Qual foi a reação da sociedade peruana aos áudios de Montesinos?
A primeira reação da sociedade aos áudios e à participação de Vladimiro Montesinos foi de surpresa. Mesmo 20 anos depois da queda do regime de Fujimori e da divulgação dos vídeos originais em que ele aparece subornando políticos, impressiona que, de dentro de uma prisão de segurança máxima, ele ainda tenha algum papel na vida política nacional. A reação política, no entanto, variou de acordo com o lado da polarização política. Entre os apoiadores de (Pedro) Castillo, a esquerda e o antifujimorismo, a narrativa é de que Montesinos tentou favorecer a campanha de Keiko Fujimori de forma corrupta, ao mesmo tempo em que deslegitimou o entorno da campanha, por não terem tido sucesso em seus pedidos à Justiça. No lado de Keiko, as reações são mais discretas e, em geral, afirmam que os áudios seriam falsos.
Por que o tema não reverberou com mais intensidade na sociedade peruana?
Estão ocorrendo tantas coisas em paralelo no Peru que é difícil manter a atenção em apenas um tema. A situação de Montesinos foi destaque por um par de dias, mas agora já existem outras coisas, como um pedido do Força Popular (partido de Keiko Fujimori) para que a OEA interfira no resultado da eleição. Outra questão que foi levantada é que os áudios fazem parecer que Montesinos teria mais poder do que ele tem. Montesinos fala sobre subornar as autoridades, fala como fazer. Mas afirmar que mediante o contato de Montesinos se conseguiu algum resultado, é diferente.
O que acontece a partir de agora? Afeta de alguma maneira a credibilidade das eleições? Há implicações legais?
É uma peça a mais nesta engrenagem que claramente afetou a integridade das eleições peruanas. Em múltiplas frentes se tentou manchar o processo e creio que esse é um elemento a mais que colabora com essa imagem e percepção de que houve irregularidades. É um efeito que se forma em conjunto com outros fatores. E, certamente, também haverá implicações legais. Não apenas para o preso (Montesinos), que deve perder esse privilégio de poder ligar para qualquer pessoa de dentro de uma prisão de segurança máxima, como também para o sistema prisional e para as forças armadas, que terão de apurar as responsabilidades pelo que se passou.
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