O designer Cícero Moraes, um dos integrantes do grupo, morador de Sinop – no norte de Mato Grosso, distante 479 km de Cuiabá -, contou ao Estadão, por telefone, que foi um projeto de reconstrução com muitos desafios técnicos a superar antes do final feliz. Para a reconstrução do casco foi empregada a técnica conhecida como fotogrametria, também bastante utilizada por arqueólogos e adaptada para reconstruir crânios, cenas de crimes e até para construções arquitetônicas.
Batizada de Freddie, a jabota, que teve o casco destruído num incêndio em uma área de Cerrado, região de Brasília, perdeu 85% dele na queimada e posteriormente ficou sem os 15% restantes. Encontrada por um casal na beira da estrada, Freddie foi levada até dois irmãos veterinários, Rodrigo e Mateus Rabelo, que trabalham com animais silvestres. Ao chegar, seu corpo já estava sendo devorado por larvas de moscas. No processo de recuperação ela sofreu duas crises de pneumonia e ainda ficou 45 dias sem comer.
Para construir a prótese, Moraes recebeu diversas fotografias para fazer a chamada volumetria da jabota. Em seguida recorreu a um amigo que tem um jabuti saudável, de estimação: valeu-se dele como parâmetro. Foi fotografada detalhadamente toda a estrutura do animal (superior, inferior) e a volumetria foi inteiramente remodelada a partir dessas fotos.
‘Não podíamos errar’
Segundo Moraes, dois dos momentos mais difíceis e complexos em todo esse processo foram a medição da prótese, em quatro partes, e, em seguida, a impressão em 3D. “Na medição, a gente nunca tinha feito isso e não podíamos errar”, recorda o designer. Com relação à impressão, “não necessariamente pela forma do modelo, apenas, mas o tempo gasto em cada uma das impressões”.
As peças maiores levaram 50 horas para serem impressas cada uma. As menores um pouco menos, entre 28 e 35 horas. As impressões foram feitas pelos cirurgiões dentistas Paulo Miamoto e Paulo Esteves, que limparam e prepararam as peças para que fosse feita a cirurgia posteriormente. Não foi necessário parafusar, como o grupo chegou a pensar que seria preciso. A equipe de cirurgia foi coordenada pelo veterinário Roberto Fecchio.
De volta
Moraes explicou, na conversa, que a prova concreta de que “tudo tinha dado certo” foi quando a jabota voltou da anestesia. “O primeiro movimento foi de se esconder no casco”. Ao final, para fechar com chave de ouro toda a aventura, ele menciona a etapa artística de toda a operação: “Tivemos a ajuda de um engenheiro, Yuri Caldeira, que também é artista plástico e mora em Brasília”. Sabendo da tarefa dos amigos, ele se propôs a pintar o casco da Freddie. Retirado da jabota, ele foi levado até a casa dele – e Caldeira se dedicou, nos detalhes, a criar uma pintura realística a base de tinta acrílica, que tem a vantagem de secar mais rápido.
O projeto, desde a fase da digitalização até a colocação no corpo da jabota, foi executado em um mês. A equipe de especialistas formada por voluntários é conhecida pelo nome de “Animal Avengers”. Integram esse grupo Roberto Fecchio, Rodrigo e Matheus Rabelo e o cirurgião-dentista Paulo Miamotto.
Bem-sucedida a missão, Freddie vive agora em uma chácara configurada para receber animais silvestres, em Brasília. Atualmente, o designer Cícero Moraes já se dedica a uma nova missão. Ele participa da reconstrução da prótese facial de um cão queimado no mato.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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