Dirceu Antonio Ruaro
Nos cruzamentos das linhas férreas há uma sequência de placas que dizem: Pare! Olhe! Escute! Vou, prezados leitores, usar esses dizeres das placas de advertência desses cruzamentos, para conversar com vocês no texto de hoje.
Sei que a vida atual é muito conturbada. Sei que os pais vivem em função do relógio. Tudo está cronometrado, agendado, estabelecido. A vida moderna funciona por meio do relógio. É ele que determina, não só as horas, mas inclusive nossos comportamentos e ações.
Não estou pondo o relógio em julgamento. Mas, de certa maneira, somos escravos desse equipamento. E, não sei se para responder aos nossos compromissos teríamos outra forma.
Mas, nossas agendas, tão modernas e complexas, na maioria das vezes não são alimentadas pelas questões de atenção que temos de dar aos nossos filhos.
Não é tão automático assim educar filhos, dar atenção aos filhos, conviver com os problemas, dúvidas e anseios deles.
O certo é que desde pequenos exigem atenção, pedem atenção, imploram por atenção.
Observe que usei uma gradação. Quando pequenos não temos alternativa, as exigências e atenção para a alimentação, para a saúde, para o bem-estar são imperativos aos quais não podemos fugir.
Quando crescem um pouco e começam a ter autonomia, pedem nossa atenção para suas interrogações e descobertas. Nesse período, é muito comum que boa parte dos pais transfiram esses “pedidos de atenção” para a escola. E as crianças aprendem que apesar de considerar seus pais como super-heróis, na verdade eles são “super-heróis” muito ocupados.
Na chegada da pré-adolescência e da juventude, já não exigem, nem pedem atenção, pelo contrário, imploram por ela. E imploram por meio das mais diversas maneiras: indo mal no rendimento escolar, comportando-se inadequadamente, chegando tarde em casa, não dando satisfação do que fazem ou do que querem, vivendo isolados no quarto deles entre tantas outras formas.
Nessa altura preciso perguntar, caro leitor, em que medida você, como pai ou mãe, desenvolveu um elo seguro de vínculo com seu filho, de atenção com seu filho, de observação e de compreensão de como é seu filho.
Em que momentos da vida de vocês, em família, você demonstrou que estava acompanhando, compreendendo e atendendo as necessidades de atenção de seu filho? Lembra daqueles tropeções, arranhões que eles levam quando começam a correr e você diz: não corra…você vai cair… lembra? Pois é…, ali se criava os lações de cuidado, segurança, atenção que o filho precisa.
Em que momentos você dispensou a atenção sobre questões como: “mas por que é assim”?
Como você desenvolveu os sentimentos de confiança e atenção naqueles momentos, por exemplo do sono: medo de dormir sozinho, medo de sonhar, medo de bichos, medo… medo…medo do medo?
Percebe que os pequenos atos de presença, de atenção, de carinho são os meios de criar os laços de afeto, atenção e segurança que as crianças precisam no processo de seu desenvolvimento?
Em que medida você como pai ou mãe, conhece os sentimentos de seus filhos, dos menores aos maiores e sabe dizer o que eles estão sentindo?
Em que medida respeitamos, e aceitamos nossos filhos adolescentes? Penso que quando respeitamos, aceitamos nossos filhos como são e os avaliamos positivamente, estamos olhando incondicionalmente para eles. Demonstramos que nosso amor para com eles é incondicional, ou seja, não depende de nada. Amamos os filhos por quem eles são e não pelo que fazem e deixam de fazer. Estamos olhando nossos filhos incondicionalmente ou nosso amor para com eles depende de algo (resultados acadêmicos, comportamento, atitude, entre outros?)
Dizíamos antes que a primeira característica do apego seguro era a proteção. Pois bem, a outra face da moeda da proteção e segurança consiste em favorecer a autonomia, o que é a mesma coisa, favorecer sua curiosidade e seu espírito aventureiro e explorador. Viemos a esse mundo com a emoção da curiosidade no kit de sobrevivência, o que nos faz ter muita vontade de aprender coisas novas. É de vital importância, não só que achemos bom que nossos filhos sejam curiosos, mas que os convidemos a fazê-lo.
Enfim, para o ser humano é de vital importância sentir-se parte de um grupo. Você sabe quais são os lugares nos quais seu filho se sente parte do grupo? Um deles é a sua família?
Convido você, caro leitor, a responder para si mesmo os questionamentos que apontei ao longo do texto e tentar responder a indagação que dá título ao nosso texto de hoje: em que medida prestamos atenção nos comportamentos de nossos filhos, para entender que tipo de elo, representamos para eles, pense nisso enquanto lhe desejo boa semana.
Doutor em Educação pela Unicamp, Psicopedagogo Clínico-Institucional, Pró-Reitor Acadêmico UniMater
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