O Peru, que vota em primeiro turno, está há mais de 360 dias em estado de emergência, impondo quarentena a quem chega e setores da educação fechados, além do comércio não essencial. O país registra 1,5 mil mortes por milhão de habitantes e relata uma média de 8.020 novas infecções por dia. Mesmo assim, os candidatos têm saído para comícios e causado aglomerações.
“A pandemia é a grande preocupação no Peru, mas nenhum candidato apresentou uma ideia, tanto em saúde quanto em economia, que se destacasse. Todos dizem apenas: ‘Vou fazer melhor’. Os peruanos queriam escutar propostas claras, mas, no fim, a pandemia serviu para eliminar candidaturas, e não para promover um ou outro”, disse o analista peruano Carlos Melendez.
Segundo Meléndez, a pandemia só foi motivo de destaque eleitoral com o escândalo do “Vacinagate”, no qual políticos furaram a fila para receber a vacina contra a covid. “O escândalo causou uma grande decepção, porque envolvia políticos importantes, como o ex-presidente Martín Vizcarra, que era muito popular, havia se candidatado ao Congresso e estava fazendo uma boa campanha.”
Sete candidatos podem chegar na frente no primeiro turno e nenhum deles possui mais de 15% das intenções de voto, segundo as últimas pesquisas. “Passamos para um cenário de minicandidatos. O esquema da Lava Jato marca um antes e um depois na política peruana, porque leva à queda de partidos do establishment. O maior exemplo é o fujimorismo. Em 2016, Keiko (filha do ex-presidente Alberto Fujimori) teve cerca de 40% dos votos e hoje aparece com 8%”, disse Melendez.
Para a doutora em ciências políticas, especializada em temas latino-americanos, Lucia Dammert, é essa falta de partidos consolidados que “torna a disputa uma luta pelas características pessoais, com candidatos propondo coisas impossíveis”. “Novamente, vamos falar muito mais de lideranças populistas, em vez de lideranças de esquerda ou direita”.
No Equador, a disputa entre Andrés Arauz, herdeiro político do ex-presidente Rafael Correa, e Guillermo Lasso está acirrada e as pesquisas de intenção de voto indicam empate técnico no segundo turno.
Após a crise sanitária em Guayaquil, com cenas de corpos jogados nas ruas diante do colapso do sistema funerário na pandemia, esperava-se uma discussão sobre o combate à doença e como melhorar o sistema de saúde. Mas, quem protagonizou o debate foi a velha disputa entre os seguidores de Correa e o empresariado de direita.
O Equador vive hoje o fechamento parcial do comércio, de escolas e registra uma média de 940 mortes por milhão de pessoas. Segundo dados do Ministério da Saúde, são registrados em média 1.604 novas infecções por covid por dia, mas o tema sanitário só apareceu com força na última semana.
“A eleição do Equador se parece muito com a do Peru em 2016: não está lá o Rafael Correa, mas um herdeiro político, Arauz. E, do outro lado, tem um antigo conhecido da direita empresarial equatoriana (Lasso). No Peru de 2016, não tínhamos Alberto Fujimori, mas Keiko. E, do outro lado, Pedro Pablo Kuczynski, velho conhecido da direita empresarial peruana”, disse Melendez. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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