Dirceu Antonio Ruaro
Falamos, na semana passada, sobre a sensibilidade moral nos pré-adolescentes. Destacamos que todos os atos que realizamos tem efeitos e consequências. Hoje, trazemos para nossa reflexão, a questão do compartilhamento de sentimentos e emoções.
Inicialmente, é preciso entender que, no núcleo familiar, é que experimentamos as primeiras emoções e sentimentos e é, desde esse núcleo que aprendemos a compartilhar com os outros o que sentimos e pensamos.
Por isso, a questão de identificar claramente quais os valores, emoções e sentimentos que esse núcleo pratica, se torna muito importante para ensinar aos filhos a praticar o compartilhamento dos mesmos.
Assim, torna-se importante que as famílias conversem sobre sentimentos e emoções desde cedo para que no futuro, essas crianças consigam dialogar consigo mesmas e com os pares que farão parte da vida delas aprendendo a incorporar valores sociais além de pensar criticamente.
Mas, essa prática precisa iniciar lá na primeira infância, fase da vida em que os cuidados e estímulos para entender sentimentos e emoções são essenciais para um desenvolvimento saudável.
E isso é importante porque se trata da fase da construção da identidade da pessoa, do conhecimento das emoções para que possa, no futuro, gerenciar de forma adequada sentimentos e emoções.
Hoje, torna-se difícil esconder de uma criança o que se está sentindo. E, uma boa maneira de fazer a criança conhecer e interpretar os próprios sentimentos é saber demonstrá-los.
No passado, era muito comum pensarmos que as crianças não entendiam as coisas, que não percebiam o que acontecia em suas casas. Ledo engano. As crianças observam e interpretam muito mais do que pensamos sobre o que acontece conosco e com nossas famílias.
Uma das coisas que me lembro bem, era a questão da tristeza, da decepção. Parece que havia um “acordo” para não demonstrar os sentimentos aos filhos. Hoje eles entendem muito mais do que imaginamos sobre nossos sentimentos em relação à família e aos seus membros, por isso, tristeza, raiva, decepção, ciúme, inveja, entre outros, devem ser tratados de forma sutil e franca com as crianças e adolescentes.
A criança tende a pensar que o pai e a mãe não têm emoções negativas. Por isso, diante de uma “crise” de tristeza, inveja, ciúme, decepção é interessante contar experiências vividas e como fez para superar isso, essa atitude ajuda imensamente a criança perceber que o pai ou, a mãe, é tão humano quanto ela.
Atitudes como essa podem ajudar a criança a construir o que chamamos hoje de “empatia”, ou seja, a capacidade de colocar-se na condição do outro, experimentando os sentimentos e emoções pelos quais o outro está passando. Muito mais do que fazer sermão, ensinar a criança a colocar-se no lugar do outro e fazê-la pensar o que faria, que atitudes tomaria, se estivesse no lugar do outro é uma grande saída para que aprenda a não julgar o outro, mas a compreendê-lo no contexto em que vive.
Ensinar a não ser apenas e tão somente “expectador”, por exemplo quando um amigo enfrenta a perda de um ente querido, ou mesmo quando a criança/adolescente assiste uma noticia de um grave acidente, terremoto, enchente no qual pessoas perdem entes queridos e seus bens materiais, ajudar a despertar sentimentos de querer ajudar, de alguma forma para minimizar o sofrimento, mesmo que de desconhecidos, ensina uma proximidade afetiva, uma emoção, enfim a empatia que é a capacidade de promover comportamentos de solidariedade e ajuda.
Ensinar a sentir o mundo mais íntimo, mais próximo dos valores pessoais dos amigos, dos familiares como se fosse ele próprio (mas nunca deixar de explicitar a condição “se”) é despertar a empatia.
Ensinar a capacidade de se indignar diante de uma situação de racismo, de um tratamento injusto, é fundamental para a criança construa a capacidade de “colocar-se” no lugar do outro e experimente a emoção que essa situação pode provocar.
Por isso torna-se importante entender o que é chamado de “sofrimento empático”, que é quando vemos alguém sofrendo, e sofremos também, movidos pela compaixão e pela necessidade de fazer algo para ajudar.
Ensinar crianças e adolescentes a interpretar os fatos, as emoções, os sentimentos é fundamental para o desenvolvimento humano que pretendemos pelo processo educativo familiar e escolar.
Evidentemente que isso tudo não é fácil, até porque, nós mesmos, pais e educadores, muitas vezes temos uma visão muito egocêntrica do mundo, das coisas e das pessoas. Superar o egocentrismo é uma das tarefas complexas que deve ser assumida pelo núcleo familiar se desejamos ensinar a empatia a nossos filhos e educandos, pense nisso enquanto lhe desejo boa semana.
Doutor em Educação pela UniCamp, Psicopedagogo Clínico-Institucional, Pró-Reitor Acadêmico UniMater