Morador de Leme, cidade localizada entre Campinas e Ribeirão Preto, ele contou que havia feito uma descarga de ração em uma empresa de Salto de Pirapora e retornava vazio quando precisou passar pelo bloqueio dos caminhoneiros. “Eu estava indo embora para minha casa e fui obrigado a parar aqui. Não tem uma pauta de reivindicação para os caminhoneiros, infelizmente. É uma paralisação política.”
Carvalho havia carregado o caminhão de madrugada e esperava retornar em tempo de pegar outra carga à tarde, mas não conseguiu ser liberado. Quando falou com a reportagem, ele estava havia quatro horas no acostamento da rodovia, vigiado pelos organizadores da mobilização. “Não vejo futuro nenhum (no movimento) para nós caminhoneiros. Não tem discussão de preço do óleo diesel, do gás de cozinha, redução no preço de alimento.”
O caminhoneiro ouviu as lideranças pregando contra o Supremo Tribunal Federal (STF), que não estaria deixando Bolsonaro governar, mas não concordou. “Se o presidente acha que o Supremo está incomodando, ele deveria mudar a forma de indicação dos ministros, pois a indicação para o Supremo é feita pelo próprio presidente. Não é fazendo essas paralisações que vai resolver o problema do Supremo”, disse.
Carvalho fez questão de deixar claro à reportagem que estava ali porque era obrigado, por receio de sofrer alguma depredação no caminhão, caso se dispusesse a deixar o local. “Por mim teria ido embora, porque não tem uma pauta de reivindicação em prol da população. Não é uma pauta nossa, civil.” O caminhoneiro gravou áudio vigiado de perto pelos líderes da mobilização que, antes, disseram que não dariam qualquer declaração à reportagem. Um dos líderes do grupo afirmou que era melhor a reportagem procurar “outra coisa para fazer”.
O motorista Wilson Jesus dos Santos, de 60 anos, estava no local havia 13 horas. Ele foi parado às 10 da noite de anteontem. Reclamou que estava sem comer. “Sou caminhoneiro há 20 anos e nunca participei de manifestação nenhuma, nem pensava em participar, mas me abordaram.” Ele disse que ficou com medo de furar o bloqueio, pois estava com um caminhão-tanque de combustível. “Está vazio, mas sempre há um risco. Quando parei, eles bateram palmas, mas nem sabem que eu queria mesmo era ter ido embora.”
Santos contou que havia carregado em Barueri e seguiu com o combustível até Itapeva, no sudoeste paulista, onde fez a descarga em postos de abastecimento. Ele optou por retornar pela SP-264 para evitar os pedágios da rodovia Raposo Tavares, mas encontrou o bloqueio. “Votei no Bolsonaro, mas vejo que ele é difícil de tomar as decisões certas. Os combustíveis estão caros e acho que é mais por culpa dele. Estão falando em STF, mas o foco deveria ser o preço do combustível. Assim que me liberarem, vou embora.”
Outro a ser parado contra a vontade, o motorista Luís Ricardo de Toldo Camargo estava próximo do seu destino quando caiu no bloqueio. “Estava a 700 metros da minha empresa e fui obrigado a parar. Eles me seguraram. Não ia me arriscar a passar. Não sei o que estou fazendo aqui, não sei de reivindicação nenhuma que seja do nosso interesse”, disse. Meia hora depois da entrevista, caiu uma pancada de chuva e os líderes relaxaram a vigilância. Camargo aproveitou para sair com o caminhão, mesmo sendo xingado pelos manifestantes.
O bloqueio era acompanhado por seis homens da Polícia Militar Rodoviária em três viaturas. Os policiais disseram ter havido um acordo para que não fosse barrada a passagem do caminhoneiro que quisesse seguir em frente. No local, um trecho urbano da rodovia, havia lombadas no asfalto, obrigando os veículos a reduzirem a velocidade. Quando um caminhão se aproximava, os líderes se postavam na pista com bandeiras do Brasil e instavam para que parasse. Quando o caminhoneiro seguia adiante, era insultado aos gritos.
Durante a chuva, no meio da manhã, os líderes se reuniram em uma barraca e avaliaram a possibilidade de trancar a estrada com caminhões de pedras, ou usando pneus queimados. A ideia, porém, foi abortada.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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