As entrevistas com as moradoras de três comunidades foram conduzidas entre outubro e dezembro de 2020, quando já se achava que havia retomada parcial das atividades, antes da segunda onda de casos no País.
“A dificuldade que elas tinham era não necessariamente só de vaga de trabalho, como diarista, empregada doméstica. Elas até tinham o sentimento de retomada. Mas qual era o problema? Se elas tinham criança pequena em casa, não tinham com quem deixar para ir trabalhar. Elas precisavam da escola, que até hoje não retomou”, diz.
Para a economista, o retorno das mulheres ao mercado será ainda mais atrasado justamente por causa da escola. Ela esclarece que não se trata de reabrir as instituições de ensino independentemente da situação do vírus, mas sim de compreender as necessidades das famílias.
Segundo Madalozzo, é preciso haver articulação e planejamento para evitar que o trabalho doméstico, que já recai mais sobre as mulheres, se transforme em um fator de peso ainda maior para impedi-las de embarcar na retomada.
Leia Mateus dos Santos, de 31 anos, moradora de Heliópolis, foi demitida em meados do ano passado. Ela trabalhava na copa de uma escola em São Paulo e viveu uma saga para resgatar seu seguro-desemprego, que caiu em uma conta bancária antiga, sediada na Bahia. Só a passagem de ida e volta custou R$ 250. “Gastei boa parte do seguro, bem mais do que se tivesse recebido aqui”, diz.
Até hoje, Leia não conseguiu emprego. Ela fica em casa, cuidando de um dos filhos – uma menina mora com a avó na Bahia. O pequeno ficou um tempo sem ir à escola porque a perda do salário de R$ 1,3 mil mensais inviabilizou o pagamento do transporte. “Agora consegui uma escola mais próxima”, diz.
O único sustento da casa vem do marido de Leia, que trabalha em uma loja de mecânica e estética de carros. A rotina do lar mudou. “Tem semanas que a gente nem consegue comer carne. Quando tem promoção a gente compra”, afirma Leia, dizendo que as alternativas têm sido frango e ovo.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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