Ainda não chegamos ao final do primeiro semestre letivo e boa parte dos professores apresenta grande cansaço, frustração, tristeza, ansiedade, doenças, várias delas oriundas do trabalho desgastante.
Há alguns anos a frustração docente nesta época decorria do resultado pouco satisfatório obtido por alguns alunos após as primeiras avaliações. Compartilhava-se com a equipe escolar as angústias, realizavam-se análises coletivas sobre o contexto de cada turma,elaboravam-se estratégias pedagógicas replanejamento e o ensino acontecia.
A escola era lugar de pertencimento, confiança, apoio, amizade e busca pela evolução, pelo aprendizado significativo, era reconhecida pelo trabalho realizado. Havia respeito, abraços, sorrisos, brincadeiras, laranjas, maçãs e pão com chimia. O clima escolar e o relacionamento com as famílias dos alunos era mais leves do que hoje.
A escola continua exercendo sua função, inovando e trabalhando mais do que nunca, no entanto, o contexto agora é muito difícil. São dificuldades e diagnósticos e quanto mais profissionais para atuar, mais carências aparecem. Quanto mais acesso ao conhecimento para estudar, pesquisar e planejar mais incompreensíveis e desafiadores são os contextos. Quanto mais pessoas convivem no espaço escolar parece haver menos troca, menos partilha, menos evolução. Há sistemas, burocracia, plataformas, competições, rankings, cansaço, frustração, raiva e muita gente adoecendo.
As famílias inseguras sem saber desempenhar a sua função educativa ou agindo contra a escola, a instituição que persiste tentando realizar um trabalho humanizador. É urgente a realização de um trabalho intersetorial e consistente, de práticas e cuidados com a saúde mental dos profissionais da educação.
Enquanto as regulamentações demoram é importante que as instituições de ensino, dentro das suas possibilidades, deem atenção a gestão emocional. Educar é sempre um ato emocional. Quem lidera processos educativos precisa estar emocionalmente disponível e isso exige autoconhecimento, limites claros e uma escuta que acolhe sem absorver.
Observar acontecimentos e comportamentos, recusas em colaborar, aluno que desafia, professor que desiste, coordenador que sobrecarrega, gestor que se culpa. As explosões de raiva podem ser um pedido de escuta não atendido; a resistência pode ser medo travestido de rigidez; o cansaço pode ser excesso de doação sem acolhimento.
Gostar de estar na escola é importante para as crianças e para os profissionais. Um trabalho bem feito é realizado por aqueles que gostam de gente, de colo, de abraço, de riso fácil, de música, de brincadeira, de cantiga, de corrida e também de descanso e de silêncio. É hora de olhar para isso com urgência.
Onde está a escola que educa para a vida, que cuida, ensina e protege? O que tem feito por aqueles que educam? Professores precisam falar e ser ouvidos efetivamente. Além de identificar os problemas é necessário elaborar as estratégias que serão utilizadas visando a superação dos mesmos, expor a vulnerabilidade e trabalhar a partir dela. Despertar a coletividade para o cuidado com a vida humana, com a saúde mental.
A escola é um espaço sagrado, de aprendizado humanizador, de memórias afetivas e de vida.
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