Estudantes de arquitetura repensam a cidade a partir das consequências da pandemia de covid-19
Até muito pouco tempo, a criação de ambientes que priorizam a convivência e a busca por alternativas de locomoção mais sustentáveis, como o transporte coletivo, direcionavam os debates nos bancos dos cursos de arquitetura e entre os profissionais da área. Mas veio a pandemia de Covid-19 e o jogo literalmente virou.
Conviver passou a significar um risco a saúde pública, e até que uma vacina não fosse criada, ficar em casa e evitar ao máximo o contato com outras pessoas virou questão de sobrevivência.
O próprio conceito de “bancos de universidade”, de escritório, mudou muito rápido, pois estudar e trabalhar são atividades que passaram a ser feitas de casa. Se as relações entre as pessoas mudaram, a forma como os espaços são pensados também precisou mudar, ainda que de forma aparentemente temporária.
Nesse contexto, estudantes de arquitetura e urbanismo em Pato Branco foram provocados a criar projetos que refletissem as novas necessidades geradas a partir das consequências da pandemia.
De acordo com Bruno Soares Martins, coordenador do curso da Faculdade Mater Dei, a iniciativa é um projeto de extensão pensado, inclusive, para suprir a ausência de eventos como as semanas acadêmicas onde eram feitas reflexões, debates e concursos de projetos, e que foram suspensas por conta das medidas restritivas.
Dos trabalhos entregues, nove foram selecionados para exposição, escolhidos pelos professores a partir de critérios como relevância diante da proposta, capacidade de comunicação do projeto, qualidade técnica, capacidade e possibilidade de execução, entre outros.
“Colocamos pra eles o desafio de projetar algo, entendendo o momento, mas que pudesse de alguma forma ser uma reflexão sobre o papel do arquiteto perante a sociedade”, detalha Martins.
Ele explica que o modo de pensar os espaços públicos e privados está ligado aos momentos históricos da sociedade. Como exemplo ele cita as residências do início do século passado, quando o “pai de família” saia para trabalhar enquanto a esposa cuidava de tarefas domésticas e dos filhos. “Hoje todos estão na rua, pais, filhos. Então a residência perdeu paredes, porque existe uma necessidade maior de comunicação e convivência nos pequenos momentos em que a família está reunida”, completa.
Com a pandemia, foi preciso voltar para o abrigo das paredes, e se locomover de forma mais individualizada passou a ser mais seguro.
Transporte
As estudantes Angela Ruchil, Julia Testolin e Karla Feltes criaram uma alternativa para a locomoção em tempos de isolamento. O trio criou um mobiliário urbano onde é possível emprestar bicicletas, skates e patinetes elétricos para realizar deslocamentos dentro da cidade.
O projeto, desenvolvido com o suporte do professor Gilmar Tumelero e do colega William Navarro, é integrado ao transporte coletivo, e possui vários elementos de auto sustentabilidade, como painéis fotovoltaicos para geração de iluminação e alimentação de tomadas para carregar dispositivos móveis.
Há também um sistema de captação da água da chuva, utilizada para higienização de espaço de equipamentos. Segundo elas, o empréstimo dos veículos seria gerido por meio de um aplicativo. Os terminais, por assim dizer, estariam distribuídos em locais estratégicos, para facilitar a entrega e a retirada dos veículos.
Trabalho
Na opinião de Bruno Martins, coordenador do curso, a pandemia acelerou alguns processos que já estavam em curso, como o trabalho remoto. Ele acredita que mesmo depois da crise sanitária as pessoas deverão trabalhar mais em casa, ou em outros ambientes que não necessariamente a empresa.
A estudante Bruna Geleski pensou no trabalho remoto ao criar uma “colmeia coworking”, uma estrutura instalada em áreas abertas que permitiria o trabalho individualizado e seguro fora da residência, em espaços mais próximos a natureza, por exemplo, permitindo também um momento de descompressão.
“Na vivência do dia há interferências como o barulho da casa, das crianças. E se existisse um lugar onde eu pudesse ir para estudar e trabalhar? Eu pensei muito nas pessoas que moram em cidades maiores, em apartamentos”, explica Bruna sobre sua inspiração. Também pensando na sustentabilidade, o projeto possui elementos como teto translúcido para facilitar a iluminação natural.
Aproximação
A sensação de isolamento veio a reboque da pandemia de covid-19. Com o objetivo de criar a sensação de multiplicação, de união e também para estimular a reflexão sobre o atual momento, as acadêmicasAna Maria Pires, Pâmela Norberto Tigre e Sabrina Mackievicz criaram o Caminho Alternativo, um corredor de espelhos que simula a sensação de um espaço mais movimentado.
As estudantes propuseram a instalação da estrutura na praça Presidente Vargas por ser um ambiente de convergência entre pessoas de diferentes regiões da cidade, além de possuir edificações de diferentes estilos arquitetônicos, em um contraste que contribuiria para enfatizar a intensidade da instalação.