Padre Ezequiel Dal Pozzo
Quando um funcionário precisa sempre estar ao alcance do chefe, quando precisa fazer horas extras o tempo todo, quando o chefe exige mais dele do que ele pode dar, ali o ser humano se transforma numa máquina. Quando ele reage a essas exigências exageradas, com sintomas psíquicos ou somáticos, ele é rotulado como incapaz. Como pessoa que não aguenta a pressão imposta, ele é visto como um perdedor. Disso surge um conflito interno. Por um lado, nós somos obrigados a garantir materialmente a nossa vida, a vida da nossa família, as nossas contas, as exigências que nós assumimos com outros. Porém, também somos obrigados e precisamos nos respeitar, identificar os nossos limites até onde nós podemos ir. Esse conflito é um desafio difícil de resolver, pois quem defende seus interesses, e luta por eles, corre o risco de perder seu emprego simplesmente por ser um incômodo.
Também na vida pessoal existe esse conflito de lealdade. Estou disposto a corresponder às expectativas dos outros, do parceiro, da família, mas também às minhas próprias expectativas ou quero respeitar meus próprios limites? Quando começo a negar a mim mesmo e às minhas necessidades para poder estar presente para os outros, onde é o limite do meu sacrifício próprio? Esses limites são muito individuais. Cada um precisa descobrir e decidir por si mesmo o que funciona para si. A medida certa para mim não precisa ser a medida certa para o outro. No entanto, essa decisão não deveria servir como desculpa para fazer apenas o que eu quero, por exemplo, ou seja, para nunca levar adiante aquilo que assumi e sim sempre começar algo novo. Por isso, preciso fazer uma avaliação realista das minhas obrigações e responsabilidades. Aquelas que eu tenho ou que assumi.
Todos os muitos papéis que cada um de nós assume e exerce todos os dias, como cônjuge, pai, mãe, solteiro, funcionário, chefe, amigo, irmão, irmã, padre, pastor, enfim, são importantes e imprescindíveis. Nesses papéis eu me apresento ao mundo, eu me expresso e entro em contato com ele. É importante, porém, que esses papéis estejam em contato com o meu eu mais profundo. Que eles não sejam algo completamente desvinculado do meu eu, algo que me faz perder a vida. Por isso, cada um deve encontrar a sua medida.
Comentários estão fechados.