Ar-condicionado portátil e estação de resfriamento; calor preocupa na Olimpíada

O clima quente, úmido e abafado de Tóquio tem causado desconforto e provocado reclamações entre delegações estrangeiras dos Jogos Olímpicos. Na tentativa de minimizar os efeitos do forte calor, os organizadores já lançaram mão de várias medidas de emergência que incluem o fornecimento de bebidas especiais aos atletas, ares-condicionados portáteis e até a instalação de uma estação de resfriamento para cavalos que participarão das provas de hipismo.

Já era sabido que as altas temperaturas no Japão nesta época do ano poderiam incomodar, inclusive as provas de maratona e de marcha atlética mudaram para Sapporo, a mais de 800 quilômetros de distância da capital, em busca de um clima mais ameno. Mas uma combinação de fatores faz com que a sensação de calor seja ainda maior nos últimos dias.

No centro de Tóquio, os termômetros vêm registrando temperaturas entre 30°C e 35°C. A obrigatoriedade de uso de máscara, para lidar com o aumento de casos de covid-19 no país e permitir a realização de uma competição segura para todos, acaba fazendo com que a sensação térmica seja mais alta. A agência meteorológica japonesa Weathernews, inclusive, prevê que este verão será mais quente do que a média dos últimos anos, com picos de temperatura no final de julho e agosto, período de realização da Olimpíada.

Só para se ter uma ideia, no kit recebido por jornalistas logo na chegada do Centro de Imprensa da capital japonesa estão pastilhas de sódio. Os voluntários recomendam mastigá-las para rebater o excesso de hidratação, um hábito comum no Japão e indicado para lidar com o calor.

Arenas terão tendas sombreadas e até ventiladores de névoa. No atletismo, os atletas da equipe dos Estados Unidos usarão bolsas de gelo no peito e nas costas, como uma espécie de colete, para não deixar que a temperatura corporal aumente muito momentos antes das provas.

Palco das cerimônias de abertura e encerramento, além da maioria das provas de atletismo e algumas partidas de futebol, o projeto do novo Estádio Olímpico de Tóquio procurou dar ênfase à ventilação natural, aproveitando ao máximo o ar exterior para resfriar o seu interior. Há ainda arbustos espalhados pelos andares e a cobertura tem treliças de madeira e metal e trechos translúcidos.

“Foram realizados estudos abrangentes a respeito do calor, especificamente sobre como o corpo poderia ser resfriado e como poderíamos repor rapidamente tudo o que foi perdido no processo de suor. Por isso, vamos fornecer aos atletas bebidas especiais em pó que são projetadas para hidratar e energizar, além de materiais para refrigeração da cabeça, pescoço e mãos”, disse nesta terça-feira Masaaki Sugita, professor da Faculdade de Ciências do Esporte de Tóquio e membro do Comitê Olímpico do Japão.

Os atletas que estão desembarcando no Japão já estão sentindo o clima quente, que deve piorar com o aumento da umidade relativa do ar nos próximos dias. “Está bem abafado. Estamos treinando nos horários de pico do sol para adaptarmos nosso corpo e não sentirmos tanto o baque na hora do jogo. Estou acostumado, mas são condições difíceis”, afirmou o tenista Thiago Monteiro.

Manoel Messias, representante brasileiro no triatlo, fez a reta final de treinos no Havaí para se adaptar melhor ao clima do Japão. “A gente priorizou essa preparação no calor visando às condições que a gente encontrou no evento-teste em Tóquio, que realmente deixou todo mundo assustado. Ninguém esperava tanto calor”, comentou.

Cada competidor tenta se adaptar ao calor para conseguir um desempenho melhor nos Jogos. No surfe, por exemplo, o sol quente pode derreter a parafina da prancha e fazer com que o pé escorregue na hora das manobras. Para isso, surfistas estão tendo mais atenção no momento de passar o produto na prancha para evitar deslizes.

O calor é um problema histórico no Japão. Em julho de 2018, temperaturas superiores a 40ºC deixaram mais de 130 pessoas mortas devido à insolação. No ano seguinte, mais de 75 mil precisaram de atendimento de emergência nos hospitais em todo o país, com 118 mortes de junho a setembro. Já em 2020, foram quase 65 mil atendimentos médicos de problemas relacionados ao calor, com 112 mortes.

Quando Tóquio sediou os Jogos Olímpicos pela primeira vez, em 1964, o evento foi mudado para outubro por causa das altas temperaturas do verão da capital japonesa.

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