“O ministro da Economia do Brasil, Paulo Guedes, erroneamente me atribuiu ontem a redação da carta em que os ex-presidentes Lula e Cardoso defendem a integridade do Mercosul e afirmam que não é hora de reduzir a tarifa externa comum unilateralmente”, escreveu Scioli em nota.
Durante uma audiência na Comissão Temporária do Senado que acompanha a pandemia, Guedes criticou nesta sexta-feira, 25, a posição do governo de Alberto Fernández em assuntos que envolvem o Mercosul. O ministro disse que a Argentina veta acordos comerciais do bloco com outros países e mencionou a carta divulgada por Lula e FHC no começo de junho. Em um primeiro momento, Guedes disse que Scioli “escreveu” a carta. Porém, imediatamente acrescentou o verbo “assinou”.
“Inclusive, o embaixador da Argentina veio ao Brasil e escreveu uma carta, assinou um documento junto com o ex-presidente Lula e com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso dizendo que o Brasil está ameaçando o Mercosul, quando é exatamente o contrário”, disse Guedes enquanto criticava o país vizinho.
Na nota divulgada hoje, Scioli também rebateu a afirmação de Guedes de que a Argentina impede a modernização do Mercosul. “Quero afirmar que estas afirmações não estão condicionadas ao espírito de unidade e compromisso com a integração bilateral que sempre promovi em todos os meus encontros com governadores, empresários e lideranças políticas a favor da integração dos dois países e do aprofundamento do vínculo entre a Argentina e o Brasil”, escreveu o embaixador argentino.
Scioli disse que já se encontrou com Lula e FHC, assim como já se reuniu com os ex-presidentes Fernando Collor de Mello (PROS) e José Sarney (MDB), mas reiterou que não “promoveu” a carta.
Ao dizer que o governo de Fernández exige o poder de veto sobre acordos comerciais do bloco sul-americano, Guedes defendeu que o Mercosul seja uma plataforma de inclusão produtiva e competitiva do Brasil na economia global. “Nós queremos modernizar o Mercosul e nós teremos problema porque a Argentina diz que exige o poder de veto”, declarou.
Guedes também disse que o governo brasileiro não sairá do bloco, mas também não estará em um Mercosul “movido a ideologia”. Esta afirmação também foi rebatida por Scioli.
“A posição do presidente argentino Alberto Fernández não é ideológica, mas busca uma modernização racional do Mercosul compatível com os tempos atuais, defendendo o emprego e o desenvolvimento das indústrias da Argentina e do Brasil”, escreveu o embaixador.
Scioli disse ainda que a oposição do governo argentino à redução unilateral da tarifa externa do Mercosul, proposta feita pelo Brasil, tem o apoio dos setores industriais e dos sindicatos dos dois países. Como exemplo, ele citou a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) e a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim).
As críticas de Guedes à Argentina foram feitas em resposta a um questionamento da senadora Kátia Abreu (PP-TO) durante a audiência no Senado. Ela demonstrou preocupação com o acordo entre o Mercosul e a União Europeia (UE) e criticou a escolha do novo ministro do Meio Ambiente, Joaquim Álvaro Pereira Leite, que foi anunciado para o cargo após o pedido de demissão de Ricardo Salles nesta semana. “Trocamos o Salles por meia dúzia”, disse Kátia.
Guedes respondeu à senadora que o País foi colocado “de castigo” pela UE. “Há nações que são protecionistas e temem a potência, a competência do agronegócio (brasileiro). E eles usam o ambiente como disfarce para nos fazer um ataque comercial”, afirmou.
A carta conjunta de FHC e Lula foi divulgada no sábado, 5. “Concordarmos com a posição do presidente da Argentina, Alberto Fernández, de que este não é o momento para reduções tarifárias unilaterais por parte do Mercosul, sem nenhum benefício em favor das exportações do bloco”, dizia o texto.
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