O anúncio ocorre dois dias após o primeiro-ministro etíope e vencedor do Nobel da Paz de 2019 convocar seus cidadãos a pegarem armas e se defenderem contra as tropas da Frente de Libertação do Povo de Tigré (FLPT), que governa a região de Tigré. As medidas sugerem que a situação do conflito para o governo federal seja pior do que Adis Abeba vinha afirmando.
Nos últimos dias, a FLPT disse que dominou duas cidades na região de Amhara, Dessie e Kombolcha, o que colocariam suas tropas na localização mais próxima de Adis Abeba desde que os rebeldes passaram a avançar em outras regiões, em julho, alegando a ofensiva como uma tentativa de quebrar o cerco que vem impedindo a chegada de ajuda humanitária em Tigré. Segundo a ONU, a guerra civil levou 400 mil pessoas na região a passarem fome. A organização já acusou o governo federal de bloquear a entrada de ajuda.
De acordo com o Washington Post, o Exército de Libertação Oromo (OLA, na sigla em inglês) e a FLPT – ambos classificados após o início da guerra como grupos terroristas pelo governo etíope – estão “unidos” em uma linha de frente à cerca de 370 quilômetros ao norte de Adis Abeba. Citando porta-vozes dos dois grupos, o jornal disse que ambos afirmaram que uma solução pacífica está descartada.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, que pediu “cessar imediato das hostilidades” e “acesso humanitário irrestrito”, está “extremamente preocupado com a escalada da violência na Etiópia e a recente declaração de estado de emergência”, disse o porta-voz da ONU Stephane Dujarric em um comunicado. “A estabilidade da Etiópia e da região está em jogo”, escreveu.
A embaixada dos EUA em Adis Abeba disse que sugere “fortemente” que cidadãos americanos “reconsiderem seriamente” uma eventual viagem à Etiópia e que aqueles que estão no país africano considerem se preparar para deixá-lo.
Também nesta terça-feira, o presidente americano Joe Biden disse que pretende cortar a Etiópia de uma lista de países africanos que recebem amplas isenções alfandegárias para exportar seus produtos aos EUA por causa das violações de direitos humanos durante a guerra civil, marcando a ação mais forte de Washington até o momento desde o início do conflito.
A guerra civil, iniciada em novembro de 2020, gerou uma das maiores crises humanitárias da atualidade, deixando dezenas de milhares de refugiados e milhões de deslocados internos. Todas as partes do conflito já foram acusadas de atrocidades, mas a maioria das acusações recai sobre milícias regionais e as tropas da Eritreia. (Com agências internacionais).
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