Em ‘Cinderella’ e ‘Donna Summer’, elencos tomam todos os cuidados sanitários

Atores e equipe técnica do espetáculo Donna Summer Musical estavam reunidos no palco do Teatro Santander, na tarde de domingo, 29, quando a reportagem do Estadão chegou para acompanhar o ensaio geral. “Decidimos que o elenco não vai mais usar o face shield durante a apresentação”, contou Julio Cesar Figueiredo, que divide a produção com Bárbara Guerra. “O escudo abafava o som e impedia que as falas e o canto fossem bem compreendidos.” Assim, com o aval de todos, a proteção foi trocada por uma bateria mais intensa de testes de covid: quatro semanais, em vez das duas habituais.

Esse foi mais um elemento na lista de cuidados que cercam a produção do musical, que já é grande: o uso de máscaras é obrigatório nos bastidores e, nos camarins e no refeitório, placas de acrílico separam as pessoas. Também não são recomendados banhos nos vestiários e a equipe técnica utiliza um macacão antiviral. “Conseguimos, assim, não ter nenhum caso de covid”, festeja Figueiredo.

Inspirado na trajetória de Donna Summer (1948-2012), considerada a rainha das pistas de dança, o espetáculo, que estreia nesta quinta, 2, conta com 24 atores e uma equipe técnica ao redor de 50 profissionais. “Temos ainda dois substitutos para o elenco e outros dois para a equipe técnica, caso seja preciso fazer alguma troca”, lembra o produtor.

A abolição do face shield foi comemorada pelo elenco. “Realmente, dificultava nosso retorno e abafava nossa voz – e ainda parecíamos personagens da série Black Mirror”, brinca Karen Hils, que vive Donna Summer na terceira fase de sua vida – antes, as intérpretes são Jeniffer Nascimento e Amanda Souza. O espetáculo, aliás, abre com uma saudação de Karen que se encaixa perfeitamente no momento atual. “É emocionante dizer ‘que bom que vocês estão de volta’, pois, no contexto de agora, comprova a resistência da classe teatral.”

O musical chegou a estrear em março de 2020, mas não completou duas semanas em cartaz, com a interrupção de todas as atividades culturais determinada pelo governo paulista. Desde então, ao menos quatro datas de reestreia foram anunciadas, mas logo desmarcadas, devido à instabilidade do controle da pandemia.

“E, quando pudemos retornar ao trabalho, minha agenda ficou lotada”, conta Jeniffer, que interpreta Donna no auge da carreira. “Além do musical, participo ainda da gravação de dois programas de TV e duas séries. Com isso, não terei nenhuma folga em setembro.”

Jeniffer, assim como o restante do elenco, sentiu o longo tempo parado. “Todos continuaram exercitando a voz, mas é diferente quando você volta à ação – desacostumei de dançar com salto alto e senti um pouco de cãibra no ensaio”, conta.

Já Amanda Souza, que interpreta a Donna jovem, assumiu uma das falas da personagem como mantra para reforçar sua motivação. “Gosto quando ela diz que fazia cada show como se fosse o último – provoca uma energia muito positiva.”

A identificação com os personagens também é uma marca do elenco de Cinderella, o Musical, que estreia no Teatro Liberdade, na quinta, 2. Com canções da célebre dupla Richard Rodgers e Oscar Hammerstein II, autores de peças que determinaram os pilares dos musicais da Broadway nos anos 1940, o espetáculo continua com a direção da dupla Charles Möeller e Claudio Botelho, responsável pela versão que estreou em 2016, com a colaboração agora de Vanessa Costa.

“O tom é fabular, mas buscamos um novo posicionamento dos personagens, mas sem que eles perdessem suas principais características”, comenta a encenadora. De fato, Cinderella, originalmente criado em 1965, é um musical majestoso e lida com o universo da mulher e o direito de lutar pelos seus sonhos.

“Crescemos convivendo com esses personagens, mas os tempos mudaram”, observa Fabi Bang, que interpreta a protagonista como uma mulher mais decidida. “O público, especialmente o feminino, não quer mais ver submissão em cena.”

O discurso é compartilhado por outras intérpretes femininas. “As cenas de bullying e assédio moral sofridas por Cinderella foram criadas a fim de causar indignação mesmo”, observa Thuany Parente, que vive Gabrielle, uma das meias-irmãs de Cinderella. “E o texto é mais empoderado, mostrando como ela consegue sobreviver em meio ao caos, com a madrasta e as irmãs a fazendo sofrer”, completa Luana Bichiqui, intérprete de Charlotte.

E, para que as atitudes do trio, especialmente da Madrasta, não tenham apenas características maldosas, a decisão foi buscar abrigo no humor. “Procuro ressaltar a ironia nas minhas falas”, justifica Gottsha, a Madrasta. “Mas de uma forma sutil, preservando o humor e temas delicados como desafiar o racismo e sexismo.”

Outra quebra de padrão aparece na conduta do Príncipe Topher, vivido por André Loddi – como se fosse um personagem shakespeariano, ele revela sua dúvida, logo na primeira canção, se tem ou não vocação para ser rei. “Como sempre viveu dentro o palácio, o príncipe não percebe os problemas sociais da aldeia e só descobre quando Cinderella comenta durante o baile”, diz Loddi. A mensagem é reforçada por Jean Michel, rapaz da aldeia que prega a liberdade entre as pessoas. “Isso comprova como o musical não envelheceu”, comenta seu intérprete, Diego Montez.

SERVIÇO

CINDERELLA, O MUSICAL

TEATRO LIBERDADE

RUA SÃO JOAQUIM, 129. TEL.: (11) 3207-9760. 5ª e 6ª, 20h30. SÁB., 16H E 20H30. DOM., 16H E 20H. R$ 120 / R$ 240

SUMMER – DONNA SUMMER MUSICAL

TEATRO SANTANDER

AV. PRESIDENTE JUSCELINO

KUBITSCHEK, 2.041. 5ª E 6ª, 21H.

SÁB., 17H30 E 21H. DOM., 16H E 19H30.

R$ 75 / R$ 280

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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