Após um longo período em que alunos de escolas públicas e privadas foram submetidos ao ensino remoto devido a pandemia da covid-19, 2022 foi marcado pelo retorno das aulas presenciais e de crianças e adolescentes ao ambiente escolar.
O retorno desses alunos foi cercado de receios devido ao desafio de recuperar o conteúdo pedagógico que ficou para trás durante o isolamento, além de problemas psicológicos que rondaram tanto os alunos quanto os professores ao precisar se manter afastado da rotina a qual estavam habituados.
A crise sanitária impactou tanto o ambiente doméstico, como relações sociais e também o relacionamento na escola que, com tanto tempo de estudo em casa, impôs barreiras no processo de aprendizagem, retrocedendo o ensino em todo o país. O período também impactou o número de matrículas, tanto em escolas públicas como privadas, como mostra o gráfico a seguir.
Um dos reflexos da pandemia da covid-19 foi a diminuição de renda, fazendo com que muitos pais trocassem a escola privada dos filhos pela escola pública, com a educação infantil registrando o maior número de transferências. Para esse grupo, a rede particular de ensino teve mais de 20% de transferências, segundo o censo escolar do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
O mesmo censo mostra que houve 47,8 milhões de matrículas em 2019, em 2020 passou para 47,3 milhões e, em 2021, registrou 46,6 milhões.
O setor privado foi o que mais sentiu o impacto nos anos citados, com 9,1 milhões de matrículas em 2019; 8,7, milhões em 2020; e 8,1 milhões em 2021. Enquanto isso, o setor público teve 38,7 milhões de matrículas em 2019 e se estabilizou em 38,5 milhões a partir de 2020, de acordo com pesquisa da Agência Senado.
Alunos apresentaram dificuldades no retorno
De acordo com a Secretária de Educação, Simone dos Santos Painim, os profissionais de educação perceberam dificuldades na interação, concentração e até maturidade para realizar certas atividades.
“Podemos dizer que o ensino remoto foi uma solução durante a pandemia, mas é inegável que o presencial não pode ser substituído”, afirma.
Simone destaca que as faixas etárias atendidas pelo município necessita de ações voltadas a interação social e alfabetização, “com ambas as áreas sofrendo muito com o impacto da pandemia, os alunos retornaram com grande defasagem, pois foram dois anos de aulas remotas e o ambiente escolar faz diferença na aprendizagem e socialização da criança”.
Outra preocupação apontada pela secretária são os problemas psicológicos, como ansiedade, depressão e atraso na alfabetização. “Na retomada foi realizada uma avaliação diagnóstica e, a partir de resultados, direcionar os alunos para reforço e recuperação de conteúdo no contra turno”, finaliza.
Escolas privadas retornaram em 2021
O presidente do Sindicato das Escolas Particulares (Sinepe) da Regional Sudoeste, Fabrício Pretto Guerra, afirma que há muitos danos psicológicos, “incluindo a compreensão das mudanças que vivemos neste período e das preocupações durante a pandemia”.
Para Guerra, o convívio social faz parte do processo de aprendizagem das crianças e adolescentes. “Isso foi interrompido durante a pandemia e agora vemos os alunos retornando à sua rotina e às atividades coletivas”, comenta.
Já o prejuízo na aprendizagem, o presidente destaca que levará muito tempo para recuperar o período de aulas remotas.
Como as escolas privadas retomaram as aulas há mais tempo, os alunos estão mais adaptados, com as maiores dificuldades citadas por Guerra no aspecto emocional, convívio social e nos conteúdos trabalhados de forma remota.
Enquanto as escolas públicas enfrentam as maiores dificuldades nesse ano, a rede privada, com aulas desde 2021, já deixou os piores meses de adaptação para trás. “2021 foi muito desafiador em razão dos protocolos de biossegurança que estavam mais exigentes. Nos últimos meses percebemos que a rotina está voltando a normalidade, já que o uso da máscara deixou de ser obrigatório”, explicou, citando que percebeu os alunos mais felizes na escola.
Fabrício aponta que as escolas privadas aplicaram avaliação diagnóstica para medir a defasagem e o impacto na aprendizagem e, a partir disso, os professores percebem as dificuldades dos alunos para realizar trabalhos específico, levando em conta que cada aluno tem seu jeito e a aprendizagem leva tempo diferente para cada um. “O trabalho tem sido intenso e em conjunto com as famílias”, afirma.