As cenas de ontem foram dramáticas. Soldados atônitos tentavam separar adultos e menores e carregavam crianças nos braços, enquanto funcionários da Cruz Vermelha ajudavam os que saíam do mar congelados e exaustos. Um socorrista espanhol resgatou um bebê que estava a ponto de se afogar. Uma mulher inconsciente deitada na areia foi carregada para fora da praia em uma maca. Pelo menos uma pessoa se afogou ao tentar chegar ao enclave pelo mar.
A chegada repentina de imigrantes provocou uma crise humanitária e agravou a disputa diplomática entre os dois países, que tem como pano de fundo a soberania sobre a região do Saara Ocidental. Ceuta é um enclave espanhol em solo africano. O território de 85 mil habitantes é separado do Marrocos por uma cerca dupla de 10 metros de altura.
Segundo dados do governo espanhol, desde segunda-feira, 8 mil imigrantes tentaram passar de Marrocos para Ceuta. Aproximadamente 4 mil pessoas foram deportadas para o território marroquino.
A Espanha aumentou a pressão diplomática sobre o governo do Marrocos ontem e o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, viajou a Ceuta, depois de prometer “restaurar a ordem” no enclave. “Minha prioridade é devolver a normalidade a Ceuta. Seus cidadãos e cidadãs devem saber que contam com o apoio absoluto do governo da Espanha”, disse Sánchez.
O premiê também viajou para Melilla, outro território espanhol no norte de Marrocos, que na madrugada de ontem recebeu 86 migrantes que pularam a cerca que protege a cidade. Controladas pela Espanha durante séculos e reivindicadas pelo Marrocos, Ceuta e Melilla são as únicas fronteiras terrestres entre a União Europeia e a África.
“Esta chegada repentina de migrantes irregulares é uma crise séria para a Espanha e também para a Europa”, alertou o líder espanhol. O primeiro-ministro garantiu que “quem entrar irregularmente” na Espanha será devolvido, segundo os acordos “assinados há anos com o Marrocos”.
Em Ceuta, o fluxo de migrantes continuou, embora a um ritmo mais lento na tarde de ontem, com grupos de pessoas nadando do lado marroquino, apesar do destacamento da polícia espanhola e do Exército na área.
Dezenas de veículos militares percorreram a Praia de Tarajal, onde centenas de migrantes se reuniram durante a tarde. Os policiais conduziram os detidos até a cerca que separa os dois territórios e os expulsaram por alguns portões. Alguns imploraram para ficar. “Por favor, não temos nada, somos estudantes, queremos uma vida nova”, disse um deles.
Durante o dia, as forças espanholas dispararam gás lacrimogêneo para dissuadir as pessoas de atravessar, enquanto a polícia marroquina interceptou alguns grupos que tentavam cruzar a cerca de metal da fronteira e bloqueou a passagem de migrantes para o interior. “Muitos dos nossos amigos conseguiram passar. Viemos depois, assim que descobrimos, tentamos pela montanha, mas a polícia nos bloqueou”, contou Amal, de 18 anos, que partiu de uma cidade próxima com seu irmão e dois amigos.
A crise surge em um momento de tensões diplomáticas entre a Espanha e o Marrocos, um aliado fundamental contra a imigração irregular. O governo de Rabat se irritou depois que Madri decidiu, em abril, acolher o líder do movimento de independência do Saara Ocidental, Frente Polisário, Brahim Ghali, para receber tratamento contra a covid-19 em um hospital. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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