Leite, no entanto, afirmou ao Estadão que sua declaração foi uma resposta aos ataques homofóbicos cada vez mais intensos justamente por seu projeto nacional. “Era um tabu que precisava ser enfrentado.”
Como o sr. encarou as reações à sua declaração?
Não tenho dado conta de todas as mensagens de afeto que estou recebendo. Estou feliz! Sabia que teria repercussão, mas não imaginava que seria desse tamanho. Fiquei emocionado, particularmente, pelas pessoas que se sentiram representadas. Uma delas disse que tem 50 anos, é gay, e me disse que a vida teria sido mais fácil se, aos 18 anos, um governador tivesse dito ser gay.
O sr. já planejava essa declaração? Por que agora?
Nunca inventei um personagem, nunca disse que não era gay, nunca menti. Mas sabemos que tratar desse tema ainda é complexo pelos rótulos. Nenhum heterossexual tem que se apresentar como tal. Entendia que a orientação sexual não toca na vida dos outros, só na minha. Mas, com o avanço desse meu projeto nacional e com a crise de integridade que existe no Brasil neste momento, passou a ser um assunto a ser exposto, até para deixar claro que não tenho nada a esconder. Vinha trabalhando na ideia de falar no timing adequado para que não fosse entendido como tentativa de proveito.
É mais difícil ser gay e político?
Olha, não posso me queixar. Quando disputei a Prefeitura de Pelotas este não foi um assunto; quando disputei o governo, também não. Nunca me senti diminuído por especulações a respeito da minha orientação sexual, mas era um tabu que precisava ser enfrentado. É claro que o meio político ainda é tradicionalmente masculino, apesar de as mulheres estarem ganhando espaço. Aos poucos esta pode se tornar uma não questão.
No Legislativo já há pessoas trans e gays eleitas. Isso pode também ocorrer no Executivo?
Acho que sim, mas não se trata de eleger um prefeito, um governador ou um presidente por ser gay. O que não se deve é deixar de escolher essa pessoa por ser gay.
O sr. se sente obrigado a virar um ativista?
Eu sempre me posicionei, defendi a causa. Temos políticas públicas, representatividade no governo (a secretária adjunta de Cultura é uma mulher trans). Mais do que ser um ativista – e é importante que haja -, devemos é trabalhar em todas as frentes.
O Rio Grande do Sul carrega o estereótipo de ser machista. É mais difícil ser gay no Estado?
Olha, eu sou de uma cidade (Pelotas) que tem fama de ser uma cidade de gays. Claro que há quem faça ataques, mas não houve eco na sociedade nem no Estado, que é um Estado que sempre esteve na vanguarda, e acredito que tem disposição para estar mais uma vez.
Já foi agredido por ser gay?
Nunca, e por isso mesmo digo que o sofrimento que possa ter – do ponto de vista da aceitação – em nada se compara a tantas pessoas que sofrem violência física e são estigmatizadas, deixando de ter acesso ao mercado de trabalho.
O sr. foi criticado por ter declarado voto em Bolsonaro, que já tinha discurso homofóbico…
Acho que está muito evidente que a eleição de Jair Bolsonaro foi um erro que cometemos, eu e milhões de brasileiros. E foi um erro causado pelos erros do PT, que era o adversário. Agora não temos de discutir os erros do passado, mas buscar construir o futuro. Se for o caso, cometer novos erros, mas não os mesmos. Lamento essas manifestações e prefiro ficar com aquelas que souberam separar as questões político-ideológicas dessa que é uma questão humana acima de tudo – e não é só minha.
O sr. ganhou mais de 100 mil seguidores nas redes. Um político se assumir gay pode ser uma vantagem hoje?
Estou menos preocupado com o que me dará de proveito ou prejuízo eleitoral e mais confortável, seguro e tranquilo de ter feito a coisa certa. Espero com esse movimento ter tocado positivamente na vida de muita gente. Me sinto muito emocionado porque sei que, para muitas pessoas, minha fala significou até uma reconciliação. Um gesto que ajuda a reconciliar pessoas e, espero, que ajude também a reconciliar o Brasil, recuperar a sensatez, para que os reais problemas sejam atacados.
E lhe ajudou também?
Sem dúvida. Nunca escondi, só não falava a respeito. Mas, diante dos ataques homofóbicos que se intensificavam nos últimos períodos, foi uma oportunidade para deixar claro que eu não tenho nada a esconder. Quem tem a esconder são outros políticos, os que escondem o mensalão, que escondem petrolão, que escondem o superfaturamento de vacinas e tantas outras coisas erradas. Não é a minha orientação sexual que está errada.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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