condenação dos EUA e de algumas nações da União Europeia, aprofundando a crise entre a Síria e o Ocidente.
“Consequentemente, o regime de Assad será forçado a se inclinar ainda mais em direção a seus apoiadores russos e iranianos, e cada vez mais em direção à China”, disse Denhert.
Votação ‘ilegítima’
Nenhuma votação será realizada no nordeste da Síria, região controlada por curdos, ou na província de Idlib, no noroeste, que é o último grande reduto rebelde do país. Da mesma forma, em algumas partes das áreas controladas pelo governo, incluindo as províncias do sul de Daraa e Sweida, muitos rejeitaram a eleição, chamando-a de “ilegítima”.
No domingo, o primeiro-ministro sírio, Hussein Arnous, viajou para Sweida pela primeira vez em anos para se encontrar com autoridades locais. Há relatos de que ele foi recebido de forma negativa pela população, que se manifestou contra os gastos excessivos em campanhas pró-Assad na cidade, em um momento em que a região vive na pobreza.
A votação deste ano ocorre em meio ao péssimo desempenho da economia da Síria, que está em queda livre como resultado de sanções ocidentais, corrupção governamental e lutas internas, além do coronavírus e da crise financeira do Líbano, seu principal aliado.
Alguns eleitores que aguardavam nas seções eleitorais estavam usando máscaras. Nos últimos três meses, as unidades de terapia intensiva em hospitais públicos de Damasco atingiram sua capacidade total devido a um forte aumento nas infecções por coronavírus, levando os médicos a transferirem pacientes para hospitais em outras províncias. Em março, Assad e sua esposa, Asma, testaram positivo para o vírus.
Nos EUA, a administração Biden disse que não reconhecerá o resultado da eleição síria a menos que a votação seja livre, justa, supervisionada pelas Nações Unidas e represente toda a sociedade síria. Já o porta-voz do secretário-geral da ONU, Stephane Dujarric, afirmou a repórteres que a organização não está envolvida de forma alguma nas eleições, embora esteja ciente de que elas estão ocorrendo.
O ministro do Interior da Síria, Mohammad Rahmoun, disse que 12.102 seções eleitorais foram instaladas em todas as províncias do país. Ele afirmou que há mais de 18 milhões de eleitores qualificados na Síria, de uma população estimada em 23 milhões. Fonte: Associated Press.
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