Avancini fechou parceria com o banco Santander, que destrinchou nesta segunda sua estratégia de incentivo ao ciclismo brasileiro, tendo como representante o ciclista que já foi campeão mundial em 2018, na Itália, conquistou outros resultados expressivos nos últimos anos e liderou o ranking mundial do mountain bike da União Ciclística Internacional (UCI) por oito meses até o início de maio – atualmente, é o terceiro colocado.
“Quem acompanha a minha carreira sabe do meu empenho em fazer a bicicleta crescer no Brasil. Me sinto muito grato e essa gratidão me gera uma espécie de dívida com o ciclismo. É um esporte que eu realmente amo e é algo que eu vejo como um instrumento social para o desenvolvimento do nosso país em várias esferas”, salienta o atleta. Em meio à sua intensa preparação para a Olimpíada, ele encontrou um tempo para estar presente em um bate-papo com jornalistas nesta manhã, no Farol Santander, no centro de São Paulo, e organizado pelo seu novo patrocinador.
A ofensiva do Santander no apoio ao ciclismo esportivo inclui o patrocínio à exibição de provas nacionais e internacionais e soluções financeiras voltadas aos praticantes. Segundo a instituição financeira, haverá uma linha de financiamento exclusiva para a compra de bicicletas e peças.
O considerável aumento do interesse do brasileiro pelo ciclismo durante a pandemia de covid-19 ajudou o banco a entender que seria importante investir na modalidade no País, para além de uma necessidade de lazer e mobilidade urbana.
Segundo a Associação Brasileira do Setor de Bicicletas (Aliança Bike), as vendas do modal cresceram 50% em 2020 em comparação a 2019. O mercado de mountain bike, especialidade de Avancini, representa 85% das vendas no País. A união entre ganhos de saúde, segurança sanitária e a possibilidade de fazer uma atividade física ao ar livre são alguns dos fatores apontados para o aquecimento do setor neste período.
“Esse boom ainda não foi acompanhado por um aumento da estrutura, do apoio ou de visibilidade para quem vive do esporte, ou quer levar mais a sério os treinos”, alerta Avancini, que, porém, é otimista. Ele confia que esse patrocínio e outras ações serão fundamentais para transformar o ciclismo no Brasil.
“Acredito que esse engajamento que eu tenho do público que me acompanha, dos meus fãs, é justamente por eles enxergarem essa minha vontade de fazer com que meu êxito esportivo traga crescimento para a modalidade. Temos tudo para crescer numa escala ainda maior”, pontua.
“A bicicleta está ou esteve presente na vida de quase todos nós em algum momento, e vemos recentemente um grande aumento do interesse dos brasileiros pelo seu uso para transporte, lazer e como prática esportiva”, afirma Patricia Audi, vice-presidente de Comunicação, Marketing, Relações Institucionais e Sustentabilidade do Santander. A instituição investiu na revitalização da ciclovia da Marginal Pinheiros, por onde trafegam 70 mil ciclistas por mês.
Para popularizar o ciclismo no País, a missão de Avancini passa por ser um espelho para jovens atletas, até mesmo crianças, estimulando as novas gerações a pedalar e, depois, pensar em competir profissionalmente. Ele já fez isso há alguns anos, dando mais atenção a aspectos envolvendo a preparação de atletas no Brasil – e não apenas a dele. Em 2015, com o auxílio do pai, Ruy, e de patrocinadores, o atleta criou um projeto em Petrópolis para ajudar no treinamento de novos ciclistas. Profissionais de diversas áreas, da preparação física à fisioterapia, passaram a fazer parte do cotidiano. O gerenciamento da carreira também passou a ser visto de maneira mais incisiva.
“Quando eu comecei a minha carreira e até mesmo nos estágios mais avançados, já como piloto de elite, tive muita dificuldade de manter profissionalmente no mountain bike. Hoje existe um mercado mais estruturado, um interesse e envolvimento do brasileiro de uma forma muito mais ampla em relação à bicicleta. Eu encarei as dificuldades lá atrás sem encarar um horizonte promissor. Ainda temos muitas barreiras para o começo da prática do ciclismo como um todo. Por isso que a gente pensa em como facilitar o acesso, por exemplo, à compra de equipamentos. Criar meios alternativos para que mais pessoas consigam trilhar esse caminho”, elucida o ciclista da equipe Cannondale Factory Racing.
Seu pai era dono de uma oficina de conserto de bikes e foi quem construiu a primeira bicicleta para o filho, a partir de sucatas. Após ser campeão em todas as categorias brasileiras de MTB, Avancini foi para Europa, onde se estabeleceu como um dos principais ciclistas de mountain bike em atividade.
“Eu cheguei ao ano dos Jogos Olímpicos como numero 1 do ranking mundial, venci a Copa do Mundo, e conquistei uma exposição muito crescente. Minha caixa de e-mail começou a bombar. Não tenho interesse de dar carona pra ninguém. Tive parceiros muito sólidos nessa jornada. Me senti numa situação muito confortável nesse ano olímpico”, acrescenta.
FAVORITO EM TÓQUIO – Henrique Avancini está na reta final de sua preparação para os Jogos Olímpicos. Ele assume a condição de favoritismo, embora tenha aberto mão de participar de quatro competições nos primeiros meses do ano devido à restrição que enfrentou para entrar em alguns países da Europa imposta pela pandemia.
“Voltamos a ter um calendário estruturado no exterior, mas enfrentei muitas restrições de viagem, o que acabou atrasando o meu desenvolvimento na pré-temporada. Venci a primeira prova que participei na Europa, mas tive muita dificuldade depois disso de me manter bem na preparação, principalmente devido ao frio na Europa”, diz Avancini, campeão da Copa do Mundo de XCO, disputada na República Tcheca, vitória que o levou ao topo do ranking da categoria.
O ciclista decidiu retornar ao Brasil neste momento para “conseguir dar mais qualidade” à sua preparação e deve terminar os treinos na Itália, antes de embarcar para a Tóquio. Lá, ele quer encontrar a sua “nova melhor versão”, como enfatiza, para fazer história e trazer a primeira medalha olímpica no ciclismo para o Brasil.
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