Dirceu Antonio Ruaro
Tenho conversado com muitos pais de crianças e adolescentes que se confessam “perdidos” ou como dizem, sem argumentos para falar de ética aos filhos, devido a tantas coisas que ocorrem na sociedade, tanto em termos religiosos, filosóficos, sociais e políticos.
Entendo, perfeitamente, pois o tempo todo somos colocados à prova em situações cotidianas da escola, nas novelas, nos programas de geral da TV, inclusive nos noticiários.
E, de fato é um momento temeroso (espero que seja um momento passageiro na nossa sociedade brasileira), pois vemos que o que falamos e tentamos ensinar como valores são cotidianamente vividos de forma diferente do que tentamos ensinar e aí vem as questões: por que eu devo ser/fazer desse modo se fulano faz de tal forma e não tem nenhum problema?
Estava falando dias desses com uma garotinha de 11 anos e ela me disse: “ah mas meus colegas colam e a professora nem vê, ou finge que não vê” então, por que eu não posso colar também nas provas?
Voltando aos pais, é lógico que se você pai/mãe disser ao filho/filha que também colava, e se vangloriar por isso, não tem como ensinar que valores e princípios determinam sua vida e o comportamento que você ensinar ao filho/filha.
Por isso, tomar atitudes baseadas em princípios e valores, na educação de filhos, determinam suas atitudes diante da vida, pois o que o pai e a mãe fazem de fato, e o que dizem que fazem impacta diretamente e influencia o comportamento do filho/filha, influenciando no tipo de educação que está dando a ele/ela.
Voltando ao caso da garotinha sobre a cola nas provas, ensinar a ética da honestidade, está intimamente ligado a fazer o que é certo, independente das circunstâncias dos outros. Minha resposta à garotinha naquele dia foi essa: “Pode ser que a professora não veja, mas você sabe que colou e que, portanto, enganou a si mesma”.
Regras são feitas para serem cumpridas pois derivam de princípios e valores sociais, morais, religiosos, familiares.
Então, independente de que haja alguém vendo ou vigiando/controlando, preciso ensinar ao filho/filha que ele/ela sabe se fez certo ou errado.
Se as pessoas cumprissem as regras, como no trânsito, por exemplo, não haveria necessidade de “campanhas de conscientização” sobre respeitar o sinal, respeitar a velocidade, não ultrapassar pela direita, não estacionar no lugar destinado aos “deficientes/idosos”, na frente da escola, em lugar de apenas deixar a criança/adolescente descer do carro e/ou entrar no carro. Confesso que fiquei surpreso pela observação e pensei, “pois é ,tentando ensinar e fazendo errado”. Pior que não dava pra justificar o injustificável.
A lição que me foi proporcionada foi de que mais do que falar é preciso praticar atentamente o que ensinamos a nossas crianças e adolescentes porque nada do que passamos passa despercebido a eles.
É preciso entender que, enquanto observa, o filho/filha absorve e incorpora princípios e valores vivendo a vida real.
Também é preciso entender que, nesse processo de aprendizagem de valores éticos, que o filho/filha observa, julga e confronta o fazer dos pais com o falar deles.
Por isso é necessário que pais e educadores entendam que o tempo do “faça que eu digo, não que eu faço”, já passou, pois mais do que nunca temos uma geração que observa, avalia, julga e confronta.
Assim, é interessante observar e ensinar aos filhos que ser ético é fazer escolhas a partir de princípios e valores e o cotidiano é mestre em tentar nos afastar deles.
Cotidianamente sofremos investidas sedutoras de atalhos que nos fazem titubear na firmeza ética, seja nos programas de TV, seja nos noticiários que assistimos, seja nas posições dos políticos, (legisladores, executivos e do judiciário), porque temos vivido um tempo de “porteira aberta” para a contradição, especialmente em se tratando das coisas públicas e legais no nosso país, pois as últimas lições que temos tido é de que aqui, nesse país, “o crime compensa”.
Sinceramente, tenho sérias dificuldades e como de resto, creio, todos os pais, que precisam ensinar o mínimo de ética a seus filhos. Mas, penso que estar vigilante seja a palavra de ordem, se quisermos que nossos filhos entendam que não é porque “todo mundo faz assim”, que posso fazer o todo mundo faz, pense nisso enquanto lhe desejo boa semana.
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