Dirceu Antonio Ruaro
Amigos leitores, no texto da semana passada, falei que, finalmente, era setembro e, que era hora de retomar às aulas presenciais e aprender a sorrir com as manhãs de setembro que, enfim, estavam de volta, trazendo-nos manhãs mais claras, de luz e alegrias.
Como falei do retorno às aulas e da importância de se manter o distanciamento, o uso de máscaras, de álcool em gel, da higienização dos ambientes e dos objetos, recebi alguns comentários de meus leitores.
Peço licença a uma das minhas leitoras, pois vou tomar como base para meu texto de hoje, a mensagem que recebi. Diz minha leitora que estava conversando com seu filho, sobre as aulas, as atitudes recomendadas, os cuidados que devem ter. Diz ela: “…pense Prof. que esses dias, meu filho, de quatro anos, me disse assim: e, eu não posso emprestar meu brinquedo pro amigo e nem o amigo pode me emprestar, por causa do coronavírus”.
Imagino que a mãe tenha ficado em silêncio e observado, entre um milhão de pensamentos, aquela criaturinha tão pequena e tão madura, entendendo as explicações da mãe e os cuidados que deveria tomar.
A mãe, relata assim:
“…eu parei, pensei um instante e, com um nó na garganta, expliquei que sim, infelizmente neste momento é assim que precisa funcionar, cada um com suas coisas, mas que logo esse coronavírus vai embora e então voltarão a poder compartilhar seus brinquedos…”
Belíssima atitude dessa mamãe. Corretíssima. Explicar a realidade sem mascará-la. Mostrar o lado bom do retorno, de estar com os amiguinhos, mas ao mesmo tempo sensibilizar para a responsabilidade, apesar da vontade, do desejo da troca, do compartilhamento.
E, continua a mãe, demonstrando a grande sensibilidade e responsabilidade não só materna, mas humana também, relatando:
“ … confesso que por um minuto me senti desorientada, pois em qualquer outro momento da vida seria tão lógico convencer a criança de que precisava emprestar seus brinquedos, ensinar a dividir e compartilhar e agora olha só… estava tendo que ensinar o contrário, mas como fazer isso sem deixá-los individualistas? Acho que o que me confortou foi que eu percebi que ele gostaria de dividir os brinquedos, mas que não podia fazê-lo…”
Tão emocionante e tão humana. Confesso, que quando li, emocionei-me muito. E, percebi que nada está perdido. Que a vida voltará ao “normal” com os cuidados que precisamos ensinar aos nossos filhos, mesmo aos mais pequenos.
A preocupação com a humanização da criança: ensinar a compartilhar, a dividir, a ser solidário, é, mais do que nunca, dever e responsabilidade dos pais, e essa mãe, abre as cortinas do pensamento para a preocupação com o “individualismo” que, eventualmente, poderia estar ensinando ao filho.
Entendo e, ao mesmo tempo que louvo a atitude dessa mãe, em particular, espero sinceramente que essa tenha sido a preocupação de centenas de milhares de mães e pais que têm seus filhos retornando para as escolas, especialmente as de educação infantil, porque são elas que representam o maior desafio no retorno às aulas. Pois, mesmo com mesas previamente separadas, existe a espontânea tendência em dividir materiais ou pegar algum brinquedo emprestado de outro colega. Exatamente o que não pode ocorrer.
Entendemos que é, na educação infantil e nos anos iniciais, a fase na qual as crianças precisam interagir. Por isso, a volta às aulas das crianças precisa de atenção redobrada. Tanto das famílias, no sentido de orientar, quanto da escola e dos professores, no sentido de cuidar e controlar.
Ensinar, com todo respeito humano, que é preciso manter o distanciamento social, é inquestionável. Orientar os pequenos, de maneira simples, direta, sem rodeios, sem suspenses, sem ameaças, a não abraçar nem beijar os coleguinhas, é fundamental. É um cuidado que precisa da atenção e do comprometimento de todos. Por isso, ensiná-los a se cumprimentar com os cotovelos, é uma sugestão.
Outra preocupação dos pais e das escolas é com a hora do lanche. As crianças precisam ser orientadas a comerem sentadas em suas carteiras e sem conversar. Sem conversar é importante porque, no momento da alimentação, as crianças estarão sem máscaras. Então, não conversar e manter a distância evita que as gotículas de saliva que emitimos ao falar se espalhem.
Precisamos, como pais responsáveis, entender que as crianças não são imunes. Ou seja, embora não sejam consideradas como grupo de risco prioritário, as crianças não são imunes ao vírus. Muitas são assintomáticas, outras apresentam sintomas leves, mas algumas podem apresentar um quadro mais grave.
Então, não se pode permitir a desatenção. Ensinar a verdade, essa é a tônica importante desse momento. Veja, a partir de uma conversa da própria criança, a mãe pode estabelecer a conexão necessária para explicar claramente que, nesse momento, apesar de retornar à escola, de ver os colegas, ainda não se pode trocar brinquedos, abraçar, beijar, ficar pertinho.
Com o tempo, voltaremos à “normalidade”, essa é a nossa esperança, a nossa confiança na vacina e no bom senso das pessoas e, de modo muito especial, na confiança das atitudes tão louváveis como a dessa mãe que apresentamos aqui, pense nisso, enquanto lhe desejo boa semana.
Doutor em Educação pela UNICAMP, psicopedagogo clínico-institucional e assessor pedagógico da Faculdade Mater Dei
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