Juridicamente, os anúncios veiculados pela entidade foram registrados no CNPJ da Associação Dignidade Médica de Pernambuco, criada em 2014 pelo oftalmologista pernambucano Antônio Jordão, atual presidente da Médicos Pela Vida. Em março deste ano, a entidade passou a realizar lives fechadas para médicos para promover o tratamento precoce e teve como palestrantes profissionais que já passaram por universidades e hospitais conhecidos.
Entre os convidados estavam Paolo Zanotto, professor do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo; Paulo Olzon, professor aposentado da Escola Paulista de Medicina/Unifesp e o imunolologista Roberto Zeballos, que faz parte do corpo clínico de hospitais como o Albert Einstein.
A associação também se aproveitou da popularidade de alguns desses profissionais nas redes sociais para ganhar mais visibilidade em diferentes grupos e classes sociais. Zeballos, por exemplo, tem 193 mil seguidores no Instagram, mantém um consultório na Vila Nova Conceição (bairro nobre da capital paulista) e cobra R$ 1,8 mil pelo atendimento de pacientes com suspeita de covid-19 que queiram se tratar com seu protocolo de tratamento precoce. Outra figura popular nas redes e presente nos eventos online da associação é a radiologista Lucy Kerr, cujo canal no YouTube tem 156 mil inscritos. Embora sua tradicional clínica nos Jardins seja especializada em ultrassonografia, ela tem oferecido consultas a pacientes com covid ao custo de R$ 700.
Lista. Além dos “influencers” do tratamento precoce que participam das lives da associação, a entidade também mantém em seu site uma lista de médicos de várias cidades brasileiras que prescrevem os medicamentos com seus respectivos contatos. Atualmente, são mais de 120 doutores de 71 municípios cadastrados na plataforma.
Como mostrou o Estadão na última quinta-feira, o cadastro dos profissionais interessados em aparecer no site é feito em um sistema desenvolvido e mantido pelo grupo empresarial José Alves, dono da empresa Vitamedic, que produz a ivermectina, um dos remédios do chamado kit covid.
O Estadão questionou a associação sobre a relação da entidade com o grupo empresarial e sobre quem financia os eventos e anúncios promovidos pela associação, mas a entidade disse, por meio da assessoria de imprensa, que não se pronunciaria sobre o tema. Um dos coordenadores da associação, o cirurgião Eduardo Leite, afirmou que nenhum dos coordenadores recebe qualquer remuneração e o Grupo José Alves foi apenas mais uma empresa que decidiu apoiar a associação. De acordo com Leite, a ajuda não foi financeira, mas apenas no desenvolvimento da plataforma online por meio da Unialfa, universidade goiana que integra o grupo empresarial. A companhia também foi procurada, mas não respondeu aos questionamentos da reportagem.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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