Talvez o leitor já tenha tido a curiosidade de saber o que significa o B. de Jordan. É uma palavra do idioma africano swahili, Bakari. Quer dizer ‘nobre promessa’. A definição ajusta-se perfeitamente em Jordan, que já ultrapassou essa etapa. Aos 34 anos, ele ganha o filme Sem Remorso – que espera-se que se torne parte de uma franquia-, disponível no Amazon Prime.
Tom Clancy na veia. Jordan coestrelou o megassucesso Pantera Negra, na pele do antagonista de T’Challa (Chadwick Boseman). Curiosa escolha do diretor Ryan Coogler, que já havia dirigido Jordan em Fruitvale Station – A Última Parada e o primeiro Creed: Nascido para Lutar.
Talvez se perceba melhor hoje em dia, após a morte prematura de Boseman. O fato de ele estar se tratando do câncer era um segredo de Estado. Depois vieram as histórias – Boseman filmou muitas cenas de ação sob intenso sofrimento físico. Seu olhar é sempre compassivo. Jordan, pelo contrário, como Erik Killmonger, é insolente, agressivo, provocador. Um negro que encara, não olha para baixo. Na trama de Sem Remorso, ele integra um grupo de operações especiais. A cena de abertura mostra uma ação coordenada que termina em conflito interno – John Kelly acusa o agente de ligação com a CIA (Robert Ritter, interpretado por Jamie Bell) de ter armado para o grupo.
De volta aos EUA, dois parceiros de Kelly são mortos. Ele sobrevive, mas sua mulher grávida – e o bebê – é assassinada. A versão oficial é de que foram russos agindo em solo norte-americano. Kelly e o público desconfiam do envolvimento de Ritter. Ele vai à luta, sedento de vingança. Sua superior serve de anteparo, protegendo-o na cadeia de comando. No final, e aqui tem spoiler, Kelly ganha nova identidade, vira John Clark. A última cena promete a franquia, mas antes disso tem outra cena, mais importante. Um diálogo. Alguém, o verdadeiro vilão dessa história, explica que a economia dos EUA é movida pelo establishment militar. São trilhões de dólares, e por isso a ‘América’ precisa de inimigos, para manter ativo o espírito beligerante. Se não tem inimigos, fabrique-os.
John Kelly surgiu num livro dos anos 1990, mas parece sob medida como crítico da era Donald Trump. Ele participa de algumas aventuras de Jack Ryan. Dependendo da aceitação do público, não é improvável que tenhamos uma parceria dele com Ryan – e a série com Krasinski, por sinal, também é uma produção da Amazon. Jason Bourne fez história com suas lutas em ambientes fechados. Kelly está preso num cubículo. Entra um grupo superarmado. Escudos, máscaras, cassetetes, armas. Com meia dúzia de golpes certeiros, Kelly coloca todo mundo a nocaute.
Força em cena. Jordan possui uma persona forte, poderosa. Tem brilho de astro – o Denzel Washington da nova geração? Mas há, aqui, outro fator importante, a par do protagonista. É o diretor italiano Stefano Sollima. Nascido em Roma, em 4 de maio de 1966, Stefano tornou-se conhecido por séries e thrillers – All Cops Are Bastards, Gomorra, Suburra e Romanzo Criminale -, antes de fazer Sicário 2 – Dia do Soldado, tão bom e até melhor do que o primeiro, de Dennis Villeneuve. Quem viu deve se lembrar do personagem de Benicio Del Toro. Já era o embrião John Kelly Clark.
Direção. Quem conhece spaghetti western e pensa que só Sergio Leone é grande no gênero, não sabe de nada. Existem os outros Sergios, o Sollima, pai de Stefano, e o Corbucci. Sollima pai fez uma memorável trilogia interpretada por Tomás Milián. Corbucci criou, com Franco Nero, o culto a Django, que inspirou Quentin Tarantino.
Somem esses dois ao Damiano Damiani de Quién sabe? e representam a tendência mais ideológica do faroeste italiano. Stefano não precisou frequentar nenhuma academia de cinema. Aprendeu em casa. Carrega o DNA no sangue.
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