Vivemos um tempo de transformação. E não podemos negar que existe uma crise econômica, social, eclesial e cultural. Morre um mundo e nasce outro. Morre um modo de viver a fé. E os jovens são aqueles quepoderão ser protagonistas de um novo nascimento.
Também vivemos o tempo do imediato, do que precisa ser feito aqui e agora, sem delongas, sem demora. Nem sempre esse desejo do imediato é acompanhado pela reflexão. Não sabemos colocar o pé no freio. Compramos o que temos vontade e pagamos com cartão de crédito, com pagamentos a perder de vista. Mas, queremos agora. Essa característica da busca do imediato lembra os caprichos de uma criança que esperneia enquanto não consegue o que quer na rua, na igreja e na sala de espera do consultório médico. As pessoas querem tudo rapidamente e não se dão o tempo de pensar, de escolher, de decidir com um mínimo de discernimento. O tempo da juventude não seria o tempo de escolhas importantes que marcam a vida de uma pessoa para sempre? Será possível melhorar nossas escolhas?
A realidade é como um líquido que escorre por entre os dedos. Nada passa a impressão de ser sólido. Os relacionamentos são fugazes: casamentos, amigos, convicções. Onde o jovem encontrará uma âncora vital que o ajude a navegar no vaivém das oscilações da vida? O mundo nunca foi estático. Mas hoje está muito desafiador. É possível encontrar um sentido último para a vida e que oriente as decisões e ajude a construir projetos existenciais que valham a pena?
Vivemos num mundo descosturado. Cada fragmento tem sua lógica, obedece a seus princípios, contém seus “valores”, uns separados dos outros. Os jovens vivem essa descostura na carne. Muitos deles trabalham para ajudar na renda familiar. Não têm tempo de aprofundar seus estudos e nem de conhecer-se a si mesmos. Como esses jovens poderão participar de grupos de jovens, de espaços de iniciação cristã e de reorganização de seu universo? Como viver com eles? Como eles poderão sentir a beleza da fé vivida por outros?
Há jovens de todos os tipos e horizontes. Vemos uma certa juventude que cresce em ambientes familiares de compreensão, de harmonia. Crianças que encontram regularmente os pais, que sentem a firmeza do relacionamento dos mesmos, que vivem a segurança na vida, apoiadas no sólido amor dos pais. De outro lado vemos jovens que vivem em ambientes de profunda hostilidade familiar. São filhos de mães solteiras, criados pelas avós. Jovens que têm que conviver com “meio-irmãos”, filhos do novo companheiro da mãe. O que realmente se passa na cabeça desses jovens? Onde estão? Como atingi-los com o Evangelho?
Nossos jovens crescem num ambiente marcadamente consumista. O mundo é consumista. A vida é consumista. Os meios de comunicação falam de consumo, convidam ao consumo. Consumo de bens, consumo de coisas modernas, de viagens, de pessoas. Além do mais, vivemos a cultura do êxito. É preciso vencer na vida. Há a competição. Competição que estressa. Competição que aponta para uma certa eliminação do outro. Há famílias que treinam os filhos para estudar, vencer na vida e assim poderem desfrutar de folgada situação financeira em suas vidas. Êxito e sucesso também nos relacionamentos amorosos: corpos sarados, bem cuidados, cuidados demais. Meninas magras e rapazes “bonitos”. Culto das aparências: beleza do corpo, viagens, carros e facilidades.
Construímo-nos como pessoas em relação com os outros. Os jovensde hoje, como nunca antes, vivem possibilidades de comunicação e de relacionamentos quase ilimitados. Conhecem melhor o mundo do que aqueles de gerações anteriores. Também se deslocam e se locomovem muito mais. Com tudo isso, a solidão parece ser uma ameaça real para não poucos jovens. Nem sempre conseguem viver uma amizade em profundidade. Vínculos que pareciam muito estáveis se desfazem com relativa facilidade. Pode o evangelho nos ajudar a vivermos vinculações mais sólidas, mais estáveis, de pessoas mais comprometidas umas com as outras? Pensemos nisso e que Deus nos abençoe!
Pe. Lino Baggio, SAC
Paróquia São Roque – Coronel Vivida
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